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O livro sem dia

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Woden Madruga [ [email protected] ]

Ontem, 29, foi o Dia Nacional do Livro. Não me lembro de ter lido nas folhas nem ouvido nas esquinas da internet da aldeia nenhum registro. Um papo de sala de aula numa escola qualquer, nada. Nonada. O que se sabe é que a Biblioteca Pública Câmara Cascudo, a mais importante  do Estado, está fechada há quatro anos. Os livros ao léu ou coisa que tal. Taí o mote certo, adequado, “politicamente correto”, para um protesto no Dia do Livro, os ativistas culturais (como tem por estas bandas, gente!) reunidos diante do prédio abandonado da rua Potengi, vizinho de muro com o velho e tradicional Atheneu, que  também está a precisar da atenção do Governo. Não aconteceu nada.

Também não vi na programação do VI Encontro Potiguar de Escritores, que acontece derna de ontem na sede da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras, qualquer referência ao Dia Nacional do Livro. Li que está marcado para hoje um “Fórum Potiguar do livro, das leituras e das bibliotecas” reunindo na mesma mesa as secretárias de Educação do Estado e do município de Natal, mais a educadora Cláudia Santa Rosa, que é a diretora executiva do Instituto de Desenvolvimento de Educação, o IDE, que está completando agora, no dia primeiro de novembro, 10 anos de atividades.

E que seja cobrada a reabertura, já, da Biblioteca Câmara Cascudo, um dos grandes descasos (são muitos) do governo estadual. Bem que a Academia Norte-Rio-Grandense poderia entrar nesse time de cobradores, até porque um dos seus fundadores é o patrono da Biblioteca. Dia desses li aqui que o presidente da Academia, poeta Diógenes da Cunha Lima, reuniu seus colegas imortais para se integrarem numa campanha pela reabertura do Aeroporto Augusto Severo, fechado por conta do novo aeroporto, o Aluízio Alves (que foi membro da Academia), construído em São Gonçalo do Amarante. Na ordem das prioridades, Diógenes poderia colocar em primeiro lugar a reabertura da Biblioteca Câmara Cascudo, depois o Museu Café Filho, logo em seguida o Museu de Guaporé,  se é que o cupim já não comeu todo o madeirame do velho casarão do Engenho de Nilo Pereira.

Por falar em engenhos abandonados, chamo a atenção dos leitores para dar uma passada pelas páginas do livro Rosa verde amarelou, do contista Bartolomeu Correia de Melo, que será lançando hoje à tarde  (18 horas), na sede da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras, onde acontece o  VI Encontro Potiguar de Escritores. Os engenhos de Ceará-Mirim, pátria sentimental do escritor, aparecem em alguns de seus contos. O lançamento do livro de Bartola, mesmo um dia depois, vale, simbolicamente, para se comemorar o Dia Nacional do Livro. Encaixadíssimo.

Tempo de Estórias
O Rosa verde amarelou, editado pela Bagaço, do Recife, reúnes os três livros de contos de Bartolomeu Correia de Melo: Lugar de estórias, Estórias quase cruas e Tempo de estórias. Este último foi publicado em 2009. Quando do seu lançamento escrevi algumas linhas neste Jornal de WM. Transcrevo-as agora, cinco anos depois:

“O escritor Bartolomeu Correia de Melo autografará, na Livraria Siciliano, o seu livro de contos Tempo de Estórias, que sai com o selo da Bagaço, do Recife. Este é o terceiro livro de contos do autor (sem contar com dois títulos infantis: O fantasma Bufão e A roupa da Carimbamba, este último também será lançado hoje). Bartolomeu estreou na literatura (professor universitário de Físico-Química) em 1997 com Lugar de Estórias, com o qual obteve o Prêmio Joaquim Cardozo, da União Brasileira de Escritores. Cinco anos depois sairia Estórias quase cruas.

Bartolomeu Correia de Melo está no time dos grandes ficcionistas do Rio Grande do Norte, um roçado que tem poucos nomes, e com as loas da crítica mais exigente inclui-se entre os melhores contistas brasileiros. Quando recebeu o Prêmio Joaquim Cardozo fez discurso de agradecimento. Disse coisas que compõem muito bem o seu auto-retrato:

‘Nada mais sou que um contador de estórias; não muito desigual de tantos, que nunca tiveram vez de assentar num papel doces mentiras. Meus toscos escritos não escondem mensagens, apenas contam. Não mostram beletristas, apenas contam. Não revoejam metafísicas nem ruminam filosofias, apenasmente contam. Tudinho estórias do meu lugar, nos falares da minha gente: quase nada restando de minha real presença. Apenas recolho palavras de engenho, brotando no aceiro das conversas, como flores sem dono beirando caminhos.’

É desse jeito, sem tirar nem pôr, que o leitor vai se deparar com Bartolomeu nesse Tempo de  Estórias, onde estão reunidos 20 contos. Aí estão as deliciosas estórias de sua aldeia, flores sem dono beirando os caminhos que ligam o sertão ao mar e que passam pelo vale verde da sua infância.

Beleza a linguagem poética de Bartolomeu. Em inúmeras passagens dos seus contos, as frases possuem a sonoridade e o ritmo de  versos, sentenciou Carlos Newton Júnior. Para provar esta sonoridade poética tem, por exemplo, este começo de estória: Rapinha de lua minguante, grilos trincando a friagem. Poste da esquina, abajurado de mariposas, sem dar bom vencimento ao pardume. Casaronas de escuros beirais, umas-noutras arrimadas, pareciam cochilar, enquanto o sereno brumoso punha-se orvalho, embaçando vidraças.

Eleição na Academia
Hoje é dia de eleição na Academia Brasileira de Letras para preenchimento da cadeira 32, vaga com a morte de Ariano Suassuna (23 de julho de 2014). Há quatro candidatos inscritos: Zuenir Ventura, Thiago Mello, John Muller e Olga Savary. O páreo está  entre Zuenir, carioca, e o amazonense Thiago Mello.

Barroco
A programação de hoje do Colóquio de Estudos Barrocos que está acontecendo na UFRN tem duas mesas redondas. A primeira, 15 horas (auditório da Biblioteca Central Zila Mamede), tem com o tema “Saberes Barrocos”, com as seguintes variantes: “La poética barroca de José Lezama Lima”, “O lugar do Barroco na Literatura Brasileira” e “Baudelaire, leitor do Barroco”. Na segunda mesa, “Gregório de Matos: Poemas atribuídos – Códice Asensio-Cunha”. Na boca da noite haverá uma palestra musicada ministrada pelos professores Octávio Camargo e Chiris Gomes.

Passaporte
Alex Nascimento renovou o passaporte.  Planea – como se diz em Portugal – passar o verão em Lisboa, subindo depois até a Serra da Estrela, o paraíso dos queijos de leite de ovelha.

Menos dinheiro
Acabo de ouvir na CBN:  “Com a arrecadação fraca em  setembro, a Receita Federal já fala numa queda no caixa do Governo e  num crescimento de apenas 1% na arrecadação total deste ano.”

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