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O legado de Manxa

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Yuno Silva – Repórter
Colaborou: Cinthia Lopes

Sem grandes alardes, um dos mais importantes escultores e entalhadores do Rio Grande do Norte morreu na noite desta segunda-feira (19) em Currais Novos. Discreto e genial, Ziltamir “Manxa” Soares deixa legado artístico imortalizado por obras grandiosas como o painel no prédio da Reitoria da UFRN e os entalhes na agência centro do Banco do Brasil em Natal. Aos 63 anos, Manxa estava internado havia cerca de uma semana por causa de problemas renais e faleceu devido ao agravamento de seu estado de saúde. O corpo do escultor foi sepultado ontem em São Vicente, distante 190km da capital potiguar, município onde nasceu e morava com a esposa.

Manxa em frente a uma de suas esculturas mais famosas, que acabou sendo demolidaO apelido vem desde a infância, quando se autodenominou “Manxa” por causa de um sinal de nascença na parte de trás da cabeça, onde se destacava uma mecha branca que destoava do restante da cor da cabeleira.

A extensa lista de trabalhos de grande porte que o artista produziu em mais de quatro décadas de carreira também incluem a imagem de Santana na entrada da Ilha em Caicó, o monumento dos Três Reis Magos na entrada de Natal, o pórtico em homenagem aos Mártires de Uruaçu e Cunhaú e o painel na capela do Campus da UFRN; além de obras espalhadas em diversas agências bancárias e repartições públicas do RN, e empresas espalhadas pelo Brasil e exterior, e na Pinacoteca do Estado, que possui grande parte do acervo do extinto Bandern.

Outra escultura de Manxa que merece ser ressaltada é o Monumento ao Atleta, feita em metal, que ficava no pátio externo do estádio Machadão até 2001 – a demolição da obra, na época, foi tema de reportagem publicada pelo suplemento Estampa, desta TRIBUNA DO NORTE. A escultura símbolo da era Machadão ficou tomada de ferrugem e foi removida pela Secretaria Municipal de Esportes a pedido do Crea.

Monumento ao Atleta: escultura de Manxa em metal que ficava na área externa do Estádio Machadão, em Lagoa Nova. Foi removida em 2001 por falta de manutenção“Ainda estou chocado”, disse Galvão Freire, amigo do escultor e presidente da Agência de Desenvolvimento Sustentável do Seridó – ADESE, instituição sediada em Caicó. “Não tínhamos uma amizade profunda, mas me considero uma das pessoas mais próximas dele nesses últimos tempos. Manxa continuava produzindo na oficina que montou no sítio onde morava, principalmente esculturas em pedra, e morreu como os grandes gênios da arte: sem riquezas, sem fama e sem o devido reconhecimento”, lamenta. Galvão lembra que Manxa mantinha, desde 2009, o blog Quixabeira News, “um hobby levado muito a sério”.

Neto da pintora e escultura popular Maria do Santíssimo (1890-1974) e pai do publicitário Renato Quaresma, seu único filho legítimo, Manxa seguiu a vocação familiar — era primo da artista plástica Madé Wainer e do pintor Iaperi Araújo —  e se tornou um dos primeiros potiguares a trabalhar com o entalhe difundido no Ceará.

 “Os bons estão indo embora”, lamentou Dorian Gray Caldas, que trabalhou com Manxa em vários projetos. “Foi ele quem trouxe essa técnica do entalhe. Seu trabalho era muito influenciado pela nordestinidade. Um expressionista Naïf”, verifica o artista plástico e tapeceiro, que considera o painel da Reitoria da UFRN a grande obra de Manxa.
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Caldas lembra que o amigo escultor chegou a dar aulas como professor convidado nos Estados Unidos. “Era um profissional muito exigente, que se recolheu muito nesses últimos anos.” Dorian Gray é autor do “Dicionário das artes Plasticas do RN”, onde há verbete dedicado a Manxa. A primeira versão do livro foi publicada em preto e branco, mas uma segunda edição, ampliada e colorida, ainda permanece inédita. “São 160 nomes listados e acredito que será muito importante para embasar pesquisas.” Além dos verbetes, Dorian inclui opiniões, críticas e detalhes que movimentaram o segmento das artes visuais nos séculos 20 e 21. “Nessa nova versão venho até a contemporâneidade”, adiantou.

Manxa chegou a morar no Rio de Janeiro, passou longa temporada no Recife, manteve ateliê em Natal e há quase uma década começou a buscar suas origens: “Quando começou a fazer esse caminho inverso, depois de ter viajado pelo Brasil e exterior, ele estava deprimido, sem vontade de produzir. Fico feliz com a notícia de que havia voltado a criar”, disse Iaperi Araújo. Manxa deixou como discípulo direto o também escultor Jordão.

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