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O desafio das redes sociais

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Juciano de Sousa Lacerda – prof. dr. mestrado em estudos da mídia da  UFRN

Em sua mensagem para o 47º Dia Mundial das Comunicações Sociais, antes de abdicar do papado, Bento XVI deu continuidade a reflexões pautadas nas mídias digitais e em suas formas originais de interação social. Publicado em 24 de janeiro, dia de São Francisco de Sales, padroeiro dos jornalistas, o Dia Mundial das Comunicações é comemorado este ano em 12 de maio. Desta vez, as redes sociais digitais são a pauta como possibilidade de “novos espaços de evangelização”. É importante ver que o texto as trata como digitais, pois as redes sociais sempre existiram como prática social, sendo anteriores ao já quase esquecido Orkut e aos evidentes Twitter, Facebook, Google +, Instagram etc.

O grupo de amigos que se reúne para um cineclube é uma rede social. As pessoas que fazem parte de uma ONG que defende o meio ambiente são uma rede social. Os amigos que jogam bola juntos, toda semana, são uma rede social. A diferença é que essas redes se conectavam de outras formas: telefone, boca-a-boca, cartas, reuniões periódicas etc. A novidade é a capacidade de conexão do digital: a digitalização da comunicação e o desenvolvimento de complexos softwares multimediáticos capazes de conectar muitas pessoas, ao mesmo tempo, em espaços totalmente distintos e, geralmente, longínquos.

Essa conexão imediata de distâncias coloca em jogo a discussão sobre a alteridade. Quem é o outro, que agora está próximo e compartilha do que escrevo, do que filmo, do que fotografo? Bento XVI toca num ponto importante: “nestes espaços não se partilham apenas ideias e informações, mas em última instância a pessoa comunica-se a si mesma”. A esperança do Papa Emérito é que essas redes sociais possam, acima de tudo, proporcionar o diálogo. “Tal diálogo e debate podem florescer e crescer mesmo quando se conversa e toma a sério aqueles que têm ideias diferentes das nossas”, conjectura.

Quando acompanhamos as “time lines” (linhas do tempo) de nossas redes sociais, parece que a realidade depõe contra as esperanças do bispo emérito de Roma. Muitas vezes, parece que muitos interagentes assumem papéis/personagens que são incapazes de respeitar opiniões divergentes, chegando ao extremo de xingamentos e impropérios. Atacam todos aqueles que lhe são diferentes, não há alteridade, não há respeito mútuo. Claro que esse tipo de prática não corresponde à totalidade das redes sociais digitais, caso contrário já teriam implodido. Mas são em número significativos.

Outro desafio ao desejo de Bento XVI de que as redes possibilitem o diálogo e o debate equilibrado, em que todos são capazes de se manifestar como são, é o fato de que muitas dessas redes possuem complicados mecanismos de política de privacidade ou de direitos sobre o que é publicado. Se a pessoa não fica atenta, muitos dados seus se tornam acessíveis a diferentes interesses de mercado, e ela ainda corre o risco de perder o direito sobre os materiais que publica, como fotos e vídeos. Nesta semana, o governo britânico aprovou um decreto-lei, que ficou conhecido como “Lei Instagram”, no qual imagens, fotos e ilustrações publicadas na internet ganharam uma maior flexibilização para que sejam usadas sem autorização do autor. Ou seja, se o Facebook quiser vender uma imagem que está em seu sistema e fizer uma busca, mas não identificar o autor, poderá usar a imagem assim mesmo.

Se este modelo de legislação se espalhar pelo mundo, as pessoas podem ficar reticentes sobre o compartilhar e socializar informações e dados, pondo em risco a solidariedade informativa, subjugada pelas leis do mercado, que tenta sempre mais controlar as redes sociais.

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