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Orientalismos e Orientalidades

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A canção “Oriente” (1972), de Gilberto Gil, tem se repetido aos meus ouvidos e consciência nestes dias tão complicados para o país: “Se oriente, rapaz…pela simples razão de que tudo merece/consideração./Considere, rapaz/a possibilidade de ir pro Japão…”. Ele nem precisava me dizer, mas é bom ter isso em mente. Buscar conhecer os orientalismos, orientalidades. Tenho feito essa busca mental incessante, algo que surgiu espontaneamente, por afinidades eletivas mesmo. Uma hora é o Karatê, através das imprescindíveis lições práticas do Sensei Juarez Alves Gomes, figura lendária dessa arte marcial/esporte, reconhecido como um dos maiores nomes da modalidade Shotokan em todo o Brasil e no cenário internacional. Outra hora, são as leituras do Zen-Budismo, cuja sabedoria também foi tomada de bom empréstimo pelo Karatê Shotokan. Sabe disso quem conhece os vinte princípios da arte marcial e “interior”, propagados pelo seu divulgador maior, Gichin Funakoshi (1868-1957), em obra imortal.

O Mestre Alves, que – além de exímio Sensei – também é um dos melhores na arte e na técnica do Bonsai no Brasil, tem me fornecido elementos para esse caminho orientalista. Foi quem me emprestou um dos mais importantes livros para a compreensão do padrão de cultura dos japoneses: “O Crisântemo e a Espada”. A obra da antropóloga americana Ruth Benedict é um profundo estudo acerca da sociedade e da cultura do Japão, publicado em 1946, com a análise dos resultados de sua pesquisa durante a II Guerra Mundial. Curiosamente, já nestes anos iniciais do século XXI, esse livro essencial esteve em lugar central num ótimo episódio do seriado televisivo americano “Mad Men”. Vale conferir.

Agora, tenho me deparado com valiosa oportunidade de receber a sabedoria difundida pelo Budismo de Nichiren Daishonin. Uma querida amiga me levou à minha primeira reunião em Natal, onde pude compreender melhor – através de compartilhamentos harmoniosos – o sentido de tal prática de fé e atitude e ideais filosóficos. A revolução interna e pessoal, tornando o ser humano cada vez mais senhor do próprio destino, guia de si, é algo que vale o esforço do aprendizado de neófito.

O Oriente, destacadamente o Japão, têm muito a ensinar ao Brasil. A educação e as formas de pensar e agir japonesas são algo de exemplar, merecedoras de forte atenção. Quantos aqui se lembram das lições que recebemos durante a realização de jogos da seleção japonesa durante a etapa da Copa do Mundo que se realizou em Natal? Recordam da torcida japonesa recolhendo, ao final dos jogos, o lixo espalhado pela Arena das Dunas? E o que aprendemos com isso? Alguns nada, tristemente. Canso de ver motoristas e passageiros de veículos pequenos e grandes de Natal jogando seus lixos materiais e culturais pela janela, largando-os em ruas e avenidas e em rio e mar, ao vento e ao Deus-dará, trazendo riscos de toda natureza. E vejo por aqui outros “exemplos” não muito edificantes.

Essa falta de rituais e de pudores, que muitos dos brasileiros e potiguares experimentamos e até alimentamos, leva a outros tipos de corrupções íntimas e até públicas, em demasia, fazendo com que desacreditemos de nós mesmos, baixando a guarda contra os nossos erros primários, ocasionando decadente autoestima, obnubilando o olhar e impedindo soluções de que precisamos para o enfrentamento das crises. Faltam sentido e vetor harmônicos, sofisticados nas formulações, aprofundados no pensamento, adequados nas atitudes e comportamentos.

Assim, não há que se duvidar que essa sabedoria possa ser alcançada a partir de um porta aberta para o Oriente, onde o conhecimento milenar e amadurecimento social têm vencido as barreiras das guerras, os obstáculos impressionantes da natureza e a incompreensão humana acerca de todas as coisas. Isso jamais significará abandono ou renúncia à cultura ocidental. É algo que vai além. É a permeabilidade aos ensinamentos de longe, integrando-os e aproveitando-os aqui, corrigindo rumos e práticas. Nesse exato sentido, vale mais um dos trechos da canção de Gil, que nos mostra mudanças internas e coletivas possíveis, “…pela simples razão/de que tudo depende de determinação.”

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