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O dia de Ticiano

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Luiz Antonio Porpino
pesquisador

Ticiano, quer dizer Venerável (In “Origens e Significados de 8 mil Nomes”, Ed. Escala SP, 2000), e o “Dicionário de Nomes”, do Con. Jorge O’Grady, nos ensina que “Ticiano é derivado de Tício que se inspirou em temas históricos”. Muitas singularidades cercaram o Ticiano que conheci. Em oito décadas de intensa vida, o Ticiano que conheci teve, sempre, como uma das suas marcas o bom humor. Sempre bem informado, estudioso/culto, telúrico por excelência, boêmio precoce, bate-papo agradável e a fidelidade às amizades foram o “norte” de sua trajetória. De memória excepcional, Ticiano usou esse dom para comentar, criticar, escrever, registrar e avaliar fatos em que ele, na maioria das vezes, esteve presente.

Natal, sempre foi sua escolhida, mas, Mossoró, Canguaretama e Nova Cruz, destinos iniciais que se estenderam para o Rio, Recife e São Paulo também compunham sua geografia sentimental. A política estudantil, o ingresso na Faculdade de Direito de Maceió, a escolha para dirigir entidades oficiais ou não, compôs um vasto currículo que encheu de orgulho familiares, amigos, subordinados e sua “maior nação”: a Maçonaria. Memorialista, conviveu com as mais heterogênicas galeras: por exemplo, estudioso da “Escola dos Annales” (Francesa, entre 1929-1989), adaptou-se, sem traumas, à “Escola dos Analfas”; fugiu do destino natural de ser “Adjunto de Promotor”, quando aprovado em Direito (ele e Woden); manteve o branco como indumentária contumaz e estendeu sua participação juvenil às tardes, noites e madrugadas universitárias. Cultuou e cultivou a universalidade, para atender sua imensa curiosidade. Bom gourmet, preso ao consumo cervejeiro, depois optou pelo whisky, cuja influência, gostava de curtir com seus companheiros inseparáveis: Ney Marinho, Tales Ramalho, Odilon Ribeiro, Raimundo do Cartório, Armando Fagundes, José Aurélio, Roberto Varela.

A santa boemia cultivada por Ticiano, era complementada com a presença nos melhores ambientes: restaurantes e bares. O Bar de Ovídio, Nemésio, “É Nosso”, Toca do Cigano, Iara Bar, Cirne (Zé Américo com cerveja e “molho inglês” de Santa Cruz), Peixadas (Comadre, Arnaldo, Português, Piaba), Carne de sol (Marinho e Lira), Galinha de Mãe, Chico Chopp, Drive In, Xique Xique, Pérola, Sambura de Firmino Moura, em todos esses ambientes, Ticiano era presença obrigatória.

Na passagem pelo Rio, anos 50, Ticiano era hóspede de Dona Rosa Brandão (Tia de Ell), que acomodava natalenses na Avenida Calógeras, Nº 6, ao lado do novo Ministério da Educação. Sobre a capital carioca, Roberto Mariz, Carlos e Hélio Fernandes, Walter Fontura, e a figura ímpar de José Maria Guilherme, (que após o expediente do 22º Cartório) formava um grupo que saia em busca do Clube da Bola Sete, Estudantina Musical, Espaguetilândia e, parada obrigatória, o Itajubar, estendendo para Copacabana, voltando – de bonde, depois da 4 da matina – “pegando o Jornal do Brasil e o Globo” na banca do Hotel Serrador. Sempre fazendo a alegria dos notívagos, Ticiano alongava e tornava as noites mais deliciosas, aconchegantes, alegres e iluminadas.  Registre-se: Ticiano não foi afeito a arte de dançar, mas sua alma gêmea – Agenor Galliza – colocava “rulimã nos pés” (segundo de Manoel de Brito.) e era pé-de-valsa. Amigos, os dois tinham características ímpares: nunca foram vistos com os cabelos assanhados..

Ticiano amava as águas – rio e mar – por isso foi homenageado pelo seu poeta preferido (Gilberto Avelino), no seu “Diário Náutico” (Ed. Sebo Vermelho) com o poema Rio: … “Choras e trabalhas sem o gesto da recompensa, Eu me faço operário das tuas águas..”

Woden Madruga, tomou com Ticiano seu “último whisky”, numa amizade de 70 anos, quando Djalma Maranhão era celebrado na Pipa. Na quinta-feira que antecedeu seu falecimento, estive com ele por duas horas na Loja Maçônica da Romualdo Galvão, numa reunião informal com os “irmãos” (Clóvis Freire, Antônio Teixeira e Manoel Gomes). Foi a última presença num ambiente maçônico. E hoje – 20 de agosto – é o Dia do Maçon, portanto, também Dia de Ticiano.

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