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“O custo da energia está muito impactado pela geração térmica”

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Karla Larissa – Repórter

O risco de uma crise no setor energético no Brasil é um dos assuntos que mais vem sendo discutido, atualmente. A falta de chuvas, nos últimos anos, é um dos motivos que tem causado preocupação, pois, a  energia hidráulica é ainda a principal fonte no país. Em entrevista à TRIBUNA DO NORTE, o diretor-presidente da Cosern, José Roberto Bezerra, afasta a possibilidade de desabastecimento energético ou racionamento. Mas admite que para suprir a demanda, diante da escassez da energia hidráulica, tem sido necessário aumentar a geração de energia térmica. O que, segundo ele, tem contribuído para o encarecimento da energia elétrica para o consumidor. Em abril, o reajuste médio da energia elétrica no Rio Grande do Norte foi de 12,75%. Para este ano, José Roberto prevê um investimento de R$ 220 milhões no estado, o maior já feito pela Cosern nos últimos cinco anos.
O presidente da Cosern fala sobre o momento atual do setor energético, sobre consumo, custos e investimentos
Qual o balanço do consumo de energia elétrica no ano passado? Foi dentro da expectativa?

Em 2013, tivemos um crescimento de 7,1 % no consumo total e de 10,35% no consumo residencial. Este crescimento foi dentro das nossas expectativas e do que havia sido posto nos orçamentos.

O crescimento da receita subiu na mesma proporção do consumo?
A receita tem um comportamento um pouco diferente do consumo. Nós tivemos no ano de 2013 uma revisão tarifária que aconteceu em abril. Essa revisão tem uma reestruturação completa na tarifa. As expectativas que nós tínhamos em 2013 ficaram um pouco diferentes, não foram atingidas em razão da revisão tarifária.

Foi feita uma revisão tarifária em abril deste ano também?

O que teve agora foi um reajuste. O setor tem dois mecanismos. A revisão tarifária,  no caso da Cosern, se passa a cada 5 anos. O nosso contrato de concessão prevê que a cada 5 anos, o regulador faça um estudo completo da área de concessão para essa chamada revisão. Com isso, a tarifa é trazida para patamares correspondentes aquele instante. Entre revisões existe o chamado reajuste, que foi o que aconteceu agora no dia 22 de abril. Esse reajuste leva em consideração os custos. Existe uma chamada parcela A, que são repassados os custos com compra de energia, com transmissão e outros fatores. E também a  parcela B, onde estão os custos da distribuição da energia. E isso é em cima, neste caso da distribuição,  de fatores de correção inflacionária. Já a chamada parcela A não, são em cima dos custos efetivos que estão acontecendo. Como por exemplo, há alguns meses, nós estamos com uma forte geração térmica que leva a um valor maior da energia comprada, então, esse custo foi considerado em parte nesse reajuste que nós tivemos.

O aumento deste ano foi de 11,4% para a baixa tensão, que engloba a conta de luz das residências e do comércio de pequeno porte – praticamente três vezes maior do que o aplicado em 2013, que foi de 3,84%. As  indústria também foram afetadas através do reajuste para consumidores de alta tensão, de 15,78%. É mais do que o dobro do reajuste de 2013, de 7,33%. Em média, o reajuste para o RN foi de 12,75%. O que motivou reajustes nessa proporção?
O ano passado foi a revisão tarifária, por isso, que não dá para comparar uma coisa com a outra, porque são instantes diferentes.

Mas por que foi tão diferente?

Esse reajuste trouxe para dentro da tarifa o custo da energia. O custo da energia está muito impactado pela geração térmica. Por conta do baixo volume dos reservatórios, então há uma necessidade de fazer um complemento de energia com a geração térmica. E ela é muito mais cara. Na hora que isso acontece é repassado para a tarifa, o que gerou esse percentual tão maior. Só para ter uma ideia, a parte que é de responsabilidade da distribuidora, o reajuste nosso ficou em 5,16%, comparativamente,  o IPCA do mesmo período foi de 6,15%, então a parte de reajuste que fica com a Cosern, ficou bem abaixo daquilo que foi o IPCA, mas a parte da geração, em questão da complementação térmica, teve um percentual de 12,1% acima, ou seja, precisou de uma recomposição bem alta.

Um estudo da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro divulgado esta semana mostra que  o custo médio da energia elétrica para a indústria brasileira passa de R$ 301,66 por MWh para R$ 310,19 por MWh. Com o aumento de 2,8%, o país mantém a 10ª posição em ranking internacional que contempla 28 países. O estado do Rio Grande do Norte passou da 19ª para a 14ª colocação após o aumento de 17% no custo da energia, por conta do reajuste da Cosern, segundo a Firjan. Como o senhor avalia os números?
O nacional é bem menor porque os dados mostram o momento em que  o estudo acontece. A pesquisa verifica as empresas, tanto as que já tiveram o reajuste, quanto as que não tiveram e faz a média. No caso, a Cosern acabou de ter o reajuste, por isso que o percentual daqui do Rio Grande do Norte ampliou tanto. Comparativamente com outro estado, que  também entrou na comparação e ainda não teve o reajuste em 2014. Então, a tarifa do outro estado tem  um percentual menor.

E esse ganho de posições no ranking? Da 19ª para a 14ª colocação?

Quer dizer que ainda temos uma tarifa, apesar do reajuste alto,  competitiva. Ou seja, o Rio Grande do Norte está ali no meio das tarifas do Brasil.

O uso de energia térmica (que é mais cara), no ano passado, chegou a ser apontado por outras concessionárias como um dos motivos dos aumentos aplicados este ano e o senhor também já citou que isso aconteceu no RN. Esse é um problema do país todo?
Isso, o Brasil inteiro sofre esse impacto e não apenas o Rio Grande do Norte. Aqui,  ainda temos fatores positivos que concorrem para que se tenha uma tarifa um pouco mais baixa. O fato de nós termos, hoje, na média, uma tarifa que ainda é competitiva, mas já mais alta do  que a média é justamente porque nós tivemos a revisão. Mas, por exemplo, aqui no estado nós temos um baixo índice de perdas de energia.   As perdas são fatores que também são considerados na tarifa. Então, a medida que a nós temos uma perda baixa, o repasse que é feito para a tarifa é baixo também. E isso ajuda para nós termos uma tarifa mais competitiva aqui no estado.

O estado é hoje um dos que mais geram energia eólica. E a eólica é uma das fontes de energia mais baratas no Brasil. Isso não ajudaria a aliviar o preço para o consumidor comum e a indústria?

Toda a energia que é gerada é comercializada e colocada naquilo que nós chamamos de sistema interligado nacional. O preço dessa energia compõe o mix como um todo. A energia eólica hoje tem um custo mais baixo que a energia térmica, que está tendo um impacto para a tarifa? É verdade. Mas este custo que ela tem mais baixo, ainda supera, por exemplo, o custo da geração hidráulica. Essa energia que é a mais barata que nós temos hoje na nossa composição de tudo que é colocado no sistema interligado. Então, no Rio Grande do Norte, essa geração eólica é importante, mas sob o ponto de vista local, ela ajuda tanto quanto ajuda todos os outros estados. Porque a energia que é gerada no Rio Grande do Norte, juntamente com a energia que é gerada no Ceará, em termos de energia eólica,  ela é injetada no sistema elétrico nacional e ajuda na composição do todo. Não especificamente no RN.

A Cosern enxerga vantagens nessa fonte de energia? A energia eólica, futuramente, deve ganhar mais espaço na composição da energia elétrica no Brasil?
A energia eólica já é presente e já está ampliada. A participação percentual da energia eólica da nossa matriz no Brasil tem crescido de maneira muito importante. Ainda é baixa. Mas com a construção de novos parques, tanto aqui quanto em outros estados,  essa energia será sim muito participativa, o que é muito importante porque vai ajudar ao Brasil a continuar tendo uma matriz energética limpa.

Desde 2013 fala-se muito sobre o que seria uma crise no setor energético brasileiro e em risco de desabastecimento. Há crise?
O operador nacional de sistema elétrico  vem administrando essa questão da escassez de geração hidráulica, através do aumento da geração térmica. E isso tem feito com que haja o atendimento ao mercado sem nenhuma necessidade de redução de carga, ou racionamento ou algo semelhante. operador nacional de sistema elétrico e pelo governo federal, através do Ministério de Minas e Energias, têm administrado isso com competência já que até hoje nós temos o atendimento pleno da carga sem nenhum problema. Nós como distribuidores, podemos dizer que nós temos a energia que o nosso cliente precisa para repassar.

Então, não há uma crise?

Não vou dizer que não há crise, mas que a administração está sendo feita pelo operador nacional de energia elétrica e que isso tem permitido que toda a carga seja atendida, sem necessidade de redução.

Existe algum risco de desabastecimento no RN?

Como estamos falando em sistema elétrico interligado, a dificuldade que o RN possa sentir vai ser a mesma que o estado da Bahia, Paraíba, São Paulo e Rio de Janeiro. Nós não temos hoje mais uma situação que diz que o Rio Grande do Norte tem ou não tem energia. O Rio Grande Sul tem ou não tem energia. O sistema é interligado. Então, tudo que houver de providências em razão de eventuais necessidades de redução vai ter que acontecer aqui no RN e em todos estados do Brasil. Não que isto tenha sido cogitado. Eu tenho acompanhado o que se passa no setor elétrico e nesse instante não se cogita fazer nenhum tipo de ação dessa natureza.

O programa Luz para Todos está completando 10 anos em 2014. Quais eram as metas do programa e quanto dessa meta foi cumprido?
Quando o Programa foi pensado há 10, 12 anos, o Rio Grande do Norte tinha uma carência reconhecida pelo governo federal de 30 mil ligações no meio rural. Ao longo desse período, nós atendemos essas 30 mil ligações e atendemos mais 20 mil. Isso em 2009. De lá para cá, os atendimentos rurais que eram necessários, nós atendemos sem o Programa. E este ano de 2014, o governo federal retomou o programa no RN, e nós temos a previsão de atendermos um resquício de ligações em torno de 4 mil unidades até o mês de dezembro.

Quantos por cento do estado é coberto hoje?

A gente pode dizer que hoje o Rio Grande do Norte tem um atendimento pleno, o que nós chamamos de universalizado. Essas 4 mil ligações, diante do universo que nós já temos de 1 milhão 270 mil consumidores, representam percentual baixíssimo. Essas ligações é que se espera até o final do ano. Com isso, o Luz para Todos seria concluído definitivamente.

Quanto a Cosern vai investir este ano?

Nos últimos 5 anos investimos muito próximo de R$ 1 bilhão, exatos R$ 942 milhões, o que dá uma média próxima de R$ 200 milhões ano, mas para 2014, reservamos nos nossos orçamentos  R$ 220 milhões. Teremos um investimento superior à média dos últimos 5 anos. É o maior volume de recursos que destinamos para um único ano em investimento. Esse dinheiro tem sido aplicado na expansão da rede, melhorias das instalações, renovação de frota, instalações físicas, agências, a própria sede está passando por uma melhoria. Todo o recurso vai ser revertido em melhorias do serviço para o consumidor.

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