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O foco é ocupar as áreas onde existe infraestrutura

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ENTREVISTALarissa Dantas • Vice-presidente do Sinduscon-RN

Depois de um crescimento acelerado entre os anos de 2004 e 2010, que provocou a mudança definitiva da paisagem da cidade, o setor da construção civil pisou no freio e mudou para uma marcha mais lenta. Os índices do setor registrados no Rio Grande do Norte este ano não são divulgados abertamente pelo setor que admite a mudança de cenário, mas prefere enxergar uma oportunidade para adoção de medidas estratégicas para investimento. É época para analisar o mercado com cautela e esvaziar o estoque acumulado. A consequência é um momento único para quem pretende comprar um imóvel seja para morar ou investir. A infraestrutura urbana e a demora na revisão das leis que incidem diretamente sobre a atividade – o Plano Diretor de Natal -, continuam agindo como entraves para a atuação do mercado. Mas nem tudo são notícias negativas. Apesar da desaceleração nas agendas de lançamentos, a construção civil ainda está contratando. É o setor que mais emprega mão de obra no Estado e o frisson provocado pelo “boom” imobiliário de anos atrás produziu frutos que estão sendo colhidos no presente em forma de atualização da tecnologia empregada nos canteiros de obras. A vice-presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado do Rio Grande do Norte (Sinduscon-RN), Larissa Dantas, faz uma análise atual do mercado e dos desafios futuros.
Larissa Dantas, Vice-presidente do Sinduscon-RN
Como você avalia o mercado da construção civil no RN?

Está em uma fase de estabilização, com um volume de investimentos acontecendo de forma mais comedida. Isso quer dizer que as empresas estão pensando mais na hora de investir. Em função do momento, as empresas da construção civil que atuam no Estado visualizaram a necessidade de se criar um sistema de indicadores imobiliários, através de pesquisa sistemática com base em informações repassadas pelas empresas associadas ao sindicato, de forma a proporcionar uma melhor distribuição dos investimentos no futuro.

Quais as principais mudanças observadas no mercado de Natal nesses últimos anos?

Com o advento das mudanças no Plano Diretor de Natal de 2007, da mesma forma que ocorreu em 1994, a gente viu uma grande número de lançamentos imobiliários que estão ficando prontos agora. É bom destacar aqui que o ciclo da construção civil é muito longo. Portanto, um produto que a gente lança hoje, precisa de uma média de três anos para ficar pronto. Por isso as mudanças entre um ano e outro não são muito grandes, mas também não é para ser. Como agora é um momento de estabilização, a gente não tem lançamentos na mesma velocidade que no ano passado. Agora é o momento de entrega desses imóveis. De saldar os estoques.

E de que forma as mudanças no mercado interferem na paisagem da cidade?

Natal está ficando uma cidade com muitos prédios. A visão da construção civil é uma visão técnica e de uma forma geral, positiva, com exceção da mobilidade urbana que não é proporcionada. Mas ainda há muitos espaços livres. Por exemplo: a gente vê também alguns prédios em Tirol e Petrópolis, seguido por uma grande vazio e um grande número de empreendimentos prontos e em execução em Parnamirim. Mas o que acontece? Lá em Parnamirim não tem infraestrutura. Quem mora lá trabalha em Natal, então uma preocupação do futuro é trazer mais empreendimentos para o Centro de Natal. Para as áreas onde existe mais infraestrutura. E por que isso acontece? Se a gente não utilizar as áreas onde existe infraestrutura, no caso onde os prédios estão surgindo, surge um problema. Caso contrário, todo mundo estará condenado a morar longe do trabalho. Com isso a qualidade de vida e a mobilidade urbana vão cair.

A tendência para o futuro seria o adensamento das áreas mais próximas ao Centro de Natal?

Não  sei dizer. Porque fica a cargo do poder público gerir as políticas públicas. A construção civil vai para onde o setor público indicar que a gente deve ir. Mas seria interessante, pelo menos tecnicamente, que existisse esse tipo de urbanização. Mas essa é uma visão do sindicato. Que os bairros que podem ser adensados, que sejam liberados para isso. Como, por exemplo, os bairros de Nazaré e Candelária. Você acha que a construção civil não quer investir na zona Norte? Claro que quer. Mas lá é impedido. É um absurdo. É melhor ter um edifício em uma área pequena e ali morem, 30, 50 ou 60 famílias ou ter a mesma área e construir 60 casas, cada uma com uma fossa e sumidouro? Assim é a zona Norte. O poder privado tem como contribuir com a questão da infraestrutura. Muita gente acredita que a verticalização é o mal do século quando na verdade é a salvação das grandes cidades. Pois as pessoas vão poder morar perto do trabalho, evitar o uso de carro. Com isso podem ir ao trabalho caminhando ou de bicicleta, por exemplo.

Faça uma breve análise da estrutura urbana de Natal.

Os investimentos de mobilidade estão chegando, a gente espera que sejam concretizados, mas de uma forma geral ainda falta muita coisa. Existe um planejamento que prevê que 80% [das cidades] do RN sejam saneadas. Isso seria um sonho. Ainda deixa muito a desejar. E nos deixa um pouco atados. Como não existe infraestrutura a gente não pode construir, não pode construir pois não tem infraestrutura, dai o Plano Diretor não deixa e a gente fica nesse ‘oito’. Tudo depende de políticas públicas orientadas para um bom ordenamento urbano. Tudo pensado de uma forma técnica, se isso não acontecer tudo pode virar um caos.

Natal viveu um ‘boom’ imobiliário em função do investimento de muito capital estrangeiro entre os anos de 2004 e 2010. O que ficou de positivo e negativo dessa fase?

O que ficou foi a elevação da qualidade de produtos, a chegada de novas tecnologias na construção civil. Claro que grande parte das empresas que vieram de fora precisaram se agregar de alguma forma a empresas locais e isso foi positivo. Além do bom momento de compras para o consumidor que é agora. Hoje temos uma oferta que é muito boa e por isso é possível fazer boas negociações na hora de comprar. Para o consumidor isso é essencial. Tomara que eles percebam isso. Por outro lado teve o surgimento de muitas empresas aventureiras. Mas essas já foram embora e não estão mais por aqui. É o momento de ver que o joio já foi separado do trigo. Quem veio comprometido com o mercado, está honrando seus compromissos. E de ruim ficaram alguns clientes insatisfeitos com empresas que vieram pela onda e quando passou foram embora. E isso sempre preocupa a gente. Existe uma política aqui no sindicato que é de receber as novas empresas. Quando elas não se apresentam provocam certo estranhamento. No nosso entendimento, se veio para ficar que participe.

O aporte de grandes empreendimentos no RN impulsionou a adoção de novas tecnologias na construção civil? O que é empregado aqui que pode ser destacado como tecnologia de ponta?

Vemos hoje a aplicação, principalmente  pelas empresas que vieram de fora, a utilização de novos revestimentos nas fachadas de suas edificações e  uma maior mecanização dos canteiros de obras. Esta mecanização  é uma tendência que as empresas de fora trouxeram para a construção civil do  Rio Grande do Norte.  A tecnologia da construção do mercado imobiliário potiguar está muito bem no cenário nacional. Vemos excelentes produtos de empresas que primam pela qualidade e compromisso com seus clientes. Hoje temos acesso a grandes fornecedores, que nos atendem inclusive com assistência técnica local e , em alguns casos, com produtos que não tínhamos acesso pelo seu  alto custo. O mérito desse acesso a novas tecnologias de elevadores e geradores por exemplo, são mérito do trabalho coeso da Coopercon-RN, uma cooperativa fundada há 10 anos por algumas empresas associadas ao Sinduscon, e que busca constantemente introduzir novos players ao mercado. Com isso, novas tecnologias chegam aqui ao mesmo tempo que nos outros lugares do mundo. Nossa construção potiguar recebe, através da Coopercon, visitas dos presidentes das grandes empresas fornecedoras da construção civil em nível nacional e até mundial, trazendo uma elevação no nível dos profissionais que participam desses encontros técnicos, o que acaba impactando de uma forma muito positiva a nossa construção civil.

A nova data para revisão do plano diretor foi novamente adiada. Quais as consequências?

 Como setor produtivo formal, seguimos sempre as regras que nos forem impostas pela legislação do nosso setor. Para o setor da construção civil, continuaremos trabalhando nas regras atuais, até que as novas entrem em vigor. Para o desenvolvimento urbano da nossa cidade,  existe uma preocupação nossa, haja vista a obrigatoriedade de revisão dos perímetros das zonas adensáveis a cada dois anos, que encontramos no parágrafo segundo, do  artigo 11  do Plano Diretor de Natal. Trocando em miúdos, isso significa que, os bairros que já tiveram algum desenvolvimento  de infraestrutura, desde a última revisão/alteração da Lei, como Candelária, Nazaré e mesmo a zona Norte, ficarão praticamente estáticos para novas construções significativas e, infelizmente, subutilizados até que haja a revisão do Plano. Perde a cidade de Natal, pois fica com o seu desenvolvimento relativamente parado. Entendemos entretanto, que as regularizações das ZPAs precisam ser finalizadas antes de adentrarmos na revisão do Plano. A Gestão Municipal atual está penalizada pelo atraso que encontrou  quando tomou posse.

Quais as novidades e metodologias adotadas na administração dos resíduos gerados pelo setor?

A aplicação da Resolução Conama 307, que trata dos resíduos da construção civil, já vem sendo feita desde que entrou em vigor.  Entretanto, até pouco tempo, havia uma lacuna por parte do poder Público Municipal na sua atribuição de receptor dos resíduos. A solução desse problema veio da iniciativa privada, com a implantação de usinas de reciclagem. A consequência no setor da construção civil, vem sendo um incremento de custos nas nossas planilhas orçamentárias para contemplar esta destinação adequada, de forma a obedecer a legislação. As construtoras associadas ao nosso Sindicato já seguem essa legislação ambiental desde o Planejamento dos canteiros de obras. Na nossa opinião, a maturação do setor  para aplicabilidade da resolução Conama já está no seu ponto ideal. A sustentabilidade hoje é compromisso de toda a cadeia produtiva da construção civil. Temos que cuidar bem do nosso meio ambiente para deixarmos um bom legado para as próximas gerações.

O setor da construção civil é um dos que mais emprega no Estado. Quais as dificuldades para as empresas nesse sentido?

 Boa parte da mão de obra continua sem a qualificação adequada, o que impacta diretamente na manufatura de nosso produto, que é essencialmente artesanal. Já estamos trabalhando, enquanto sindicato patronal,  em soluções como a criação de mais cursos de qualificação, com o apoio da Fiern, através do Centro de Treinamento Rosário Carriço do Senai. Mas infelizmente temos que ser pacientes, pois  esse cenário ainda vai demorar um pouco para mudar, haja vista ser uma mudança cultural na base da cadeia produtiva da construção civil. O maior impacto  da falta de qualificação, é sentido principalmente nos acabamentos mais finos de final de obras de padrão construtivo mais elevado. Além do mais, o custo elevado da mão de obra qualificada, pela sua escassez,  vem impactando bastante nos orçamentos, e já se fala em alguns casos em impacto de até 60% do custo do orçamento total de uma obra, pois não podemos esquecer que temos encargos sociais na construção civil que orbitam em quase 200% sobre esse valor do custo da mão de obra. Tem sido um exercício de engenharia financeira, equilibrar nossos orçamentos de obras diante desse cenário de alto custo de mão de obra que vem se estabelecendo há alguns anos.

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