quinta-feira, 28 de março, 2024
30.1 C
Natal
quinta-feira, 28 de março, 2024

Opção ou necessidade?

- Publicidade -

Vicente Estevam
Repórter

Primeiro foi Mano Menezes, que antes de ser demitido da Seleção Brasileira, ensaiava a formação de uma equipe sem centroavante fixo. Felipão insistiu com a presença dessa figura em campo e não deu resultado, agora, logo em sua primeira convocação, Dunga demonstra uma inclinação para atuar sem homens fixos no setor ofensivo, priorizando os atletas de mais movimentação. Será que a posição de centroavante, assim como as dos pontas abertos, na década de 80, está fadada a se acabar no futebol?

Essa tendência foi iniciada no time do Bracelona, comandado por Pepe Guardiola e que praticou um futebol encantador, logo definido como o esquema Tic-Tac, onde ao invés de carregar a bola em velocidade e partirem para o drible, os atletas optavam por ficarem trocando passes, até perceber uma vulnerabilidade no sistema defensivo adversário para dar o bote. Ao se definir pela formatação, já extinta inclusive no próprio clube Catalão, Dunga destaca que  a ideia é “modernizar” o modo de atuar ofensivamente do Brasil, que durante a Copa do Mundo fez Fred e Jô parecerem figuras nulas dentro de campo.

“Vimos na Copa que temos de refazer nosso pensamento. Atacante é quem chega lá na frente para fazer o gol. Isso independe se ele é o nove, se ele é o dez, se ele é o três, se ele é o dois ou se ele é o cinco. A gente fala que temos que modernizar o futebol, mas ficamos muito presos a números”, enfatizou Dunga.

Na avaliação do técnico, jogadores como Everton Ribeiro, Oscar, Ricardo Goulart, Willian e Philippe Coutinho, além de Neymar, Hulk e Diego Tardelli, podem ser agudos no ataque sem necessariamente serem jogadores de área.

Aquilo que começa a ser implantado por Dunga, pode virar tendência no futebol nacional, uma vez que a seleção costuma servir de espelho para os nossos clubes. Assim como foi feito em 1996, quando o falecido Telê Santana, por falta de opções na formação do meio-campo devido a contusão de Zico e a má fase de Toninho Cerezo, optou pelas escalações de dois volantes de marcação: Elzo e Alemão, e depois ninguém mais abriu mão  no Brasil, de montar o meio-campo com essa formatação.

Divergência

Se a extinção dos pontas e a presença de dois homens de pegada no meio-campo foram aceitas sem maiores objeções e apenas agora também começa a ser objeto de reflexão, a referente ao atacante de referência promete sofrer mais resistência. Prova disso é que divide opiniões no meio do futebol. Em Natal os treinadores do ABC, Zé Teodoro, e do América, Oliveira Canindé, demonstram opiniões bem distintas sobre o tema.

“Tudo depende do jogo. Estou jogando com centroavante, mas, não morro de amores por essa posição. Não necessariamente quem faz os gols tem que ser o jogador que está fixo na área. O esquema de jogo é quem vai definir. Podemos jogar com atacantes abertos, para dar espaço aos atletas que jogam no meio de campo. Tudo é questão de esquema de jogo”, afirmou Oliveira Canindé.
Oliveira Canindé - técnico do América: Não morro de amores por jogadores nessa posição
O comandante abecedista entende que o futebol está passando por mais uma evolução,  buscando tentativa de atacar e furar a marcação adversária de forma mais eficaz. Mas Zé Teodoro não acredita que essa evolução atinja em cheio os atacantes de referência. “Quem tem o dom de fazer gols, se colocar bem na área e concluir com perfeição, não tem como perder espaço”, ressaltou.

Para ele, que atuou no São Paulo com Serginho Chulapa, atacantes com as mesmas características do antigo companheiro de equipe, jamais perderão espaço. “Acho que eles não estão com o dia contado no futebol. O atacante bom, oportunista e que sabe fazer gol sempre terá vaga em qualquer equipe. Acredito apenas que esse jogador terá de passar por um processo de readaptação, marcar um pouco mais, se movimentar. Nada além disso. O futebol mundial hoje vem povoando muito o meio-campo e  tudo isso é efeito das tentativas de facilitar o acesso ao ataque. O futebol atual está resumido hoje a marcação, força e velocidade”, ressalta Teodoro.
Zé Teodoro - técnico do ABC: Quem tem o dom de fazer gols, se colocar bem na área e concluir com perfeição, não tem como perder espaço
Assim como o centroavante, há necessidade ainda de outra modificação no futebol segundo Zé Teodoro. Ela afetará  diretamente, o estilo de jogo do chamado meia-armador, o camisa dez. “Esse atleta cujo exemplo é Paulo Henrique Ganso, jogador que alimenta, está encarregado de dar o passe final e que cria as jogadas de ataque, agora tem de aprender a marcar também.  Ele terá de mudar a característica senão obriga o treinador a jogar não apenas com dois homens de marcação, mas as vezes três marcadores no meio-campo. Se esse tipo de atleta não adquirir característica de marcação, certamente terá problema para encontrar espaço nas equipe num futuro próximo”, destaca.

Característica

Para Dênis Marques, homem de referência no ataque do ABC, o fato de a convocação de Dunga não contar com jogadores fixo na frente, demonstra apenas a característica do treinador. “Se ele está fazendo essa opção como treinador da seleção, é uma questão própria dele, cabe a gente aceitar essa posição e observar como a questão irá fluir. Na minha ótica é apenas a visão de alguns treinadores em particular, pois a figura desse atacante é difícil acabar”, opinou.

Denis acredita que mesmo se essa opção passar a ser uma tendência no futebol brasileiro, ele e os demais atacantes de referência não terão tanta dificuldade para se adaptar. O atleta não mostra preocupação, caso Zé Teodoro passe a exigir mais movimentação dele a partir de agora. “Quando eu iniciei na carreira, não era jogador fixo. Ao contrário, eu caia muito pelos lados para com a finalidade de abrir espaço para os meus companheiros. Com o tempo e tendo  passando pelo comando de alguns treinadores, eles foram fazendo a opção de me deixar mais fixo, pelo fato de eu possuir uma finalização boa”, recordou. “Particularmente eu não gosto de ficar fixo, no ABC eu também saio para buscar o jogo e se essa passar a ser uma determinação do nosso técnico, vou cumprir sem problema”, disse.

- Publicidade -
Últimas Notícias
- Publicidade -
Notícias Relacionadas