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“O Nordeste não só cresce, mas cresce de maneira sustentável”

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Vinícius Menna
Repórter

Provedora de informações sobre consumo, a empresa Nielsen aponta o Nordeste como a região que mais cresce no país, sendo um mercado fértil para fabricantes e varejistas. Em análise apresentada na última quinta-feira em evento realizado em Recife, em parceria com a Associação Pernambucana de Supermercados (Apes), a consultoria explicou os motivos que fazem do Nordeste a região onde o consumo cresceu mais nos últimos anos e analisou as oportunidades que o mercado nordestino oferece. Em entrevista à TRIBUNA DO NORTE, a analista de mercado da Nielsen, Sabrina Balhes, comentou os indicadores identificados pela empresa, que mostram que o Nordeste tem se desenvolvido de maneira sustentável, com mais matrículas de ensino superior e fomento do empreendedorismo. A analista também aponta os gargalos a serem vencidos para que o Nordeste se desenvolva mais e deixa a sua aposta para o futuro da região: a interiorização.
Sabrina Balhes, da Nielsen, analisa as oportunidades e os desafios para o  mercado nordestino, que vem crescendo acima da média
O estudo da Nielsen aponta crescimento do PIB do Nordeste de 58% no período de maio de 2003 a maio de 2014, frente a um crescimento médio do PIB do país de 47% no mesmo período. Nesse sentido, qual o atual momento da região e por que ela avança mais?
Esse número do PIB do Nordeste não é exatamente um PIB. Pegamos uma variável que serve de comparação para o PIB, que o Banco Central calcula mensalmente. O Banco Central calcula o PIB por trimestre, só que esse número demora para sair e nós precisamos de números mais atualizados. Então eles preparam o Índice de Atividade Econômica, que serve como uma aproximação do valor do PIB, mas ele não é de fato o PIB da região.

Mas por que acontece esse crescimento da região? A muito tempo atrás, falávamos que o estágio de desenvolvimento do Nordeste estava num passo anterior ao resto da média do país, principalmente quando a gente compara com o Sudeste, que é um polo econômico bem forte. Mas não só por causa das políticas de assistência social, como pelo estímulo da ida de indústrias, de iniciativas de geração não só de emprego, mas de renda, de iniciativas tanto dos Governos Federal, Estadual e Municipal, como também de empresas que buscam polos de produção mais atrativos para diminuir os custos, todas essas iniciativas colocaram o Nordeste numa condição muito mais favorável do que ele tinha antigamente. Então há de fato um desenvolvimento da região.

O estudo inclui o crescimento do número de matrículas na rede federal no intervalo de dez anos. No Nordeste, esse número cresce a 103%, enquanto a média do país é de 96%. Qual a importância disso no plano econômico?

Depois que nós avaliamos os empregos formais, que é uma análise que nós já fazemos normalmente, nós fomos avaliar indicadores paralelos, que também denotam maior desenvolvimento. Nós temos o IDH, que mede o acesso à educação, saúde e renda. O que fizemos aqui foi qualificar esse acesso à educação. Nós sabemos que existem muitas escolas na região, tanto públicas quanto particulares, mas quando passamos a entender a mão de obra já com acesso a nível superior, conseguimos concluir que o valor que as pessoas podem adicionar ao trabalho é muito maior. Então, automaticamente a região Nordeste pode produzir mais em termos de valor agregado desse trabalho.

A Nielsen também analisa questões como a abertura de franquias, que no Nordeste cresce duas vezes e meia a mais do que a média do país, além da abertura de shoppings. O que isso significa?

O Nordeste não apenas cresce, mas ele cresce de maneira sustentável. Esse dado de matrículas, junto aos números de crescimento de franquias e de shoppings, mostram avanço em tipos de serviços típicos de regiões mais desenvolvidas. No caso do aumento do número de franquias, são mais empreendedores abrindo o próprio negócio e oferecendo mais opções para o consumidor. Esses tipos de serviço de serviço começam a ficar mais pulverizados a partir do momento que você tem um nível de desenvolvimento maior. Para um consumidor ir à franquia de um restaurante, ele deve ter um nível maior de renda. Você paga muito mais para comer fora de casa do que pagaria se você cozinhasse. Então tudo isso são indicadores de que a população do Nordeste está tendo acesso a serviços mais sofisticados.

Outro ponto do estudo é o investimento da indústria no Nordeste, de R$ 7 bilhões entre 2011 e 2014. Mas neste ano, a indústria do país sofreu recuo no crescimento. Um exemplo disso é a indústria automotiva. Como está o Nordeste nesse contexto?
Não tem como fugir muito da situação do resto do país de uma desaceleração. Mas o que acontece é que precisamos quebrar a produção industrial pelos tipos. O preço de um carro, por exemplo, é muito alto e é difícil repor a frota de carros em um tempo muito curto. Vamos pensar que o consumidor que comprou um carro em 2011, depois da redução do IPI, talvez ainda não precise trocar o carro três anos depois. Então existe esse fator de dificuldade de fazer a recompra.

Outro fator que impacta nisso é o nível de endividamento. A população está mais empregada, tem melhor educação, e isso vai trazer uma série de novas oportunidades de consumo. Ela pode comprar uma viagem de avião, fazer um curso e todas essas experiências são caras. Então a maioria das pessoas opta por parcelar essas compras. E aí a população está comprometendo a renda futura dela.

Embora a indústria do país, em geral, sinta dificuldades em 2014, conforme o estudo, a indústria de bens de consumo de giro rápido acaba encontrando um campo fértil no Nordeste. Qual é o cenário identificado na região para esse mercado?

O crescimento em volume do grupo de categorias de bens de consumo que nós auditamos cresceu 5,9% no Brasil, de janeiro a junho de 2014. Enquanto isso, o Nordeste cresceu 7%. E o que a indústria faz para isso acontecer? Existe uma série de alavancas. Uma especificidade da indústria de consumo de giro rápido é a sazonalidade. E esses fabricantes dão um grande estímulo na competitividade dos seus produtos com os preços. Nessas categorias sazonais, houve crescimento ainda maior do que os 5,9%. E algumas dessas marcas se utilizaram de preços, outros trabalharam alavancas diferentes, como promoção, embalagem econômica ou ainda um promo-pack [pacote promocional]. Então existe tanta diferença entre a expectativa do PIB e da indústria de consumo porque o PIB inclui outras variáveis, como a agricultura, a produção industrial, setores que não vão bem. Com isso, a economia se baseia cada vez mais no consumo.

O estudo aponta que um dos fatores para o Nordeste crescer mais é que hoje a região consome 60% a mais do que em 2001, enquanto que na média do país, se consome 34% a mais do que há 13 anos. Por que o consumo tem avançado mais no Nordeste? O que está se consumindo aqui?
O que motiva a compra dessas categorias é o maior acesso à renda. Há dez anos, o consumo do lar estava ligado a categorias mais básicas, como arroz, feijão. E hoje, com essa afluência econômica que está acontecendo na região, a população pode sofisticar o seu consumo. Então, não só está se comprando mais, mas está se comprando coisas diferentes. E aí tem várias categorias: leite fermentado, bebidas alcoólicas, tipos diferentes de carne, sorvetes. Então, tudo isso vem aumentando as vendas. E a gente vê esse crescimento porque, com a população mais empregada, ela passa a consumir mais e compra não só marcas mais caras, mas categorias mais novas.

E o que fazer para estimular o consumo dessas categorias no Nordeste, diante desse cenário?

A principal mensagem é que, para estimular essas categorias e consequentemente estimular esse crescimento na região, é preciso provar para o consumidor que existe um produto bom e que vale o que ele custa. É a relação de custo-benefício e de preço propriamente dito. São duas coisas que estão na análise que a gente coloca como importantes.

Estaria correto dizer que a tendência no nordeste é que esse consumo passe por uma interiorização?

Essa é uma tendência do Brasil inteiro, só que no Nordeste ela deve se confirmar mais para frente porque o Nordeste ainda está em franca expansão do crescimento. No Brasil, de maneira geral, o interior cresce muito mais do que as capitais, que tem sinais de maturidade. Só que no Nordeste, as capitais crescem mais, a 17%, no faturamento das categorias de consumo no geral, enquanto que no interior esse faturamento cresce em 12%. Então nossa aposta é que a tendência para o Nordeste é que essa relação vai se inverter. Então, tanto o acesso a essas categorias como a sofisticação do consumo vai levar esse crescimento do interior a ser maior.

Normalmente, quando começa a surgir algumas indústrias médias no interior, é necessário mão de obra. Aí as pessoas passam a se instalar nessas cidades, recebem seus salários e um maior número de pessoas cada vez maior passa a ter renda naquele lugar. Então começa a aparecer oportunidades para se abrir a filial de uma padaria ou de um supermercado, para as pessoas que moram longe do único supermercado da cidade comprarem sua comida. E aos poucos a cidade do interior vai crescendo.

Nesse sentido, se antecipar a essa tendência e expandir para o interior é uma oportunidade para as empresas no Nordeste?

Sem dúvida. Essa é a nossa grande aposta de crescimento, tanto para fabricantes como para varejistas.

Além da interiorização, que outras oportunidades o cenário nordestino tem a oferecer?

Existe também uma oportunidade na capital. Apesar de ser um mercado maduro, isso não quer dizer que não seja possível crescer na capital. Mas são mercados diferentes, com desafios diferentes. Na capital, a oportunidade é diversificar e aumentar o nível de qualidade de preço e execução. Quando for colocar o preço na ponta, para o consumidor, é preciso pensar uma estratégia de promoção. É fazer promoção, clube de pontos, brindes, pensar: “o que eu vou fazer para o que o consumidor escolha a minha loja?”. Quem está na capital, tem muitas opções de produtos e de lojas para comprar. Então, esse cliente tem que ser sempre conquistado.

E quais gargalos precisam ser superados para que o Nordeste realmente seja a bola da vez e se mantenha crescendo?

Os entraves do Nordeste são semelhantes aos do país, de maneira geral. São a política fiscal, já temos uma alta taxa de impostos. Sem dúvida, questões de infraestrutura também. A alta taxa de juros ao consumidor e ao investimento no país, que impacta na atratividade de fazer negócios. E algumas leis trabalhistas, além da burocracia do governo. Mas acredito que o Nordeste é a região com futuro de curto e médio prazo mais promissor entre as regiões do país.

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