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O fator PT

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Adriano de Sousa
Jornalista

O prefeito Carlos Eduardo e o governador Robinson Faria já deitam cartas no pano verde de 2016 em Natal. De moto próprio ou com o adjutório de comensais do mugunzá do poder, que vocalizam os interesses dos dois na largada da jogatina.

Motivações e estratégias divergem, mas as táticas de ambos convergem para o mesmo alvo: o PT, que perus apressados põem desde já como ‘mico’, descartando as lições do baralho do Senado em 2014. Apesar dos truques dos carteadores de Wilma de Faria, não houve então como reduzir Fátima Bezerra ao demonizado naipe petista. Com um trunfo incontrastável – sua história de honradez pessoal –, ela desmontou o blefe moralista e arrastou a mesa.

A Carlos interessa faturar o desgaste gerado pelos erros do PT e  fermentado por um ‘agendamento’ contínuo sem precedentes na mídia de todos os quadrantes. Parênteses: se o leitor interessar-se por conhecer melhor a mecânica desse carteado com a opinião pública, recomenda-se o livro A Teoria da Agenda, do americano Maxwell McCombs, em edição brasileira da Vozes.

Ao replicar no plano local a polarização com o PT, Carlos navega na corrente majoritária de opinião e espera colher muitos dividendos. Um deles é prevenir os efeitos eleitorais da baixa capacidade de realização no atual mandato, atribuindo-a em parte à falta de parceria federal.

Outro dividendo é impedir que Rogério Marinho, nosso mais recente arauto da moralidade, monopolize a pregação antipetista, que se revelou improdutiva para a ex-mentora do tucano. Risco idêntico ronda o dividendo maior ansiado por Carlos: desgastar previamente a candidatura de Fernando Mineiro, que exibiu em 2012 fôlego de chegada que o credenciaria, em circunstâncias normais, a ser o principal oponente do prefeito em 2016.

É certo que o desgaste cumulativo do PT será obstáculo bem maior do que foi para Fátima. Esta, aliás, é a esperança que Robinson acalenta para induzir Mineiro a desistir, resolvendo assim o problema que o próprio governador criou ao proclamar, quase dois anos antes da eleição, que apoiaria o petista.

Só a embriaguez da vitória explica que um recém-eleito abrace com tanta antecedência um nome que não possa remover mais tarde. E Robinson não pode. A candidatura transcende o desejo pessoal de Mineiro, as alianças momentâneas e até a aridez do cenário em que se dará. Ela é inescapável, como parte da estratégia do partido para emergir do volume morto em que se encontra. Ou o PT local continua no jogo, apesar da péssima mão, ou definhará, desperdiçando as fichas que acumulou nas duas últimas eleições.

Além de exibir açodamento incompatível com o traquejo político, o anúncio prematuro revelou outro equívoco de percepção, que o governador agora tenta corrigir: apoiar Mineiro significaria fortalecer o PT no maior colégio eleitoral do estado, com implicações na reeleição do próprio Robinson. Ou alguém duvida que Fátima Bezerra será candidata ao Governo em 2018, pela mesma razão que Mineiro será agora e com o estímulo extra de, em caso de derrota, contar com mais quatro anos no Senado?

Pelo sim, pelo não, Robinson sinaliza que vai diversificar seu baralho, incluindo nele os coringas Wilma e Luiz Almir, objetos de afagos públicos e privados. E sabendo que, como governador, tem cacife para tirar da manga ases do naipe de Rogério Marinho e Kelps Lima.

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