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O voo de Pery

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Woden Madruga [ [email protected] ]

Aos 88 anos, completados no dia 2 deste mês, Pery Lamartine fez o seu último voo no amanhecer de sábado, agora. Piloto, instrutor de aviação, escritor, empresário do turismo, sertanejo, um homem cordial. Tive o privilégio de sua amizade num rica convivência por mais de 60 anos. As esquinas da Ribeira foram os pontos de nossas primeiras conversas: aviação, sertão, literatura de cordel, política, jornal, literatura, os boatos da aldeia. Com o passar do tempo   foram surgindo seus livros. O aviador se descobre escritor, inspirado em Fabião das Queimadas, o maior poeta popular do Rio Grande do Norte. Pery, então, fez seus primeiros versos. Mas certamente foi o  tio Oswaldo Lamartine de Faria quem apontou as rotas para seus próximos voos no rumo da literatura, confirmando o pesquisador fiel às suas origens sertanejas, menino magro e comprido nascido no Seridó (Caicó).

Em 1964, em parceria com Oswaldo Lamartine, publicaria o seu primeiro trabalho,  Algumas Abelhas dos Sertões do Seridó (Notas de Carregação), que depois, em 1980, Oswaldo incluiria no seu livro Sertões do Seridó, publicado pelo Senado Federal, com apresentação de Francisco das Chagas Pereira. Em 1982, Pery fez seu voo solo como pesquisador publicando Assentamentos da Família Lamartine. Nestes dois primeiros livros o autor se apresenta com o seu nome de batismo: Hypérides. No terceiro livro, Aeroplano, publicado em 1983, surge o Pery que continuaria nas capas dos novos livros: Pery Lamartine. O  último foi publicado ano passado, História de uma Photographia.

Ao todo, acho que Pery publicou uns dez, doze livros. Vou me lembrando de Timbaúba – uma fazenda do século XIX, Velhas Oiticicas, que tem prefácio de Eulício Farias de Lacerda e orelhas de Luís Carlos Guimarães, dois grandes nomes da literatura potiguar, e ilustrações de Orlando Morgantini, artista plástico ítalo-natalense. Em seguida, Epopeia nos Ares (crônicas), publicado em 1995 pela Fundação José Augusto, que também publicou Velhas Oiticicas, 1991. O livro Escape é de 1998, com prefácio  de Graco Magalhães, também aviador. Em 2000 saiu Serra Negra: Anos 50 e Coronéis do Seridó, 2005. Pery publicou ainda Saint Exupéry na América Latina.

Em 2010 saiu A Rodagem, que conta a pioneirismo do transporte rodoviário entre o Seridó e Natal, tempo dos mistos e das sopas desbravadoras. Tem prefácio de Eva Barros e orelhas de Valério Mesquita. Neste livro, que folheio agora com   emoção, Pery foi generoso no  autógrafo  que deu para este batedor de notícias: “Ao amigo Woden Madruga, uma velha e grande amizade que não se acaba. Natal, 1º/3/10. Pery Lamartine.”

Era imortal da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras. Manoel Onofre Jr, também acadêmico, em seu livro Alguma Prata de Casa, publicado pela Nave da Palavra, em 2012, no capítulo que trata da memorialística potiguar, disse o seguinte sobre Pery Lamartine quando se refere ao seu livro Velhas Oiticicas: “Descrevendo costumes, paisagens, fatos e tipos humanos de   sua terra – o Seridó velho de guerra -, Pery Lamartine enriquece, com esta obra, a memorialística potiguar, e ao mesmo tempo apresenta uma despretensiosa contribuição para o estudo da etnografia sertaneja, como, aliás, já o fizera em livro anterior, “Timbaúba, uma Fazenda do Século XIX”.

Em abril do ano passado fiz com Pery – ele já se queixando da doença, mas sem perder a alegria de viver e o bom humor que lhe caracterizava -,  Paulo Balá  e Cassiano Bezerra, uma visita ao Museu do Sertão, obra de Marcos Lopes na sua Fazenda Bonfim. Foi uma tarde/noite agradabilíssima no convívio com gente da melhor qualidade. No Jornal de WM de 18 daquele mês, abri a coluna  falando sobre essa excursão de onde destaco dois trechos:

– Há tempo que Paulo Balá programava uma ida ao Museu do Vaqueiro, me metendo na excursão até à Fazenda Bonfim, de Marcos Lopes, em cujos tabuleiros, além do Forró da Luz a e mata ao lado para a pega do boi, tem agora o museu. Foi inaugurado em dezembro do ano passado, um projeto que ele trabalhava há mais de dez anos. Segunda-feira agora aconteceu a visita. Pegamos a estrada, coisa das três da tarde: Paulo, Cassiano Bezerra, Pery Lamartine e eu. Os três vaqueiros, derrubadores de boi. Eu, não. Mas tenho um neto, Tibério, que já pratica o esporte da vaquejada pelas ribeiras do Potengi. De Natal até o Bonfim não dá 40 minutos.

– Foi um dia e tanto. Imagine o prosear do doutor Paulo Balá trocando histórias com Pery, aqui e acolá aparteados por Cassiano reavivando a memória dos dois primos. Isso enquanto o carro ia pela BR-101 no rumo de São José de Mipibu, onde fica o feudo de Marcos Lopes, fazenda que se estica até a beira da Lagoa do Bonfim. Logo na entrada, a 1,5 da rodovia (na altura do posto da Polícia Rodoviária) está o museu, um espaço eu  não se limita apena a réplica de um belo casarão do século 19 (Fazenda Poço Verde, na Serra de João do Vale, em Campo Grande) que Marcos construiu e nele instalou o Museu do Vaqueiro. Os seus arredores integram o projeto. A gente vai chegando e vendo a estátua de Luiz Gonzaga, erguida no pátio, saudando o visitante.

Inflação
A notícia não é boa, mas era esperada. Esta na capa dos principais jornais: “A previsão para a inflação de 2014 sobe para 6,43%”. Debulhando a notícia:
– A projeção para a inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2014 subiu de 6,39% para 6,43%, segundo o boletim Focus divulgado nesta segunda-feira, 19, pelo Banco Central.

Escoteiro
A Assembleia Legislativa do Estado faz sessão especial hoje, às 9 horas, para celebrar o Dia Nacional do Escoteiro ao mesmo tempo que comemora os 80 anos do Grupo de Escoteiro José Nazareno Fernandes, de Assu.

Poesia
Anote em sua agenda: sexta-feira, 23, tem o lançamento do livro de poemas de Lívio Oliveira, Resma. Será às 18 horas na Livraria da Cooperativa Cultural da UFRN, Centro de Convivência Djalma Marinho.

Educação
Não sei por que o governo do PT se ufana tanto. Veja a notícia que acabo de ouvir na CBN: “No Brasil, 8,5 milhões de alunos estão atrasados duas séries na escola”. São dados do Censo de Educação Básica 2013. Mostram que 6,1 milhões de estudantes do ensino fundamental e 2,4 milhões do ensino médio não estão na série ideal. Disse a secretária de Educação Básica do MEC, Maria Beatriz Luce:

– Temos esse descompasso, que á falta de correspondência entre a idade e o ano escolar. A responsabilidade de solucionar esse problema é do governo federal e dos governos estaduais e municipais, junto com a sociedade.

Bom, daqui  a três semanas tem a Copa. Beleza!

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