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O mistério

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Vicente Serejo
Não sei a qual razão atribuir o vício do telefone fixo daqui de casa. Nas últimas semanas tem tocado várias vezes ao dia e, quando alguém atende, cai num silêncio profundo. Depois, solta uns sinais estranhos, e logo emudece. Não diria que são grunhidos, ainda que grunhir possa ser da sua natureza virtual. Intriga é pensar que do seu silêncio poderia surgir uma voz amiga a anunciar uma boa notícia. Quem sabe, um furo de reportagem, ora, nesses tempos pandêmicos.  
Prisioneiro de mim mesmo, fico lembrando de uma esquecida crônica de Rubem Braga que nem sei, de memória, se saiu em livro ou vive perdida por ai, nos recortes que vou enfiando nas orelhas dos seus volumes. Faz um apelo triste e esperançoso à companhia do Rio de Janeiro, em anos que não sei mais quando, no sentido de fazer o telefone voltar a falar. Com jeito, em razão do que poderia prejudicar a um homem que mora sozinho, hóspede da sua própria solidão.
Dizia ele, com delicadeza, que estava certamente sofrendo tristes prejuízos. Imagine, apelava o cronista, se algumas mulheres da sua paixão telefonam para conversar e ele não atende, sequer para ouvi-las? Ou, tanto mais grave, se uma delas por acaso deseja marcar um encontro, ou uma visita, convidá-lo para uma viagem ou um uísque ali, debaixo daquele sol de verão da cidade luminosa? Ora, são as perdas que o telefone mudo pode trazer a um homem só. 
Bem, não é o meu caso, mas nem por isso é justo calar. Convenhamos: a única função do telefone é falar. Tê-lo funcionando assim, misteriosamente, é o que pode lhe acontecer de mais inútil. Um cronista, então, bem necessitado de notícias, daqui e do mundo, não pode viver sem ter uma voz que de vez em quando quebre o silêncio espesso dos dias e das noites. E os técnicos, desatenciosos, não sabem quanto pode ajudar um telefone com desejadas novidades.
Não há ninguém importante nesta casa. Não há. Ninguém. Mas há um cronista, já quase setentão, em disponibilidade, a colecionar as horas da vida que, se é desimportante e comum, não merece o silêncio. Paga-se a conta para ouvi-lo e não para guardar nos ouvidos de plástico o jeito mudo de viver e soltar grunhidos. Que as vozes, mesmo aquelas mais tristes e estranhas, venham e digam as novidades, e quebrem a vidraça da solidão como uma boa pedrada certeira.
O que não é justo, sobretudo não é direito, principalmente não é humanamente merecido, é calar. Sem uma razão justa proibir a alguém de conversar com o cronista. Sou dos que atendem a qualquer hora da noite, do dia ou da madrugada. Não reclamo. Nunca fui homem de negócios e de reuniões austeras, é verdade. E reconheço. Mas sou um conversador profissional, mesmo não tendo feito da conversa uma arte admirável. E gosto do silêncio, mas se não for por desfeita.  
ESTILO – O deputado Alysson Bezerra retomou o método e anda de porta em porta, nos bairros de Mossoró e na zona rural do município, pedindo o voto. Ele que surpreendeu a todos em 2018.  
LUTA – Sem tradição de família, nascido no sítio Chafariz, Alysson é engenheiro pela Ufersa e seu servidor por concurso, e é o fato novo na política de Mossoró nos últimos cinquenta anos. 
AVISO – A Folha de S. Paulo pode ser o último jornal de circulação nacional a chegar a Natal na forma impressa. Retornou aos assinantes, de antes da pandemia, mas retirou-se das bancas. 
PREÇO –  Presa ao velho artifício do centralismo democrático – tudo pode se for como quer o poder central – a deputada Isolda Dantas paga o preço da reforma na sua própria base, Mossoró.
BANER – Sua foto está entre os que aprovaram a reforma, ela que deve seu mandato às lutas sindicais. Submetida ao calor elevado, a deputada petista atingiu seu ponto de fusão, e derreteu.  
PROVA – Ao congratular-se com o presidente da AL, Ezequiel Ferreira, o governo reconheceu que os poucos avanços nasceram da oposição, mesmo que a nota oficial tenha omitido o mérito.   
MAS – Que fique registrado: o Poder Legislativo não teve bom senso estratégico ao se omitir na criação da faixa de 20% para salários acima de R$ 35 mil. O recuo calou a sua própria voz. 
 
DESAFIO – Tente marcar, se for cliente, um exame via Unimed usando o telefone. Segundo uma leitora que escreve a esta coluna, vai fracassar. E o mais grave: não há a quem reclamar. 
FICÇÃO – Tinha muitas vezes razão o então deputado Fernando Mineiro quando, na sua ironia, acusava o governo Wilma de Faria de fazer do marketing a maior obra. O que hoje o secretário não imaginava era servir a um governo com uma tendência tão grande para as obras de ficção.
PACTO – A nota do governo, elencando os benefícios da reforma da previdência e afirmando ter nascido de uma amplo debate com as diversas categorias, é uma bela peça de ficção. E com o mérito de escamotear as injustiças que cometeu no pacto velado com as elites que condenava.
JOGO – Propôs o valor máximo de 16%, o aumento que aceitou em silêncio só para os grandes salários, repondo a inflação dos últimos quatro anos; negou o mesmo reajuste até três salários mínimos; e, na prática, reduziu o valor líquido dos que ganham menos, inclusive os professores.  
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