quinta-feira, 25 de abril, 2024
25.1 C
Natal
quinta-feira, 25 de abril, 2024

O livro e as novas linguagens

- Publicidade -

Francisco das Chagas de Morais
Professor, Mestre e doutorando em Estudos da Linguagem pela UFRN

Em certa ocasião, numa entrevista veiculada pela TV, vi a nossa querida escritora Nélida Piñon, da Academia Brasileira de Letras, declarar que “o Brasil passou da cultura oral para a cultura da imagem, sem passar pela cultura da escrita”.  Fiquei pensando na declaração da escritora, imaginando em toda a história da colonização do nosso país, com o surgimento dos pequenos povoados e vilas. Nessa realidade, apenas algumas escolas criadas pelos jesuítas, homens afeitos à educação, depois perseguidos e expulsos pelo Marquês de Pombal. Assim, foi crescendo um país de pessoas com pouco ou nenhuma acesso à cultura escrita. Como poderia haver um mercado editorial de livros? Para quem? Isso era coisa para os países da Europa, não para uma colônia.

Nas décadas que se sucederam, o Brasil foi passando por diversos momentos, mas sempre carregando o problema do analfabetismo em sua história. A vinda da família real para o Brasil, em 1808, mudou as condições da colônia, com a abertura da biblioteca real, das escolas superiores e a chegada de tipografias mais modernas. Em 1822, aconteceu a Independência, mas o império pouco ou nada alterou esse quadro.  Segundo Alceu Ravanello, em estudo sobre o analfabetismo no Brasil, o primeiro censo brasileiro, realizado em 1872, cinquenta anos após a independência, acusou um índice de analfabetismo de 82,3%. Ou seja, naquela realidade, poucos eram leitores; as fontes de informação eram predominantemente orais.

Em 1940, após cinqüenta anos de instalação da república, havia um número maior de escolas, mas o Brasil continuava com um altíssimo número de analfabetos: 61%, conforme o censo daquele ano. Nesse contexto, o rádio se popularizava como meio de comunicação de massa. Em 1950, chegou a televisão, e, com esta, a imagem, com toda a sua sedução televisiva.  Esses meios passaram a ser mais referências para a população do que os livros, embora já houvesse, nessa época, um mercado editorial brasileiro de livros, com escritores e leitores, restrito às classes mais abastadas.

Chegamos ao início do século XXI, com todas as transformações tecnológicas e culturais ocorridas. A popularização do consumo de aparelhos eletrônicos democratizou o acesso à informática e à cibernética , inaugurando o que muitos estudiosos chamam de cibercultura. O texto virtual virou referência na internet, nas infovias. É possível fazer, editar e publicar imagens e textos para o mundo inteiro, usando-se apenas o aparelho celular, por exemplo. Todas as classes sociais têm acesso a essas novas mídias. Publicam-se, com freqüência os livros virtuais ou e-books. O livro impresso deixará de ser referência nesse novo contexto, sobretudo, para as novas gerações?

Há um público leitor de livros convencionais, impressos, cada vez maior, no Brasil. O mercado editorial do livro impresso cresce surpreendentemente. Escritores despontam em diversas áreas do conhecimento, publicando livros em todas as regiões. Embora o Brasil ainda precise avançar no ensino fundamental e no ensino médio, a democratização do acesso aos ensinos técnico e universitário pode estar contribuindo para a formação de um crescente público leitor. A cibercultura, ao contrário dos que muitos pensam, é positiva para o livro impresso. Na internet, encontramos informações sobre livros (títulos, referências e sinopses) e caminhos para adquiri-los. Os livros impressos continuarão existindo, com seu mercado próprio, ao lado dos e-books, como duas faces de uma mesma cultura que começa a se afirmar no Brasil: a cultura escrita.

- Publicidade -
Últimas Notícias
- Publicidade -
Notícias Relacionadas