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Oswaldo

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Dácio Galvão
[ [email protected] ]

Na sala da Diretora da Orquestra Sinfônica do Rio Grande do Norte, fotógrafa Candinha Bezerra, na Fundação José Augusto, gestão do jornalista Woden Madruga, nos reunimos com o etnólogo Oswaldo Lamartine e o cronista Vicente Serejo. Em pauta a gravação de uns cantares de cocos de trabalho que Lamartine havia coletado no seu país Sertão do Seridó. De memória cantou, ritmou com os dedos e num fluxo de memória contínuo revelou contextos. Esta semana o mini compacto disco-MD onde o bate- papo foi gravado apareceu depois de um tempo desaparecido. Isso ocorreu aproximadamente há uns treze anos. Vai a quem interessar a transcrição que se segue. 

DG- Primeiro fale um pouco do coco.  Fale como ele é. É um coco de trabalho, como acontecia… Esse coco tá num livro seu…

OL- Esses dois cocos que sei muito pouco deles eram cantados na construção do açude do Itans em Caicó em 1932, o pessoal que trabalhava na pedra cantava um coco de trabalho que, diziam eles que eram para a pedra ficar mais maneira, mais leve, naturalmente porque dava ritmo ao esforço que eles faziam e era um coco mais ou menos assim:

“Ô maia, seu maia (estalo do dedo médio com o polegar )

 Ô maia, maiador, vamo maiá.

Seu maia. (estalo)

Vamo maiá (estalo)

Seguindo a marcha do tempo (estalo)

 É rodapé (estalo), cama-de-vento (estalo), é ferro novo  de engomar (estalo).

Seu maia.”

 Esse “maia” e essa castanhola (estalo) que eu dei era a pancada da marreta no aço (palavra inaudível). No outro lado tinha os cassacos que trabalhavam com a terra, os paleadores, os cavadores que também tinham seu canto de trabalho. Ai eles usavam o tamanqueiro cujos versos eram muito tirados daquele célebre desafio, antológico desafio daquele “Pelado” (agora a esclerose não me deixa lembrar o nome). Que diz: 

Tirador –  “Oi! tamanqueiro digo á tu quem sou”. 

-O coro respondia:          “Eu quero um par!

 Que é para não fazer vergonha ao povo.

 Quero um par!

 Teu suor só me fede a urubu novo

Quero um par!

 Tua barba raspada dá veneno.

Quero um par!

 Oi! Me parece que aqui dentro desse salão.

 Eu quero um par!

Uma ticaca assanhada fede menos

Oi! tamanqueiro

Eu quero um par!

Eu quero um par!

Êêê!  eu quero um par de tamanca pra dançar.”

Aí entrava os versos de Raimundo Pelado:

“Chegando no porto de Alagoas na presença de mais de mil pessoas

Entre botes, navios e canoas

no navio alemão eu me encontrei”

 … – Isso é muito conhecido! Onde tem aquele:

”Entre o sétimo túnel da Rocinha

O trem da Serra descia em desfilada

Com o tom (inaudível)

Dei na retaguarda rebolei todo o trem fora da linha

Mas atendendo aos amigos que adivinham

O que por certo não podia ter demora

Meu cardeiro eu fiz uma escora, fiz uma alavanca de dois pendão de milho

Novamente botei o trem no trilho

E o maquinista apitou e foi simbora”.

 Isso é da turma que trabalhava na terra, os paleadores, os cavadores. Os paleadores que disse que com a pá cavam a terra e jogam dentro das casas”. Ambos os cocos estão no meu livro “Caça no Sertão do Seridó”. Agora, a música, eu não respondo por ela por que eu não consigo distinguir o hino nacional, só quando eles dão aqueles acordes finais.

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