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“O setor de Serviços não é uma ilha em meio à desaceleração da economia”

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Entrevista – Marcelo Queiroz
Presidente da Fecomércio-RN

A Copa do Mundo ajudou a movimentar o setor de serviços, que inclui bares, restaurantes e hotéis, mas não foi suficiente para manter o mesmo ritmo de crescimento que o setor vinha alcançando no Rio Grande do Norte em meses anteriores. É o que mostra pesquisa divulgada esta semana pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), tema principal desta entrevista que o presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do RN, Marcelo Queiroz, concedeu à TRIBUNA DO NORTE. “O setor de Serviços não é uma ilha – nenhum setor é – dentro deste cenário de desaceleração forte que nossa economia vem registrando”, diz ele. Confira a entrevista:
Marcelo Queiroz, presidente da Fecomercio-RN
O IBGE divulgou esta semana pesquisa mostrando que a receita do setor de serviços do RN cresceu 7,6% em junho, em relação a junho do ano passado. É o segundo maior crescimento do Nordeste e está acima da média nacional. O que contribuiu para esse resultado, no mês da Copa?
O nosso setor de Serviços – com destaque muito forte especificamente para o segmento de Alimentação e Hospedagem – teve duas peculiaridades no que diz respeito à Copa. A primeira, negativa, é que vínhamos registrando um período muito ruim, em que flertávamos com um início de crise no nosso turismo. As taxas de ocupação de nossos hotéis e pousadas, desde janeiro de 2012, vinha em declínio, fruto da redução drástica no número de visitantes, da falta de divulgação, enfim, da ausência de uma política pública que realmente mostrasse preocupação com o nosso turismo. Eu mesmo dei várias entrevistas alertando para este quadro. Sendo assim, o movimento de junho deste ano tinha que se destacar muito em relação a junho do ano passado, porque a comparação se deu em bases muito baixas. A segunda peculiaridade, esta positiva, é que nossos empresários do setor de turismo arregaçaram as mangas. Nós investimos em qualificação de pessoal, nos nossos estabelecimentos.  Fomos buscar turistas quando a Fifa devolveu boa parte dos leitos que havia bloqueado em Natal, fizemos trabalho de formiguinha mesmo. O resultado está aí.

Contudo, também é possível perceber que houve perda de ritmo em relação ao desempenho dos meses anteriores no RN. Em abril, o crescimento do setor foi 8,3% e em maio foi 9%. No acumulado do ano, até junho, a receita cresceu 8,8%. O que motivou essa desaceleração?
Este ponto precisa ser analisado dentro de todo o contexto econômico que estamos vivendo. O setor de Serviços não é uma ilha – nenhum setor é – dentro deste cenário de desaceleração forte que nossa economia vem registrando. O comércio, por exemplo, que de janeiro a junho do ano passado cresceu 9,4%, este ano, no mesmo período, emplacou alta de apenas 3,2%. É uma tendência que, infelizmente, temos verificado por causa de todos os indicadores ruins que temos visto. Se contextualizarmos neste cenário, a desaceleração do setor de Serviços, mesmo em ano de Copa, era mais que esperada. Note que o crescimento superior a 8% é algo que pouquíssimos setores da nossa economia podem se orgulhar de ostentar hoje. E ele só foi possível, justamente, por causa da Copa.

Conforme os números do Caged, junho não foi bom em empregos: o saldo no RN ficou negativo, com 567 empregos formais  eliminados, o pior resultado desde 2003. Ainda assim, no mês da Copa, o setor de serviços foi o segundo que mais empregou no Estado, registrando saldo positivo de 220 empregos. Como o senhor analisa esse resultado para o setor?
É mais uma prova de que, sem a Copa, nosso setor de Comércio, Serviços e Turismo, estaria mergulhado numa crise profunda e com consequências desastrosas para a nossa economia. Os empregos e o incremento de faturamento deste setor se deram quase que exclusivamente por causa do evento.

Diferentemente do setor de serviços, o comércio foi o segundo pior em empregos no RN no mês de junho, ficando com saldo negativo de 352 empregos formais. Qual a sua avaliação?
É exatamente este contexto ao qual eu me referi. Vimos falando disto há alguns meses. Mas vínhamos crescendo, embora em um ritmo menor. Em junho, por causa sobretudo da greve dos Rodoviários, que parou a cidade de Natal por 13 dias seguidos, e também em virtude dos horários diferenciados do comércio por causa dos jogos, registramos uma retração, de 1,9%. Com isto, o percentual de crescimento acumulado (3,2%) nas nossas vendas este ano já está muito abaixo dos 9,4% que tínhamos registrado no período de janeiro a junho de 2013. É uma queda muito aguda e, pior, sem perspectivas reais de ser revertida a curto prazo. Nossa projeção de crescimento das vendas para este ano como um todo, que vínhamos posicionando entre 4,5% e 5,5% já terá que ser revista, para baixo. Quando falo da falta de perspectivas reais de ser revertido este quadro, me refiro exatamente ao atual cenário econômico nacional.

Quais são as dificuldades?
O que está posto é um quadro de inflação em alta (no teto da meta do Governo, que é de 6,5% ao ano), crédito mais caro (taxa média de juros ao consumidor acima dos 6% ao mês), inadimplência em alta (crescimento de 7,2% em julho) e previsão de crescimento mínimo para o PIB deste ano (alguns analistas já falam em menos de 0,8%). Todos estes fatores compõem um cenário preocupante. Os governos precisam agir, e urgentemente. E o caminho é investir no setor produtivo, repensar a nossa burocracia, promover as reformas constitucionais e apostar em projetos que gerem emprego e renda.

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