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“Os alemães querem trazer tecnologia para o RN”

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Andrielle Mendes – repórter

O Rio Grande do Norte caiu nas graças da Renânia Palatinado, um dos 16 estados da Alemanha. Nem foi necessário fazer muito para isso. Um contato e algumas visitas bastaram para despertar o interesse pelo RN, que receberá, pela quinta vez, em três anos, uma delegação do estado alemão. A delegação, formada por empresários e parlamentares, desembarca em território potiguar na próxima semana. Antes, visita Buenos Aires, na Argentina, e Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. A vice-governadora alemã, o presidente do parlamento – assembleia legislativa, o vice-presidente do parlamento, o presidente do banco estadual e o da Câmara da Indústria e Comércio da Renânia acompanham o grupo, desta vez formado por 40 pessoas. Nesta entrevista, Axel Geppert, cônsul da Alemanha no RN e um dos responsáveis pelas visitas, fala sobre a aproximação entre os estados e afirma que os últimos encontros renderam bons frutos. Das 16 empresas que estiveram no Rio Grande do Norte no ano passado, quatro fecharam algum tipo de parceria, sendo que uma abrirá um escritório em Natal e outra construirá uma fábrica, na Grande Natal. Segundo Axel, ainda é cedo para falar em novos investimentos. Mas se a média dos anos anteriores se mantiver, pelo menos 1/3 dos empresários que vierem ao RN fecharão negócio e investirão no estado. “Há muito interesse”, diz Axel Geppert.
Axel Geppert, cônsul Honorário da República Federal da Alemanha: O Rio Grande do Norte é o único do Nordeste que está recebendo delegações econômicas da Alemanha.
Uma delegação da Renânia Palatinado visita o RN entre os dias 25 e 26 de outubro. Qual o objetivo desta nova visita?

Conhecer um pouco mais o estado. Começamos este trabalho em 2009, com a ida de uma  delegação norte-riograndense para a Alemanha. Em 2010, recebemos uma pequena delegação do estado da Renânia Palatinado. Dos três empresários que vieram, um fez negócio. Em 2011, os empresários voltaram duas vezes. Esses encontros resultaram na assinatura de dois termos de cooperação: um no âmbito no Poder Legislativo e outro no âmbito do poder Executivo. Das 16 empresas que vieram no ano passado, quatro fecharam parcerias com empresas e institutos potiguares. Uma delas – a alemã KB Conteinners – instalará uma indústria no início do próximo ano, em parceria com a Módulo Engenharia. Outra abrirá um escritório. E outras duas já firmaram acordos de cooperação com o CTGÁS-ER, e estão partindo para a execução dos projetos. Há uma quinta empresa, que já encontrou um parceiro em Natal, mas ainda tem que homologar o produto no Brasil.

Em que área esta última empresa atua?

Construção civil. Ela fabrica placas de óxido de magnésio para construção de casas ecoeficientes e sustentáveis. Ainda não sei quando começará a executar o projeto.

Dá para detalhar mais os outros dois projetos?

Sei apenas que uma das empresas vai abrir uma fábrica no município de São José de Mipibu e a outra, um escritório  em Natal.

O que falta para a KB instalar sua fábrica?

O que precisa é agilizar a parte legal. A planta da indústria é como um brinquedo lego. Monta-se de forma muito rápida.

E o escritório?

O escritório é do Instituto de Agrociências da Renânia Palatinado e vai estar vinculado ao CtGás-ER. 

O que a fábrica da KB produzirá e quanto será investido na sua planta?

Não sei o investimento ainda. Sei que se trata de uma indústria de conteinners habitáveis, que servem para abrigar canteiro de obras, escola, hospital, penitenciária.

O projeto deverá ser executado logo no início do ano?

É para começar o mais rápido possível. Mas para isso é preciso cumprir todas as etapas legais, obter as licenças. Será assinado no próximo dia 25 de outubro um protocolo de intenções entre a empresa e o governo do RN. Neste dia serão assinados outros três documentos. Entre eles, um memorando de cooperação entre o Instituto de Agrociências do estado da Renânia e a UFRN, e um entre Federação das Indústrias do RN e a Câmara de Indústria e Comércio do estado da Renânia. Viajei com o presidente da Fiern, Amaro Sales, recentemente para a Alemanha, e lá fizemos vários contatos.

O que essa nova visita reserva ao RN em termo de investimentos?

Estamos trazendo novamente a vice-governadora, o presidente da Assembleia e mais três deputados. Receberemos 16 empresas, que farão uma rodada de negócios e participarão de workshop. Estamos trazendo ainda o presidente da Câmara de Indústria e Comércio, o diretor de um banco do estado, o cônsul geral do Nordeste e o coordenador do ano da Alemanha do Brasil 2013/2014. É uma delegação bem eclética, que deve somar em torno de 40 pessoas. Começamos com cinco, depois sete, depois 35 e agora quase 40. Isso demonstra o interesse real do estado da Renânia pelo Rio Grande do Norte. De 2010 para cá, é a quinta vez que eles vem. É muito interesse.

Um interesse ‘concreto’?

Um interesse concreto. As empresas do estado da Renânia são pequenas e médias, assim como as do Rio Grande do Norte. Isso permite que as empresas  conversem em pé de igualdade. Não estamos trazendo para cá multinacionais que não conseguem dialogar com as empresas de Natal. É aí que reside o êxito da parceria.

Dá para dizer quanto os empresários estariam dispostos em investir?

Não. Não existe uma intenção de investimento direto. Existe uma intenção de parceria. O que eles buscam aqui? Parceiros  para desenvolver projetos em comum. Os alemães querem trazer tecnologia. Querem investir, mas querem que o parceiro local também invista. Querem crescer junto. O Brasil tem um mercado muito grande e a Alemanha tem tecnologia e conhecimento.

A última delegação esteve em Curitiba, Porto Alegre e Natal. Por que visitar estas cidades e não outras?

A ideia, na verdade, era visitar São Paulo, Porto Alegre e Curitiba. Mas conseguimos trocar São Paulo por Natal. Não foi muito fácil, mas deu certo. Este ano, a delegação está indo para Buenos Aires, Porto Alegre e Natal. O Rio Grande do Norte é o único do Nordeste que está recebendo delegações econômicas da Alemanha. Todas as demais estão concentradas no Sul e Sudeste.

Por que Rio Grande do Norte e não Pernambuco, Bahia, Ceará?

Sabe, as coisas só começam a acontecer quando você conhece as pessoas. Eu passei anos escrevendo artigos sobre as possibilidades do Rio Grande do Norte para os canais de informação do governo alemão, mas isso nunca teve nenhum eco. Pensei: ‘temos que levar uma delegação potiguar para a Alemanha para conhecer as pessoas e convidá-las para vir a Natal”. Isso a gente conseguiu fazer. Os outros estados do Nordeste não. O fato de ter ido até lá fez diferença. Em 2009, o Rio Grande do Norte foi apresentado a 55 empresários alemães na Bolsa de Valores de Frankfurt, na sede da Câmara da Indústria e Comércio. Demonstrar esse interesse foi a razão que os trouxe para o Rio Grande do Norte. E eles gostaram do que viram. Entenderam que o estado tinha oportunidades. Foi muito importante este encontro. Isso não tinha acontecido antes e não aconteceu com nenhum dos outros estados do Nordeste. Acredito que no futuro isso acontecerá. Mas o RN está saindo na frente.

Como o senhor avalia a infraestrutura das três últimas cidades visitadas: Curitiba, Porto Alegre e Natal? Estamos em maior desvantagem?

Eu não acompanhei as demais visitas. Minha jurisdição é o RN. Mas os estados do Sul têm características diferentes dos do Nordeste. Em Porto Alegre, se produz vinho. Aqui não. Mas aqui produzimos sal e exportamos frutas tropicais. Lá não. Os alemães podem desenvolver projetos na área de energias renováveis aqui. A Alemanha trabalha muito forte nisso. Tanto que nesta nova delegação está vindo uma empresa que trabalha com energia solar. Ela faz desde painéis fotovoltaicos – que captam os raios solares – a parafusos. É uma holding, que com várias indústrias que se complementam. Eu acredito que São Paulo, Rio de Janeiro, e outros grandes estados já tem muita coisa e os estados do Nordeste tem muito por ser feito. Tem muito campo de atuação. Acredito que os alemães enxergaram isso aqui. Acho que foi esse argumento também que deve ter pesado para que eles desistissem de São Paulo e viessem a Natal.

Quais as áreas de interesse da Alemanha?

Existem várias áreas de interesse. No ano passado, por exemplo, tivemos uma seguradora, uma empresa de alta tecnologia. Este ano, por exemplo, está vindo uma empresa que trabalha com equipamentos de segurança e treinamento pessoal. Isso mostra como o leque de possibilidades é amplo.

A Alemanha é uma grande geradora de energias renováveis e grande fabricante de equipamentos nesta área. O RN desponta com o principal gerador de energia eólica, mas não produz quase nada de equipamentos. A Alemanha estaria interessada em gerar energia renovável e também instalar indústrias aqui?

Eu não saberia responder se a intenção do empresário seria montar uma indústria aqui. Acredito que isso vai depender das conversas e também do mercado. Existem muitas possibilidades. Há empresários interessados em abrir negócios fora da Alemanha. Mas precisam primeiro de um parceiro local. O Brasil não é um país simples de se trabalhar. É um imposto em cima do outro. Isso é muito confuso.

Por que um Estado como o nosso não consegue receber tantas indústrias no segmento das renováveis, área em que a Alemanha é destaque? Faltam parcerias? Ou faltam infraestrutura e logística?

(Pausa). Está sendo construído um novo aeroporto aqui, o que é um ponto positivo. A BR 101 já foi duplicada até Recife. E existe, por parte do governo federal, a intenção de duplicar até Fortaleza. O empresário alemão pode querer participar desse processo.

Saberia dizer em que pé está o projeto que previa a fabricação de placas fotovoltaicas por empresas alemãs no RN?

O RN recebeu a visita de um grupo de alemães que tinha interesse em produzir estas placas em parceria com uma cooperativa potiguar, que não recordo o nome. Mas eu não sei ao certo o que aconteceu com o projeto. Não sei se o projeto andou. Lembro apenas que o projeto era de grande envergadura. As empresas que estão vindo nesta nova delegação têm um perfil diferente. Elas buscam entrar aos poucos no mercado.

O senhor disse que não saberia precisar a intenção de investimento dos empresários que virão. Saberia dizer, pelo menos, se trata-se de projetos de longo prazo ou de curto e médio também?

Olha, é difícil responder. Mas das 16 empresas que vieram no ano passado, quatro (25%) já estão com algo concreto. O tempo de maturação dessa negociação varia. Se analisar em 2010, de três empresas que vieram, uma fechou negócio. Em 2011, de 16, quatro fizeram negócio e outra está tentando homologar o produto, mas já tem parceiro. Com as cinco, ficamos com 1/3. Mantemos a média.

Vamos manter a média com esta nova visita?

Vai depender das parcerias. Interesse existe. Por isso é importante que os empresários participem das rodadas de negócio. Quem tiver interesse pode procurar a Fiern. É um novo canal que se abre.

O aumento do número de empresas por delegação tem alguma relação com a crise na Europa? Os investimentos alemães estariam ‘deixando’ a Alemanha?

A Alemanha sempre exportou conhecimento e tecnologia. Em 2009 e 2010, não existia ainda esta nova crise e eles já estavam aqui. Eles não estão vindo por conta da crise. Já existia uma intenção. A Alemanha sempre olhou além de suas fronteiras.

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