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O desafio do crescimento

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Renata Moura e Andrielle Mendes – Editora e Repórter de Economia

Uma enxurrada de indicadores divulgados nas últimas semanas revela que o Rio Grande do Norte e o Brasil estão crescendo menos. Mas há soluções. E é isso o que a TRIBUNA DO NORTE mostra a partir deste domingo, numa série de reportagens que começa apontando os caminhos para recobrar o fôlego por meio de uma área básica: a formação de mão de obra.
Indicadores vêm mostrando menor crescimento no RN e no Brasil e a formação de mão-de-obra é um dos caminhos utilizados para essa recuperação
No RN, há espera por mão de obra e crescimento

Há fila. No Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) do Rio Grande do Norte, as salas de aula já não comportam a quantidade de alunos em busca de formação em atividades ligadas à construção civil e à tecnologia. Os espaços deverão expandir. No Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac), estudantes de gastronomia correm atrás do diploma e de oportunidades em um setor que cresce e em que a demanda é maior do que a oferta de profissionais. Há, no Rio Grande do Norte, uma corrida por qualificação. O ritmo dessa corrida ainda é, porém, menor do que as necessidades do mercado. E esse descompasso é um dos “nós” que não só o estado, mas o país, precisam desatar para recobrar ritmos mais fortes de crescimento. É que nos últimos anos, o ritmo diminuiu. E o pior, em estados e países concorrentes, continuou avançando.
Centro de Tecnologias Aluízio Alves: o prédio atual, na avenida Salgado Filho, já não atende a demanda
No caso do Rio Grande do Norte, indicadores divulgados nas últimas semanas mostram que  o estado está crescendo menos e que está menos competitivo frente a vizinhos como Paraíba, Ceará e Pernambuco. Trata-se de uma inversão de papéis em um cenário  em que o Rio Grande do Norte  costumava ser protagonista.

No período de oito anos compreendidos entre 1995 e 2002, nenhuma economia da região e nem o país cresceram tanto quanto o RN, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.  Enquanto o estado avançou 24,51% no período, vizinhos como o Ceará e Pernambuco nem sequer alcançaram o patamar de 15%. Boa parte da expansão da economia potiguar era creditada ao desenvolvimento da indústria do petróleo. Com a queda na produção em decorrência do amadurecimento dos campos, a indústria, porém, perdeu força. Outras atividades econômicas de peso  desaceleraram e o resultado dessa equação foi uma inesperada marcha lenta para o RN.

Entre os anos de 2002 e 2010, o  Produto Interno Bruto do RN, que mede o ritmo da economia, avançou 30,9%. Em estados como Ceará e Pernambuco, o ritmo superou 40%. O crescimento potiguar foi o mais baixo do Nordeste e o quarto menor do Brasil nesse período. Em oito anos, o país cresceu 37,1%.

Investimentos realizados nos vizinhos e deficiências na infraestrutura potiguar estão entre as possíveis razões para a perda de ritmo, diz o economista e chefe do IBGE no RN, Aldemir Freire.

Mas há soluções, dentro e fora das empresas. “Investir em gestão, inovação, capacitação, crédito e acesso ao mercado é a fórmula do crescimento para qualquer instituição”, diz o presidente do Sistema Fecomercio, que engloba as atividades de comércio, serviços e turismo no Rio Grande do Norte, Marcelo Queiroz. De acordo com ele, a aplicação de princípios de gestão empresarial, investimento em inovação e capacitação, acesso ao crédito com taxas de juros adequadas e acesso ao mercado são os ingredientes para uma atuação sustentável, possibilitando um crescimento com bases sólidas e que se reflita também na melhoria de indicadores sociais.

Salários baixos revelam carências no Estado

No âmbito do trabalho, há  avanços a comemorar no Rio Grande do Norte, mas “nós” a desatar também não faltam. O número de trabalhadores com carteira assinada no estado, segundo levantamento do governo do estado, com base em dados do Ministério do Trabalho e Emprego, cresceu 82,3% entre os anos 2000 e 2010, o que significou um incremento de 259.538 postos de trabalho, no período. No Brasil e no Nordeste, o avanço foi, respectivamente, de 68% e 83,1%.

Dados também do Ministério do Trabalho e Emprego, mostram, entretanto, que o estado detém um dos menores ritmos de crescimento do país, atualmente, nesse quesito.
James Wright: É preciso investir em educação em todos os níveis
Um outro indicador reforça que é preciso recuperar o fôlego. O Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal 2012, que avalia as categorias Saúde, Educação, Emprego e Renda, revelou que o RN está entre os seis que menos cresceram na categoria Emprego e Renda entre 2000 e 2010. A categoria, que avalia número de empregos formais, ‘estoque’ de empregos, e remuneração média, pesou contra o estado, que subiu apenas uma posição no ranking geral em 2010 – os vizinhos Piauí e Ceará escalaram seis posições. No Nordeste, o RN só ficou na frente da Paraíba, que despencou 12 posições no ranking nacional, e de Alagoas, o pior do país neste quesito.

“O estudo da Firjan sintetiza informações de emprego, renda e salários. É problemático porque ao juntar muitas variáveis deixa de mostrar a expansão ou retração de algum item. No nosso caso, o emprego está crescendo, mas as variáveis “salários” e “rendimentos” puxam a média do indicador para baixo”, diz Wilton Gomes da Silva, da subcoodenadoria do Trabalho e Renda do Sistema Nacional de Emprego (Sine), vinculado ao governo do estado. O estado, reconhece ele, tem uma das mais baixas estruturas salariais do país.

Nos últimos dez anos, o rendimento médio mensal dos trabalhadores avançou mais no Rio Grande do Norte do que no no Brasil, de acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, do IBGE. Ainda assim, o estado detém uma das menores médias de remuneração para quem está entrando no mercado de trabalho. A baixa remuneração inicial está relacionada  a pelo menos dois fatores: a baixa qualificação da mão de obra e ao fato de  os principais empregadores do estado serem setores como comércio e serviços, diz o economista e chefe do IBGE, Aldemir Freire.

“É preciso atrair indústrias, investir em segmentos que absorvam essa mão de obra e garantam salários mais altos. Caso contrário, outros estados farão isso e levarão o pessoal que se qualifica aqui”, diz Freire. Melhorar os indicadores da educação, e consequentemente, de Emprego e Renda, leva tempo, reconhecem os especialistas. Mas uma série de políticas públicas podem, se não apressar, ao menos garantir os resultados. Embora o Brasil necessite principalmente de técnicos para atender à demanda do país por crescimento, os analistas defendem políticas que contemplem desde a educação básica, passando pelo ensino fundamental, médio, até o superior.

James Wright, coordenador do Programa de Estudos do Futuro da Fundação Instituto de Administração da Universidade de São Paulo, concorda que o Brasil precisa de técnicos para crescer, mas afirma que o país não pode descuidar dos ensinos fundamental e médio. Segundo ele, é necessário incluir no currículo disciplinas que orientem para o ensino profissionalizante.Guilherme Mercês, gerente de Estudos Econômicos do Sistema Firjan, concorda com Wright e também defende uma maior valorização da educação básica. Para Marcelo Queiroz, empresário e presidente da Fecomercio/RN, trata-se de estabelecer prioridades. “É preciso priorizar a educação no plano de governo, incentivar a execução dos programas nacionais voltados à educação – a exemplo do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec) – e estreitar parcerias com as instituições que investem em capacitação”, defende.

Gestão

Mudar o status da Educação no Brasil não é uma tarefa fácil, afirma Wright. “Mas a Coreia estava no mesmo patamar que o Brasil nos anos 60 e hoje é um dos países mais desenvolvidos nesta área”, pondera. Para chegar lá, nem é preciso investir muito – os Estados dizem que não podem investir mais do que já investem com a queda crescente nos repasses do governo federal. Bastaria, dizem os analistas, melhorar a gestão dos recursos. “O Brasil está gastando uma soma razoável com a Educação. O problema não é investir mais, é investir de forma adequada”, afirma Wright. “Sabemos que a educação não é uma coisa que se melhora do dia para noite. As ações, que precisam ser consistentes, só vão apresentar resultados em pelo menos 15 anos”, afirma Afonso Avelino, diretor regional do Senai RN. Para William Pereira, doutor em Ciências Sociais, professor do departamento de Economia e coordenador do Grupo de Estudos e Pesquisas em Espaço, Trabalho, Inovação e Sustentabilidade da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), o processo é lento, mas ele precisa ser intensificado.

Educação é ponte para crescer

Joebson Mousinho da Silva Pinheiro, 18, sempre soube que a educação era o caminho, se não mais rápido, pelo menos mais seguro, para o crescimento. Há sete meses estuda para ser assistente de obras e têm altas chances de sair do curso empregado. O estudante sabe que quanto maior a qualificação, melhores as condições de emprego e renda. O mesmo vale para estados e municípios, que têm na Educação uma ponte para o desenvolvimento. “Uma mão de obra qualificada ajuda a aumentar a produtividade das empresas já instaladas e a atrair novas empresas, que pagam mais impostos, e ajudam a desenvolver a região”, explica James Wright, professor doutor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (USP) e coordenador do Programa de Estudos do Futuro da Fundação do Instituto de Administração da USP.
Joebson Mousinho Pinheiro: curso para aproveitar o momento aquecido da construção civil
Para Marcelo Queiroz, empresário e presidente do Sistema Fecomercio, trata-se de um círculo virtuoso: “o crescimento econômico está estreitamente vinculado à oferta e a demanda de capital humano qualificado, que, sendo abundante, propicia uma maior produtividade às empresas e, consequentemente, resultados financeiros positivos. Isso produz receita para o estado, conserva os índices de geração de emprego e renda, mantendo a economia aquecida”, afirma. 

A explicação mostra que ninguém cresce sem investir em qualificação, como afirma Guilherme Mercês, gerente de Estudos Econômicos do Sistema da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan). Basta observar os números. O Brasil vem perdendo a corrida da competitividade nos últimos dez anos para países como China, Índia e Coreia, que tem encarado a Educação como prioridade, alerta Wright. Uma pesquisa da PricewaterhouseCoopers mostrou que há dez anos a produtividade no Brasil cresce a uma média de 1,5% ao ano, enquanto a da China cresce a 9% ao ano, a da Índia, a 6%, e a da Coreia, a 3%.

O Rio Grande do Norte não foge à regra. Embora tenha avançado duas posições em estudo realizado pelo grupo inglês Economist Intelligence Unit e patrocinado pelo Centro de Liderança Pública (CLP), o RN ainda é considerado um dos estados menos competitivos do país.

O estudo mostra, entre outras coisas, que o principal gargalo do RN é a inovação, ligada diretamente a área da Educação. Das oito categorias avaliadas, foi nesta em que foi registrado o menor índice: 15,0 – segundo resultado mais baixo do Nordeste. Uma série de indicadores divulgados nas últimas semanas têm mostrado que o RN está crescendo menos do que os outros estados.
Uma das razões para o desempenho abaixo do esperado na área de emprego e renda, segundo Guilherme Mercês, gerente de Estudos Econômicos do Sistema Firjan e coordenador da pesquisa, é justamente a falta de investimento e políticas públicas voltadas para a Educação, que se reflete diretamente no mercado de trabalho.

Para Marcelo Cortês Neri, presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em artigo publicado no Valor Econômico, a educação é a principal rota para se ampliar a produtividade da economia e chegar ao desenvolvimento. “Sem uma força de trabalho escolarizada, restringem-se as possibilidades de dinamizar e agregar valor à estrutura produtiva brasileira”.

Setor produtivo faz fila por qualificados

15h30: aula na cozinha-laboratório do Senac Centro. Hora de apresentar e degustar os pratos preparados sob a supervisão da instrutora de gastronomia Elizabeth Assunção. Dois alunos se destacam. Eles explicam como prepararam e as escolhas que fizeram para o prato. Sérgio Henrique Bulhões, 36, é administrador e dono de uma empresa na área de Telecom há seis anos. Ana Carolina Oliveira, 32,  estudava Matemática em Brasília até bem pouco tempo.
Ana Catarina dos Santos considera curso técnico fundamental, mas quer chegar também à universidade
Os dois se matricularam no curso para cozinheiro e se preparam para entrar num dos mercados que mais crescem, dentro do ramo de comércio, serviços e turismo, em Natal. Segundo a instrutora, que se formou em Administração e migrou para a área de Gastronomia, a procura por este tipo de profissional é grande. “Há duas semanas, um hotel pediu para encaminharmos 10 cozinheiros. Encaminhamos apenas cinco. Não tínhamos mais profissionais para encaminhar”, relata ela, que diz que a situação é recorrente. “A gente não dá conta da demanda”.

Marcelo Queiroz,  presidente da Federação de Comércio de Bens, Serviços e Turismo do RN (Fecomércio/RN), confirma que a função de cozinheiro é uma das mais procuradas pelos empresários no estado. “De forma geral, as atividades mais demandas estão na área de vendas, atendimento e informática, bem como aquelas relacionadas às atividades turísticas, como cozinheiro, garçom, recepcionista em meios de hospedagem, camareira, vendedores. Com a Copa do Mundo de 2014, haverá um aquecimento natural dos setores de comércio, serviços e turismo, bem como uma grande demanda por profissionais com conhecimentos de outros idiomas”, afirma.

Na indústria, também há fila de espera por profissionais qualificados. No Centro de Educação e Tecnologias em Construção Civil “Rosária Carriço”, 12 empresas solicitaram jovens formados pelo Senai. O pedido foi feito há seis meses e  sete empresas ainda não foram atendidas. “Os jovens ainda estão sendo formados”, explica Adriana de Castro Martins, supervisora pedagógica da unidade. Joebson Mousinho da Silva Pinheiro, por exemplo, só deve terminar o curso de assistente de obras no ano que vem. Depois de cursar hotelaria no Senac, ele, que sempre gostou de construção civil, decidiu mudar de área. Embora ainda esteja longe de concluir o curso, se mostra entusiasmado com o mercado. “A área está bastante aquecida”. O número de médias e grandes empresas atendidas subiu de 5 para 75 entre 2010 e 2012 (considerando, no último ano as atendidas até setembro). Ainda há muito a ser feito.

O Mapa do Trabalho Industrial 2012, elaborado e recém divulgado pelo Senai nacional, revelou que o Brasil terá de formar 7,2 milhões de trabalhadores em nível técnico e em áreas de média qualificação para atuarem em profissões industriais até 2015.

Vagas em cursos e matrículas avançam nas instituições do RN

A busca por mais  competitividade tem gerado uma corrida por qualificação. De olho no crescimento da demanda, instituições que atuam na formação da mão de obra, como o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac), estão ampliando a oferta de vagas. Só no Senai RN, o número de vagas ofertadas deverá subir 34,1% no próximo ano e 58,5% em 2014, quando chegará a 65 mil. A expectativa é que 41 mil alunos se formem este ano pelo Senai no estado, diz Afonso Avelino, diretor da instituição.

Novos cursos também estão sendo criados conforme a necessidade do mercado. O caso mais clássico são os cursos oferecidos pelo Centro de Tecnologia do Gás e Energias Renováveis (CTGás-ER), na área de Energias Renováveis. A área é nova e por isso muitos ainda estão sendo capacitados. Para viabilizar os projetos, empresas como a Wobben, precisam formar profissionais já na linha de produção.

A Casa Grande Mineração (CGM), maior empresa de beneficiamento de feldspato no Brasil, com sede no RN,  também enfrentou dificuldades para contratar mão de obra especializada. Teve de terceirizar parte dos serviços e trazer profissionais de fora. Com a estratégia, preencheu boa parte do quadro, mas atrasou a operação da fábrica em sete meses. O adiamento, resultado da escassez de mão de obra qualificada no RN, encareceu o projeto em 15%, disse João Leal, diretor da CGM, à época da inauguração.

Adaptando

Em Natal, a Petrobras pediu ue o Senai adaptasse o curso de Suporte e Manutenção de Micro para Suporte e Manutenção da Informação e capacitasse seus ‘jovens aprendizes’ por um ano. Os jovens já foram selecionados e estão na sala de aula. Quando terminarem o curso, já terão destino certo: a estatal. Ana Catarina dos Santos, 17 anos, é uma das selecionadas. A jovem que concluiu o 3º ano do Ensino Médio, também pretende ingressar no ensino superior. “Considero o ingresso no ensino técnico fundamental”, afirma.

 O número de matrículas no estado também tem subido. No Centro de Educação e Tecnologias em Construção Civil “Rosária Carriço”, unidade do Senai especializada em Construção Civil, o número de alunos matriculados passou de 1.005 para 2.419 entre 2010 e 2011. O centro, criado em 2001, foi transferido para um prédio maior, em Nova Parnamirim, há um ano. A unidade já negocia a aquisição de um terreno maior para instalar um novo canteiro de obras, onde os alunos exercitam o que aprendem na sala de aula. O atual já não comporta tantas turmas.

O Centro de Tecnologias em Informática Aluízio Alves, unidade do Senai que oferece cursos nas áreas de telecomunicações, automação industrial e tecnologia da informação, passa por um processo semelhante. O prédio atual, localizado na avenida Salgado Filho, já não atende a demanda atual. Um exemplo disso são os laboratórios de informática. O número de computadores por sala passou de 12 para 20, em dois anos, afirma Welisson Rocha, vice-diretor da unidade. “Já não há mais espaço para novos micros”.

Nas universidades a demanda também cresce. A Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), que assistiu a expansão do número de vagas com o Reuni – Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais, depois de 2008, passará por um novo processo de expansão. A possibilidade começa a ser discutida e pode atingir cursos como o de Engenharia Civil, que forma 100 profissionais, por ano. Desde 2002, o curso é um dos que mais formam profissionais, no âmbito das engenharias. Alessandro Câmara, arquiteto, mestre e doutor em Desenvolvimento Urbano e chefe do Departamento de Engenharia Civil da UFRN, não sabe informar quando a expansão ocorrerá, mas reconhece que ela é necessária. “Há demanda. A questão é apenas expandir com critério para manter a qualidade”, afirma.

Para analistas, qualificação tem de ser casada com outras ações

Para os especialistas, no entanto, investir em Educação não basta para desenvolver um estado. “Não resta duvida que uma mão de obra qualificada seja um diferencial na atração de novos negócios, mas só ela não deve ser a responsável pelo tamanho deste crescimento. O crescimento precisa de uma política de desenvolvimento econômico e  de uma série de outros investimentos em diversas áreas como a industria, o turismo e o comércio, atrelado a isso a qualificação constante dessa mão de obra”, diz Wilton Gomes da Silva, do Sine.
Elizabeth Assunção, instrutora do curso de Gastronomia, do Senac: número de profissionais formados ainda não atende ao mercado
Aldemir Freire, economista e chefe do IBGE no RN, faz coro e diz que qualificação é importante para o estado não perder competitividade, mas que é preciso ir além. “É preciso ter mão de obra qualificada, mas também um mercado de trabalho que absorva essa mão de obra, que permita que se tenha aumento de produtividade e ganho salarial”, afirma.

Segundo ele, para ter qualificação e mercado de trabalho caminhando no mesmo ritmo, é necessária uma política nacional de desenvolvimento que garanta crédito diferenciado nessas regiões, investimentos nas áreas científica e tecnológica, em infraestrutura, além de transferências de renda mais expressivas. Estado e Municípios também precisam fazer a sua parte. “É necessário dotar o estado de infraestrutura e de uma legislação tributária e fiscal mais significativa”, completa.

Indicadores divulgados nos últimos anos mostram que o RN também não vai bem nestes quesitos. De acordo com a primeira edição do Ranking de Gestão dos estados brasileiros, elaborado pelo grupo inglês Economist, o Rio Grande do Norte ainda não estava preparado em 2011 para receber o fluxo de investimento estrangeiro previsto para os próximos anos com a estabilidade econômica interna e a proximidade da Copa de 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016.

O estado aparecia na pesquisa como um dos piores ambientes de negócios no país, ocupando a 23ª colocação no ranking geral. O RN ficou abaixo da média nacional nas oito categorias avaliadas, incluindo ambientes político e econômico, política para investimentos estrangeiros, infraestrutura, recursos humanos, sustentabilidade, tributos e inovação. Na categoria infraestrutura, obteve média zero, junto a outros nove estados. Além disso, ficou entre os sete piores em incentivos para investimentos e políticas para (atração de) capital estrangeiro. A edição 2012 mostrou que estado avançou algumas posições no último ano, mas continua sendo um dos estados menos competitivos do país.

‘Precisamos de uma política nacional’

entrevista/Aldemir Freire/economista e chefe do IBGE no RN

O número de pessoas com 15 anos ou mais de estudo dobrou no Rio Grande do Norte na última década, crescendo a um ritmo de 7,34% ao ano – o que mais avançou em meio à população com 10 anos ou mais ocupada, de acordo com dados do IBGE. “Você tem exigência maior do mercado, de um lado, e, de outro, uma mão de obra que está se qualificando mais, diz o economista e chefe do IBGE no RN, Aldemir Freire. A qualificação, diz ele, é importante para o crescimento do Estado e do país, mas deve vir acompanhada de outros investimentos e ações. É o que ele explica nesta entrevista.

Do que o Brasil e o Rio Grande do Norte precisam para crescer?

Políticas de crédito, de aumento de salário mínimo, de distribuição de renda e combate à pobreza são fundamentais e precisam continuar. É preciso avanço no sentido de aumentar o nível de investimentos públicos e privados, em áreas como infraestrutura, educação, tecnologia e adensamento de cadeias produtivas. É preciso estimular a competitividade externa, evitando que o dólar volte para o patamar abaixo de R$ 2. Qualificação de mão de obra também é fundamental.

Qual é a importância da formação de mão de obra nesse contexto?

A oferta de mão de obra qualificada é um aspecto importante para o estado não perder competitividade, mas só isso não é suficiente. Porque não é porque eu tenho mão de obra qualificada que vou ter investimentos.  Precisamos ter mão de obra qualificada, mas também um mercado de trabalho que absorva essa mão de obra, que permita que se tenha aumento de produtividade e aumento salarial. Porque aí teria crescimento da qualificação com aumento de renda do trabalhador. E não com concentração de renda.

Vemos hoje uma corrida por qualificação, da parte dos trabalhadores. Então deve haver também uma corrida por parte do poder público. É isso?

Existe corrida do trabalhador para se qualificar, mas deve existir corrida do Estado para atrair novas empresas que absorvam essa mão de obra que está se aperfeiçoando. A mão de obra está passando por transformações. É mais qualificada do que era há 10 anos e daqui a 10 anos será ainda mais. Precisamos de um mercado de trabalho que acompanhe esse dinamismo. Se não investirmos em segmentos, em empresas que absorvam essa mão de obra, outros estados farão isso e levarão o pessoal que se qualifica aqui. É a questão dos institutos federais  e universidades do interior. Angicos, Pau dos Ferros, Caraúbas, por exemplo. Esses mercados locais não vão absorver a mão de obra que estão formando. As instituições de ensino não vão conter a migração desse jovem por si só. Vão talvez retardar um pouco, porque ele fica até o ensino superior, e agora vai migrar qualificado. O jovem está se qualificando para o país.

O que fazer para que a formação de mão de obra caminhe no mesmo ritmo do mercado de trabalho?

É preciso investir em uma política nacional de desenvolvimento que dê conta de crédito diferenciado nessas regiões, de investimentos nas áreas científica e tecnológica, investimentos em infraestrutura e transferências de renda mais expressivas. E precisa que localmente tanto estados quanto municípios também atuem  para dotar seus espaços de infraestrutura, para ter legislações tributária, fiscal, mais significativas. É preciso investir em setores que pagam melhor, como a indústria. Porque se os setores de comércio e serviços continuarem como carros-chefe da geração de empregos nossos salários serão sempre menores.

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