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Os anos iniciais

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A década em que o jornalismo potiguar viu surgir a Tribuna do Norte também foi de crises políticas, dificuldades causadas pela estiagem, incertezas econômicas – talvez, para compensar – grandes expectativas. Das polegadas que intrigaram o Brasil e tiraram da baiana Martha Rocha o título de mulher mais bela do planeta ao suicídio de Getúlio Vargas, a década de 1950 nunca ficou totalmente resolvida na história nacional.
Populares velam o corpo do presidente Getúlio Vargas. Suicídio em 1954 abriu ciclo de crises políticas que levaram ao golpe de 1964
No Rio Grande do Norte, o maior impacto político da década ocorreu logo em 1951, quando um acidente aéreo matou o governador eleito, Dix-Sept Rosado. O mau tempo provocou o desastre, no qual morreram ainda outros 31 passageiros do avião da Linha Aérea Paulista, que seguia de Natal para o Rio de Janeiro, e caiu próximo da cidade de Aracaju.

Natal era uma cidade com 106.133 habitantes, conforme Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no início daquela década. O Rio Grande do Norte de então, era habitado por 985.862 pessoas.

Ao longo da década, mais de 70% da população potiguar sentiu os efeitos da seca no interior do Estado. Sem trabalho e sem assistência pública, flagelados da estiagem saqueiam  o comércio em várias cidades do interior, em busca de alimentos.

O que a seca não queima, a praga do bicudo destrói. O besouro, originário da África, atinge os algodoeiros e a produção do principal produto de exportação do Rio Grande do Norte cai significativamente, levando o Governo Federal e Estadual a importa a matéria-prima. A crise no campo se agrava. Na tentativa de minimizar a fome entre a população de miseráveis do Nordeste, o governo distribui alimentos apodrecidos, o que se faz aumentar a revolta e os saques. 

Em 1954, de passagem por Natal dias após retornar dos Estados Unidos com o segundo lugar do Miss Universo, mas como a mais bela dentre os brasileiros, Martha Rocha cumpriu uma extensa agenda que incluiu participação nos programas da Rádio Nordeste e de um baile de debutantes no Aeroclube. O país inteiro comenta a desclassificação dela para o título por conta de “uma polegada a mais” nas medidas.

No então maior feito náutico à época, remadores do Sport Club de Natal e do Centro Náutico Potiguar, seguem de Natal ao Rio de Janeiro em ioles e foram recebidos pelo então presidente Café Filho na Baía de Guanabara. O feito foi considerado tão extraordinário que o poeta Otoniel Menezes fez uma saudação aos heróis do mar com a modinha “Canção do Pescador”, mais conhecida como Praieira, e que se tornou hino da cidade de Natal em 1971 através de decreto legislativo da Câmara Municipal.

No mesmo lastimável ano, Por 4 a 1, o Brasil amarga o segundo lugar da Copa do Mundo num jogo dramático contra a Hungria. A Aula Inaugural do primeiro curso de Jornalismo do Rio Grande do Norte é ministrada por Carlos Lacerda, na Faculdade de Direito de Natal, ao lado do Teatro Alberto Maranhão. Getúlio Vargas atira contra o próprio o peito e morre, em 24 de agosto de 1954. Em 1956, morre de infarto o ex-governador Juvenal Lamartine. Em junho do mesmo ano, Câmara Cascudo recebe o prêmio “Machado de Assis” da Academia Brasileira de Letras. Em junho de 1958 é criada a Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN – que ofertava os cursos de Medicina, Odontologia, Filosofia, Engenharia, Ciências Contábeis, Econômicas e Aturiais e, também, Direito.

Depois de tentar em cinco Copas do Mundo chegar ao título de campeão, o futebol brasileiro conquista na Suécia a ambicionada Taça Jules Rimet. Era o Mundial de 1958, com um elenco de grandes craques e dois dos gênios do futebol brasileiro de então: Garrincha e Pelé. De volta ao Brasil, a Câmara dos Deputados aprova a nova Lei da Previdência, que teve como relator o então deputado Aluízio Alves.

O suicídio de Vargas
O ano era 1953 e o Brasil dava sinais de que vivia uma das suas maiores crises governamentais. No mesmo ano, foi criada a Petrobras como resposta do governo federal à campanha nacional do “petróleo é nosso”.

Em São Paulo, a greve dos trabalhadores têxteis e metalúrgicos parou fábricas e gerou prejuízos.. O alto preço dos alimentos e demais itens da cesta básica geravam insatisfação entre os brasileiros, que já não sabiam mais como controlar dívidas e comprar alimentos. Já naquela década, a escassez de energia elétrica também era um grande problema. As tentativas de golpe para a retirada do presidente Getúlio Vargas do poder eram constantes e envolviam, inclusive,  seus assessores mais próximos.

No ano seguinte, no dia 24 de agosto, sem aguentar mais a pressão e sem explicações para o atentado contra Carlos Lacerda na Rua Toneleros, o presidente Getúlio Vargas põe fim à sua vida com um tiro no peito no Palácio do Catete, no Rio de Janeiro, então capital federal. “A sanha dos meus inimigos deixo o legado de minha morte. Levo o pesar de não ter podido fazer pelos humildes tudo aquilo que desejava”, diz trecho da despedida assinada por Getúlio Vargas.

O potiguar Café Filho, nascido nos casarios entre a Ribeira e Rocas, ascende à Presidência da República e compõem seu ministério na tentativa de reconduzir o país à normalidade. Deixa o poder em 1955, no epicentro de mais uma crise institucional.

Anos 60 – Luz e Pesadelo
Rememorar a Década de 1960 é mergulhar num dos períodos mais obscuros da história do Brasil e do Mundo. Os leitores da TRIBUNA DO NORTE acompanharam, ao longo daquele tempo, a sucessão de cassações, prisões, deportações, exílios, torturas e desaparecimento de civis.

Os Estados Unidos abriram guerra contra o Vietnã, enquanto brigavam pela hegemonia espacial com a Rússia, emoldurados pelos efeitos da Guerra Fria. O país norte-americano sai na frente e, no fim da década, Neil Armstrong e seus companheiros da Apollo 11 desembarcam em solo lunar. “Um pequeno salto para o homem, um grande salto para a humanidade”, foram as palavras imortalizadas pelo astronauta americano ao pisar na lua.

Em Natal, em abril de 1960, pela primeira vez, um seleto grupo de pessoas assiste à primeira transmissão de imagens numa televisão. Do último andar do prédio da Casa Cebarros, na Ribeira, imagens da TV Jornal do Commercio, de Recife, foram captadas. No mesmo ano, o então presidente Juscelino Kubitscheck inaugura o projeto mais arrojado do arquiteto Oscar Niemeyer: a capital federal, Brasília. Erguida no clima seco do serrado do Centro-Oeste por operários de todo o país, batizados de candangos.

Em 1961, Aluízio Alves se torna governador do Rio Grande do Norte; Djalma Maranhão assume a Prefeitura de Natal e se consagra como um dos mais queridos e populares prefeitos, responsável pelo Programa ‘De Pé no Chão Também se Aprende a Ler’, que alfabetizou crianças, adultos e idosos em escolas e palhoças cidade afora. O Brasil vence mais uma Copa do Mundo, a de 1962, no Chile, contra a Tchecoslováquia. Após doze anos de luta, a energia de Paulo Afonso clareia as noites de algumas cidades potiguares.

O sonho de Aluízio Alves se torna real, inicialmente, na cidade de Santa Cruz, primeiro município potiguar a receber a energia da Hidrelétrica de Paulo Afonso. A ligação foi inaugurada, além de Aluízio Alves, pelo presidente à época, João Goulart, em abril de 1963. Em dezembro do mesmo ano, foi a vez de Natal receber o cabeamento e a energia vinda da Bahia. No mesmo ano, o mundo lamentou a morte do Papa João XXVIII. No ano seguinte, o então prefeito de Natal, Djalma Maranhão, é deposto do cargo pelos militares. Assumiu o vice-presidente da Câmara, Raimundo Elpídio. Djalma Maranhão, Aldo Tinôco, Floriano Bezerra e Luiz Maranhão, indiciados no “inquérito da subversão”, são transferidos de Natal para Fernando de Noronha. Em 1965, Djalma é exilado no Uruguai, onde morre de infarto anos depois.

Em janeiro de 1969, um fato pouco conhecido pelos potiguares marcou a história da Medicina do Rio Grande do Norte. O médico Assunção de Macedo realizou, no então Hospital das Clínicas, hoje Hospital Universitário Onofre Lopes, uma operação de mudança de sexo em Djanira Lopes, de São Paulo do Potengi. Djanira passou a se chamar Djanilson.

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