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“O nordestino é muito receptivo à cultura japonesa”

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Anna Ruth Dantas
Repórter

A proximidade do período de Copa do Mundo reflete também nas preocupações e cuidados dos consulados e embaixadas. Essa semana, a capital potiguar recebeu a visita da cônsul do Japão em Recife, Hitomi Sekiguchi. Longe de apenas cortesia, a diplomata veio a Natal tratar de assuntos operacionais para garantir tranquilidade ao japoneses que virão a capital potiguar para acompanhar a seleção do seu país.

A cônsul confirmou que nas cidades sedes dos jogos do Japão haverá uma equipe reforçada para os dias de jogos. “Eu estou trazendo  nossa maior preocupação é com a torcida japonesa que vem para cá e não fala português. Como eles vão se virar caso ocorra alguma coisa?”, comentou a cônsul.
Essa semana, a capital potiguar recebeu a visita da cônsul do Japão em Recife, Hitomi Sekiguch
A segurança é uma preocupação especial da diplomata.  “A criminalidade no Japão ainda é bem pequena. Os japoneses são mais tranquilos, andam com a bolsa toda aberta, largam (a bolsa) e vão fazer outras coisas. Isso é uma atenção que a gente tem que chamar, dizer que tomem cuidado. Estamos trabalhando junto com a polícia local e saber quais são as atenções que precisamos passar para os turistas japoneses”, destacou.

O trabalho especial para a Copa é apenas mais uma missão a se somar ao trabalho dedicado da diplomata, que está há dez meses no consulado em Recife. Uma missão que vai muito além da simples emissão de passaporte e visto, mas a difusão da cultura japonesa. E sobre esse trabalho, Hitomi enaltece a receptividade dos nordestinos. “Vi em Natal que as pessoas gostam muito da cultura japonesa, gostaria de vir mais vezes para poder trabalhar com eles. Só que o tempo é muito escasso. Eu sinto uma pena de não poder vir aqui mais vezes”, comentou a cônsul.

Acompanhe a entrevista de Hitomi Sekiguchi.

Como a senhora, como diplomata, acompanha a proximidade da Copa do Mundo e como atua junto às cidades que sediarão os jogos do Japão (como Natal)?
Depois de 64 anos a Copa será realizada no Brasil. Vejo que a expectativa é muito grande. Eu mesmo fico bastante ansiosa como essa Copa vai ser porque a própria presidenta Dilma fala que será a Copa das Copas. O Brasil que é o país do futebol a gente fica imaginando como será. O Japão já sediou a Copa e naquela época, realmente, o futebol estava no auge, começou o profissionalismo no Japão e tudo mais. Mas o Brasil tem um histórico muito mais antigo, muito mais forte e o povo parece que respira futebol. Eu tenho a expectativa para que seja uma Copa muito grande. Agora existe a questão da infraestrutura, mobilidade. A gente lê muito nas notícias, escutamos muito. Justamente, as cidades grandes que estão acostumadas a receber grandes eventos, ou mesmo os clássicos do futebol, também tem problemas. Veja São Paulo, por exemplo, está com o problema do estádio Itaquerão. Isso eu acho que é uma preocupação geral no Brasil. Pela minha longa experiência do Brasil, o país sempre consegue fazer as coisas.

Como a senhora avaliaria a experiência que o Japão teve de sediar a Copa do Mundo?
Acho que tudo deve ter um legado. E o Brasil promete que vai deixar um legado e será bom para população. Assim espero que seja, realmente. Já está sendo aqui com tanta gente voltada para o Brasil, tanta gente querendo vir para cá. Só no turismo acho que já ai ser uma grande movimentação econômica. Até mesmo os países que não conheciam muito bem o Brasil fora do carnaval já estão mais atentos. Muitos japoneses nunca vieram para Natal. E se estão chegando aqui, estão procurando. Com certeza Natal vai ser o assunto do momento. Vai ser muito bom para o Brasil.

A que se deve esta missão da senhora em Natal?
Não é com freqüência que eu visito Natal. Desta vez que eu assumi o consulado (ela está há dez meses como cônsul em Recife) é a primeira vez que estou vindo para Natal. Fiz uma reunião com a prefeitura, com o governo do Estado. Eles estão sendo muito receptivos, solidários com nossa preocupação. Eu estou trazendo  nossa maior preocupação é com a torcida japonesa que vem para cá e não fala português. Como eles vão se virar caso ocorra alguma coisa? Isso não é o caso exclusivo do Brasil. Em qualquer lugar do mundo você está sujeito a perder o passaporte, ter alguma dor de barriga, gripe. Toda essa preocupação a gente tem. Queremos fazer o alinhamento com os governos locais, com a FIFA local também para ver como o consulado pode ajudar para tudo correr muito bem.

Como o Consulado irá atuar durante os jogos do Japão na Copa do Mundo?
Nós estamos montando uma equipe porque vai acontecer jogos em Recife e depois em Natal. São equipes que vão atuar para dar uma assistência caso necessite. Espero que ninguém precise de nós, mas caso necessite para encaminharmos e dar as orientações adequadas para eles poderem sentir a viagem tranqüila.

Uma viagem do Japão para Natal é muito distante. Mas a senhora acredita que com a Copa poderá aumentar o número de turistas japoneses no Nordeste?
Com certeza. Eu não sei qual é o número de japoneses que conseguiram ingresso para assistirem aos jogos porque isso fica com o controle da FIFA. Mas parece que a procura está sendo grande. Eu já ouvi falar que muitos japoneses já conseguiram bilhete. Estão vindo para o Nordeste. Uma dificuldade é a questão do vôo. Não há vôo direto. Precisa fazer escala e entrar por São Paulo ou Rio de Janeiro. Tem toda essa logística, mas sei que a procura está sendo muito intensa.

Como é o trabalho do consulado japonês em Recife? Qual a maior demanda?
O consulado, primeiro, emite assistência ao cidadão nacional. Aqueles que moram lá precisam de renovação de passaporte, certidão. Também trabalhamos com os japoneses que vão viajar para o Japão. Nós emitimos vistos. Então essa é a parte consular. Depois fazemos o trabalho de divulgação da cultura japonesa. São atividades culturais, fazemos exposições, palestras e além de projeto de cooperação econômica, cooperação técnica, um programa de assistência aos projetos comunitários. E as cidades carentes que nos procuram nós fazemos uma doação para construir blocos cirúrgicos, escolas, quadras, doamos equipamentos. São projetos comunitários.

Quantos japoneses têm hoje no Nordeste?
Não tenho em mente no Nordeste todo. Mas em Natal sei que é muito pouco. Em Recife temos quase 300 japoneses.

Como é a demanda pelo visto japonês?
Cresceu muito a procura pelo visto japonês. Desde 2011 para 2012 tivemos um crescimento de 10%, estamos falando aí de mais de 1.000 vistos emitidos. De 2013 para cá houve um crescimento ainda maior. Só no mês de janeiro a março deste ano tivemos mais que o dobro. No geral tem crescido a procura.

A que a senhora credita esse interesse maior do brasileiro pelo Japão?
Acho que o brasileiro está com o poder aquisitivo maior. Eles estão viajando bastante. Mesmo que o Japão seja mais longe, pode ser que eles tenham uma última escolha, conhecer o mundo todo e vai para Ásia. E há muitos negócios, muita gente vai a trabalho, fazer estágio técnico, bolsa de estudo. Tudo isso contribui para o crescimento.

A senhora já passou por vários consulados do Japão no Brasil. O que diferencia um do outro? Quais são as peculiaridades?
Primeiro é a característica de cada cidade. Depois varia muito, quando tem muita comunidade japonesa. Em São Paulo o foco do trabalho é outro. A comunidade é muito grande. Tem muitos nacionais japoneses. Essa parte consular demanda muito trabalho porque é passaporte, certidão, registro, é bem maior. Agora em partes culturais também. No Rio de Janeiro e em São Paulo a maior parte da população já conhece muito da cultura japonesa, então a exigência é maior, querem coisa nova. Aqui no Nordeste já é menor esse conhecimento. E tudo que nós fazemos, as pessoas ficam muito felizes, são muito receptivas. Fazemos trabalhos manuais, eles adoram. Seja o que for a cultura japonesa para divulgar no Nordeste é muito bom.

A senhora diria que seu desafio no consulado é maior pelo desconhecimento que o Nordeste tem da cultura japonesa?
Não exatamente. Porque nós vamos nos adequando a necessidade. O desafio é sempre igual, temos que fazer nosso trabalho muito sério. Se fizermos qualquer coisa as pessoas vão reagir. É muito sério esse trabalho. Apenas que o consulado no Recife é pequeno, somos um número muito reduzido. Vi em Natal que as pessoas gostam muito da cultura japonesa, gostaria de vir mais vezes para poder trabalhar com eles. Só que o tempo é muito escasso. Eu sinto uma pena de não poder vir aqui mais vezes. Quando o consulado é grande podemos dividir alguns trabalhos e focar melhor em determinados assuntos. Em Recife eu faço um pouco de tudo.

A senhora apostaria no crescimento do turismo brasileiro no Japão e vice-versa?
Acho que sim. Do Brasil para o Japão primeiro tem que resolver a questão da mobilidade. Quando não tem vôo direto é sempre mais complicado. Você tem que fazer  escala, já é distante os dois países e sem vôo direto. Essa questão precisa ser resolvida para fluir melhor. Mas independente disso, como o Japão também está com muito interesse no Brasil, país que está com economia crescente, há muitos negócios sendo realizados, empresas japonesas estão voltando a investir no Brasil, com isso as pessoas ligadas aos negócios estão vindo. Uma vez que vêm acabam gostando muito do Brasil e chamam a família, os amigos. Acho que com a Copa as pessoas vão conhecer cidades que nunca haviam imaginado, como Natal. Geralmente, o japonês quando vêm para cá, até mesmo de férias, o tempo é muito curto. Eles só escolhem os(destinos) mais conhecidos: Rio de Janeiro, Foz do Iguaçu ou talvez Manaus. Mas agora não. Eles vão conhecer a costa do Nordeste e vão descobrir que o Nordeste é muito lindo e, quem sabe, com isso os japoneses vão focar mais no Nordeste.

A segurança do Brasil lhe preocupa?
Sim. Segurança é geral. A criminalidade no Japão ainda é bem pequena. Os japoneses são mais tranquilos, andam com a bolsa toda aberta, largam (a bolsa) e vão fazer outras coisas. Isso é uma atenção que a gente tem que chamar, dizer que tomem cuidado. Estamos trabalhando junto com a polícia local e saber quais são as orientações que precisamos passar para os turistas japoneses.

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