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O RN e pesca continental

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Antonio-Alberto Cortez
Professor da UFRN (licenciado). Subsecretário de Pesca e Aquicultura da SAPE-RN

Entre as incontáveis vocações do Rio Grande do Norte destaca-se a atividade pesqueira artesanal. No litoral, nas reentrâncias estuarinas, nos açudes, rios e lagoas lidam nas práticas da pesca e na cata de crustáceos e moluscos um contingente de 42 mil trabalhadores. No entanto, muitas são as pessoas que não sabem da importância da pesca continental, ou seja, a que se estabelece nos rios, nas lagoas, nos açudes e que, desses espaços produtivos 15 mil pescadores diuturnamente retiram o sustento de suas famílias. São, os pescadores continentais, os responsáveis por um percentual significativo do pescado comercializado em praticamente todos os municípios interioranos do nosso Estado, cuja produção alcança, em anos normais, a média de 9 mil toneladas. Hoje, testemunhamos com pesar, uma situação inusitada.

Na verdade, as estiagens fazem parte do semiárido nordestino, mas não por período tão longo e arrasador. A maioria dos açudes pequenos e médios está vazia; grandes coleções, como a lagoa de Piató não tem água alguma. Para os grandes reservatórios – Armando Ribeiro Gonçalves (Assu), Itans (Caicó), Santa Cruz (Apodi), Umari (Upanema/Campo Grande) foram estabelecidos rigorosos critérios de uso e retirada do precioso líquido. E como agem os setores competentes no sentido de garantir a pesca onde ainda é possível? Bem, o Governo do Rio Grande do Norte, através da Secretaria de Estado da Agricultura, da Pecuária e da Pesca – SAPE-RN por meio de um Termo de Cooperação Técnica com o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas – DNOCS, juntos, promovem o repovoamento em açudes públicos e privados do RN. A Estação de Piscicultura “Estevam Oliveira”, localizada à jusante do açude Itans, compõe a estrutura garantidora da distribuição de alevinos nos corpos d’água das diversas regiões do Estado. Graças ao repovoamento, os cardumes são mantidos em níveis satisfatórios garantindo, assim, o exercício da atividade pesqueira.

 Mas, apesar da estiagem, do consequente esvaziamento dos açudes e da redução de volume nas demais coleções de água, em algumas cabeceiras chuvas intensas possibilitaram   transbordamento de alguns reservatórios como o Novo Angicos, o Caraúbas e o Bonfim, no Município de Angicos e Pataxó, em Ipanguassu, entre outros. Os três primeiros, ainda em dias do mês de maio, foram povoados com 90.000 mil alevinões (no caso, filhotes juvenis com 90 gramas), o que garantirá, a partir de setembro, o reinício das pescarias. Sem dúvida, o cardume, a essas alturas já está se reproduzindo, o que é essencial à manutenção, em bases sustentáveis, das pescarias. No período de janeiro a junho deste ano, foram repovoados 121 das 140 coleções catalogadas na Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recurso Hídricos – SEMARH mediante a soltura de mais de 1,1 milhão de alevinos.

As perspectivas da quadra invernosa para o ano de 1916 sinalizam um certo pessimismo que, caso se concretize, reduzirá de forma jamais vista a pesca continental no semiárido. Vale lembrar que, o esvaziamento dos açudes impede a piscicultura em tanques-redes e nos viveiros que se abastecem de águas represadas. Restam, ainda, para que a produção de peixes aconteça, a aquicultura em tanques escavados e o cultivo de alta densidade com recirculação utilizando águas subterrâneas, assunto a ser abordado em outra oportunidade.

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