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Ônibus param em protesto contra a insegurança

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Preocupados com a onda de assaltos aos ônibus em Natal, os rodoviários pararam o sistema de transporte coletivo em dois horários diferentes. Até ontem, já foram registrados 30 assaltos a ônibus em Natal este ano. A manifestação da manhã de ontem começou as 9 horas e terminou às 11 horas, com a interdição de ruas como como avenida Rio Branco, Largo do Dom Bosto, na Ribeira; Avenida Mor Gouveia, Ponte Newton Navarro e avenida Salgado Filho, nas proximidades do cruzamento do shopping Midway Mall.
Um dos pontos de concentração dos veículos foi na descida do Baldo
À tarde, foram mais duas horas de protesto, das 16 às 18 horas, na avenida Bernardo Vieira; rua Mário Negócio, nas Quintas; na descida do Baldo, em frente a sede do Sintro, e de novo na Capitão Mor Gouveia e Largo Dom Bosco.

Até ontem (24), o Sindicato dos Transportes Urbanos do Rio Grande do Norte (Seturn) já havia contabilizado a ocorrência de 30 assaltos nos ônibus que circulam em Natal, sendo 21 destes confirmados pela Polícia Militar.

Os rodoviários externaram a preocupação com a alta incidência de assaltos. “Natal nunca teve um índice tão alto de assaltos a ônibus e uma falta de segurança tão evidente. É uma situação generalizada, que acontece em qualquer bairro e a qualquer hora”, afirmou o presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários do RN, Nastagnan Batista.

Ele reclama da falta de um  trabalho preventivo e afirma que, apesar de existir, a ação da Polícia Militar, através da operação Transporte Seguro, não é suficiente. “Parece que tem mais bandido que polícia. O que percebemos é que a polícia faz uma barreira num determinado ponto e um quilômetro antes, o bandido assalta o ônibus”.

O que corrobora para aumentar a incidência dos assaltos, pontuou Nastagnan, é a falta de investigação por parte da Polícia Civil. “Além de demorar de duas a três horas para fazer o boletim de ocorrência, a polícia não se empenha em investigar. Simplesmente arquivam o caso, e acabamos sem ter uma resposta da polícia”.

Os motoristas e cobradores enviaram ofício para a Secretaria Estadual de Segurança reivindicando a criação de uma delegacia especializada para investigar os assaltos.

O pânico e estresse, segundo o presidente do Sintro-RN, tem tomado conta da categoria. Ele disse que outra preocupação é que algumas empresas terminam efetuado o desconto do valor levado em assalto do salário do operador.

SINDICATOS

A paralisação, que foi criticada por muitos usuários do transporte coletivo, que tiveram sua viagem interrompida, foi apoiada por sindicalistas e alguns parlamentares. Respondendo a críticas de usuários, Alberto Moura, do Sindágua, disse que transtorno maior é entrar num ônibus e se deparar com um marginal. “Em um minuto, você pode ter sua vida ceifada”.

“Estamos nos unindo em repúdio à insegurança. Está na hora de barrar essa onda de insegurança porque é uma situação inaceitável. Vamos parar quantas vezes forem necessárias, e se preciso levaremos os ônibus para frente da Governadoria”, afirmou o representante do Sindicato dos Trabalhadores nos Correios do RN, Moacir Soares.

A presidente do Sindicato das Costureiras e Trabalhadores na Indústria da Confecção, Maria dos Navegantes, considerou a onda de assaltos “como consequência de irresponsabilidade na gestão da segurança pública”.  

PLANO ESTADUAL

O vereador George Câmara (PcdoB) cobrou a elaboração do Plano Estadual de Segurança nos Transportes Públicos. Ele anunciou para a próxima sexta-feira, 27, uma reunião extraordinária do Comitê de Segurança nos Transportes Públicos.

Criado pelo gabinete do vereador, que é coordenador do Parlamento Comum da Região Metropolitana de Natal, o Comitê tem representação do Sintro-RN, do Sindicato dos Transportes Opcionais, do Sindicato dos Taxistas e da Polícia Militar.

Dados do Seturn apontam as empresas de transporte coletivo que mais foram vítimas de assalto nos primeiros 23 dias do ano. Segundo o relatório, a Guanabara foi a companhia mais afetada pela ação dos bandidos, tendo 10 de seus ônibus alvos de criminosos em 2012. Em seguida, aparecem as empresas Conceição, com 8 ônibus assaltados; Reunidas, com cinco; Santa Maria e Cidade do Natal, com dois; e Transflor, com um.

Paralisação do serviço de transporte divide opiniões

A forma escolhida pelo servidores para protestar pela insegurança dividiu a opinião da população durante a manhã de ontem. A paralisação total dos serviços durante duas horas irritou alguns passageiros, enquanto outros compreenderam a motivação. Na longa fila de veículos formada na avenida Bernado Vieira, a equipe de reportagem conversou com a comerciante Marta Edilene. Ela aguardava o retorno do funcionamento da linha 04 para ter condições de chegar em casa. “Acho justo a paralisação. Estão cobrando para que algo de errado não volte a acontecer. Estou aguardando o retorno da linha para poder chegar em casa”, disse.

A passageira contou que já foi assaltada durante uma viagem que realizava no serviço público de transporte. “Isso ocorreu no ano passado, quando dois pivetes entraram no ônibus e saíram tomando as bolsas de todo mundo. Fui na delegacia registrar o boletim de ocorrência, mas até agora não tenho notícia nenhuma dos meus pertences”, afirmou.

Quem também se mostrou a favor do protesto foi a servidora pública Vilma Leão. “É uma vergonha haver essa quantidade de assalto e a polícia não se mexer. Precisa aumentar o contingente e fazer com que também haja investigação”, contou Leão, que também aguardava o retorno do serviço na avenida Bernardo Vieira.

A opinião favorável não foi unanimidade. Alguns passageiros da linha 73, da empresa Reunidas, chegaram a quebrar vidros de janelas e portas quando foram informados da paralisação. De acordo com relato de funcionários, eles não gostaram de saber que teriam que interromper a viagem e chegaram a ameaçar o cobrador e o motorista. O espelho do corredor do corredor do veículo também foi quebrado.

DELEGADO ESPECIAL

O delegado geral da Polícia Civil, Fábio Rogério Silva, disse em entrevista à TRIBUNA DO NORTE, terça-feira passada, que um levantamento mais detalhado está sendo feito para mapear as áreas e horários de ocorrência dos assaltos a ônibus em Natal, “a fim de identificar as pessoas que estão cometendo esse crime”. 

O delegado geral adiantou que o delegado especializado de Furtos e Roubos, Atanásio Gomes, deverá ser nomeado, em caráter especial, para investigar a onda de assaltos em transportes coletivos. Silva esclareceu que a Polícia Civil “não tem condição de colocar um agente de polícia em cada ônibus”, mas será aberta uma investigação para saber quais as linhas que são o principal alvo dos meliantes, assim como “traçar um perfil desses indivíduos”.

Segundo Fábio Rogério, a Polícia Civil também vem atuando para coibir outros crimes nesse período de veraneio, como ocorreu com a prisão de uma quadrilha que andava assaltando casas de praia na Região Metropolitana de Natal: “São muitos bandidos e não tem como desarticular tudo de uma vez só”

Bate-papo

» Jessé Cândido, motorista em licença médica

Jessé Cândido Lisboa é motorista de ônibus há pelo menos 30 anos e já foi assaltado quatro vezes em Natal. Hoje, ele está na perícia médica, sem poder voltar ao trabalho, sofrendo de diabetes e pressão alta por causa da insegurança na sua atividade laboral.

O senhor está afastado desde quando do trabalho?

Desde 2010, o último assalto que sofri, fiquei com uma pressão altíssima e os médicos mandaram eu me afastar. E quero dizer que não tem só eu, inúmeros companheiros estão doentes, tem empresas aí com mais de 100 companheiros afastados por causa do sistema nervoso abalado, diabetes, pressão alta, são pressões de todos os lados.

Quer dizer que tem tanta gente assim passando por esses problemas?

A maioria do pessoal é todo encostado pelo INSS e eu não tenho mais condições de voltar ao trabalho.

O senhor também defende que as pessoas entrem com uma ação indenizatória contra o Estado pela falta de segurança?

Eu acho que não só a classe rodoviária, mas todos aqueles que andam de transporte coletivo, no dia em que for assaltado faça boletim de ocorrência e entrem com uma ação para que  governo indenize essa arbitrariedade que está acontecendo com toda a sociedade de natal, o governo tem de arcar com as despesas, tem pessoas como eu gastando com remédios sem poder, a população deve se reunir e entrar com a ação, só assim eu creio que vai melhorar o transporte coletivo.

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