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O legado rico e coerente de Ivan Lins

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Ramon Ribeiro
Repórter

Um dos mais internacionais artistas da música brasileira, o cantor, compositor e pianista carioca Ivan Lins chega aos 70 anos em 2015 — 45 destes dedicados a carreira musical. O ano fértil vem recheado de homenagens em forma de biografia, documentário e releituras de sua obra, uma marca registrada que mistura de jazz e bossa nova, algo que carrega desde a infância, passada nos Estados Unidos.Lins, que é formado em química industrial, mas não exerceu a profissão, despontou para o cenário artístico brasileiro em 1969, por intermédio de Elis Regina, que gravou “Madalena”, sucesso imediato que atraiu a atenção para as composições do carioca.
Às vésperas de completar 70 anos, artista lança novo CD e tem obra revisitada em documentário, regravações e biografia. Hoje, é o convidado da série de encontros com a Sesi Big Band
O músico já foi gravado por grandes intérpretes da MPB,  e fez parcerias com expoentes do jazz, como Sarah Vaughan, Ella Fitzgerald, Dianne Reeves. Tanto trabalho lhe rendeu três prêmios Grammy Latino.

#SAIBAMAIS#Ivan Lins está em Natal para apresentação única, nesta quinta-feira (14), às 20h, no Teatro Riachuelo, em ocasião do projeto “SESI Big Band Convida”. O espetáculo pretende misturar a sonoridade e força caraterísticas da big band, com a voz e as composições refinadas, e ao mesmo tempo fáceis de gostar, do músico carioca.Por telefone, o compositor falou com a reportagem sobre seus 45 anos de carreira, o disco novo e o cenário da música brasileira.  Confira:

Seu disco novo de estúdio, “América, Brasil”, celebra 40 anos de parceria com Vítor Martins, seu letrista. Como foi fazer esse disco?
O disco foi feito todo em casa. Com a gente tocando todos os instrumentos. Começou com a gente buscando trabalhar em cima do nosso repertório de músicas femininas. Tanto as minhas quanto as dele. Daí as coisas vão evoluindo, começamos a tocar outras canções. A coisa foi ficando boa, botamos algumas músicas lado b, outras que não foram gravadas por nós…

Tem alguma música inédita?
Só uma. Ela se chama “Luxo do lixo”, que eu fiz para um bloco  no Leblon, em 1980. O bloco acabou nem saindo porque os donos brigaram. Mas a música ficou gravada numa fita k7 e resolvemos grava-la.

Recentemente você participou, ao lado da cantora Mônica Salmaso, de uma série documental no canal HBO chamada “Hoje é dia de música”. A série reúne recortes mais importantes da música brasileira costurados com execuções no piano e voz. Como foi essa experiência?
Fomos os apresentadores dessa série. Nos deram liberdade para tocarmos alguma coisa juntos, espontânea, sobre os assuntos que abordávamos em cada capítulo. Toda a parte musical foi feita na hora. Eu gostei de fazer e toparia fazer de novo.

Foi em um dos episódios da série que você defendeu a importância dos Racionais Mcs para a MPB quando lançaram “Holocausto Urbano”, comparando-os  a Tom, Vinícius de Morais e João Gilberto quando cantaram Garota de Ipanema…
Defendi como movimento, como o movimento que também foi a bossa nova, a Tropicália. O trabalho do Racionais, e de outros grupos também da periferia, chamou a atenção para que a periferia tinha pra dizer. As camadas mais pobres de grandes cidades passaram a ter voz. E de certa forma, os raps desenvolveram uma linguagem própria, muito realista. Embora também tenha aparecido algumas porcarias pra ganhar dinheiro, gente querendo colocar pornografias. Mas os que vieram pra fazer trabalho sério, mostraram que escrevem muito bem, sabem se expor no palco. O rap é muito interessante parece um outro gênero de arte, entre o ritmo, teatro e a literatura.

Que grande revolução você identificaria nos últimos anos?
Evolução tem. Mas hoje é difícil tomar conhecimento do que é produzido. Há menos espaço nos jornais e na TV aberta. Ainda que eles tenham suas mídias próprias e saibam se divulgar na internet.

Que novos artistas despertam sua atenção hoje?
Tem muita gente boa. De bate-pronto eu lembro agora do grupo 5 a Seco. E tem as mulheres, muitas mulheres talentosas surgindo, como a Tulipa Ruiz e a Céu.

Os três de São Paulo…
Verdade. Mas tem gente boa no Brasil inteiro. A cena está muito dividida. Pernambuco continua forte depois do Chico Science, o nordeste inteiro, no norte tem surgido novidades. O problema é chegar a tantos artistas. Quem gosta de música tem que estar muito conectado. E só os mais fanáticos fazem isso. É uma pena que a grande mídia não tenha interesse em divulgá-los. Gente do Brasil inteiro mandando muito bem.

Você teve uma gravadora, a Velas, deve saber bem das dificuldades.
Isso! Quando eu tinha a minha gravadora eu lancei Chico Cesar e Lenine, mas eles já estavam batalhando há uns 10 anos. As pessoas não lembram disso. Na minha geração era diferente. Eu levei uma semana pra ficar famoso. Chico, Gil Milton, todo mundo apareceu muito rápido. Hoje não. Tem que haver um interesse maior de quem gosta de música para chegar aos artistas. Tudo está na internet, e a internet é muita coisa.

O mercado da música mudou com as novas tecnologias. Isso te agrada?
Me agrada demais, melhorou o meu trabalho. Evidentemente que eu não uso com a mesma velocidade que a rapaziada mais jovem. O que eu mais espero é que toda essa tecnologia ajude ao artista a viver da própria arte.

Você é um dos músicos brasileiros mais conhecidos no exterior. Existe diferença entre o público lá fora e no Brasil?
Sempre fui recebido muito bem lá fora. Mas não com o entusiasmo do brasileiro. O público daqui é imbatível, caloroso demais. Pude sentir isso muitas vezes, afinal, são 45 anos de carreira. Mas tenho visto também essa energia do público com a turma que veio depois, Lenine, o próprio 5 a Seco.

São 45 anos de carreira. O que mais te marcou nessa trajetória?
Olha… Eu poderia falar das parcerias, mas o que mais me marcou foi a minha consciência de ter sido muito coerente em tudo que fiz. Então é isso, a minha coerência. Depois vem as parcerias e, claro, os talentosos músicos que trabalharam comigo.

SERVIÇO

O que: SESI Big Band convida Ivan Lins
Quando: Dia 14, às 20h.
Onde: Teatro Riachuelo no Midway Mall. Quanto: Os ingressos variam entre R$100 (inteira) e R$50 (estudante).

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