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Países tentam salvar acordo climático

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Barcelona (AE) – Especialistas que negociam um novo acordo para o clima disseram que apesar das baixas expectativas, ainda é possível concluir um forte pacto entre as 192 nações do mundo para definir o trabalho futuro na luta contra o aquecimento global. Os países mais vulneráveis à mudança climática disseram se sentir exasperados que os países ricos estejam repensando o prazo para concluir um tratado comprometedor. Os delegados gastaram o último dia das conversações das Nações Unidas sobre o clima, na Espanha, forçando o rascunho de um acordo no qual os países mais ricos terão um compromisso duro para reduzir as emissões de poluentes e ajudarão os mais pobres com recursos financeiros, que deverão ser gastos para enfrentar as mudanças climáticas.

A ideia de a conferência sobre o clima das Nações Unidas, que será realizada no próximo mês em Copenhague, terminar com um pacto político de intenções, ao invés de um tratado que obrigue as nações a cumprirem metas, desapontou países em desenvolvimento que já sofrem secas e enchentes severas, além de outras catástrofes atribuídas ao aquecimento.

A mudança se segue ao reconhecimento de que vários países, incluídos os Estados Unidos, podem não estar politicamente prontos para assinar um tratado formal no próximo mês. Yvo de Boer, o funcionário das Nações Unidas que dirige as negociações, assegurou que os delegados ainda tentam alcançar um acordo significativo que estabelecerá metas específicas.

Os países deverão concordar em se fixar às suas promessas enquanto negociam os detalhes do tratado, o que poderá levar mais um ano. “Os governos podem entregar um forte acordo em Copenhague e nada mudou minha confiança sobre isso”, disse de Boer. Enquanto ele disse que não poderá garantir que as promessas não serão quebradas, será complicado para os países em desenvolvimento não cumprirem os compromissos escritos que fizerem em Copenhague.

O acordo poderá tomar a forma de decisões por consenso, incluído um comunicado de objetivos de longo prazo, bem como uma série de decisões suplementares que incluirão transferência de tecnologia, recompensas por interromper o desmatamento e a construção de infraestrutura nos países pobres para que eles se adaptem ao aquecimento global, disse de Boer.

Ele disse estar observando os Estados Unidos para anunciar um alvo claro de redução das emissões para 2020. “Um número do presidente dos EUA terá um peso enorme”, disse. Um projeto de lei foi enviado ao Congresso dos EUA, com diferentes metas para reduzir emissões de carbono. Jonathan Pershing, chefe da delegação americana nas negociações sobre o clima, não quis dizer se os EUA estarão prontos para fixar um alvo já no acordo de Copenhague.

Ao mesmo tempo, o presidente dos EUA, Barack Obama, tem autoridade para comprometer o país sem a aprovação do Congresso, mas “uma decisão sobre o que faremos ou não ainda não foi tomada”, disse Pershing. O Protocolo de Kyoto de 1997 irá expirar em 2012. A menos que um tratado já esteja em vigor, nenhuma regulamentação sobre emissões de poluentes existirá, o que ameaça o caos entre as indústrias que também dependem das regras para o desenvolvimento das atividades empresariais.

Metas serão menos ambiciosas

Barcelona (AE) – Os negociadores e diplomatas trabalhavam em Barcelona em uma versão reduzida de um acordo global para minimizar o aquecimento global. Um tratado pode ser firmado em dezembro, ainda sem um claro compromisso dos Estados Unidos sobre a questão. A ideia de forjar um acordo político, ao invés de um tratado que prevê punições em caso de descumprimento, está se tornando a possibilidade mais aceita. Vários negociadores, incluindo alguns dos EUA, insistem que não estarão prontos a tempo para a conferência sobre o clima marcada para Copenhague, em dezembro.

Funcionários europeus afirmam que preveem um acordo político mantendo os planos de que os países em desenvolvimento cortem emissões de gases causadores do efeito estufa. Com isso, as economias emergentes poderiam crescer menos. Esse acordo também incluiria número específicos sobre como o dinheiro dos países ricos seria destinado aos pobres, para o combate aos efeitos das mudanças climáticas.

Em Atenas, o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, pediu aos países desenvolvidos que reduzam entre 25% e 40% suas emissões de gases causadores do efeito estufa.

Em discurso perante o Parlamento grego na quinta-feira, Ban qualificou como “complexa” a negociação para que um acordo climático seja alcançado na cúpula a ser promovida pela ONU em Copenhague. Depois de advertir para a possibilidade de não se conseguir um acordo durante a cúpula, Ban disse que um pacto “amplo, igualitário, equilibrado e com força de lei” ainda pode ser alcançado durante o encontro, que ocorrerá entre os dias 7 e 18 do próximo mês.

Bate-papo

Leonardo Boff – Teólogo

Genebra (AE) – O teólogo Leonardo Boff alerta que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva está sendo “míope” e “irresponsável” na questão climática. “O presidente Lula não tem consciência da importância planetária do Brasil para a questão ambiental”, disse Boff, em entrevista à Agência Estado. Ontem, o teólogo recebeu o título de Doutor Honoris Causa da Universidade de Neuchatel, na Suíça. O tema de seu discurso será “Os próximos passos para a Humanidade”.

Sexta-feira, o teólogo aproveitou também para atacar o atual Papa Bento XVI, que quando era prefeito da Congregação da Santa Sé o condenou a um ano de silêncio por promover o que ficou conhecido como Teologia da Libertação. “Ele é um reacionário”, criticou Boff. Eis os principais trechos da entrevista:

No mundo político, o principal debate sobre o futuro da humanidade é a situação ecológica do planeta. Como o sr. vê essa situação?
O planeta vive uma grande crise. Ele dá sinais de que não aguenta mais a forma de exploração que ocorre. Teremos de mudar nossa forma de produção. O aquecimento do planeta não é algo que vai ocorrer. Ele já está ocorrendo. A Conferência da ONU em Copenhague no final do ano deve ser o encontro mais importante da história moderna, pois ele vai negociar o futuro do planeta.

E qual deve ser o posicionamento do Brasil, que sequer tem ainda uma meta de redução de emissões de CO2?
Objetivamente, o Brasil é um dos países mais decisivos para o equilíbrio futuro do planeta. Temos recursos naturais, água e floresta que podem definir o futuro de como vivemos no planeta. Mas o problema é que o presidente Lula não se dá conta disso. Ele está mais preocupado com o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), o que é irresponsável. O governo precisa pensar na humanidade e não apenas no Brasil. Lula não entende que o Brasil é central para o mundo nessa questão. Por isso digo que é míope e irresponsável.

O sr. acha que Lula deve ir à Copenhague?
Sim. Mas ele hesita. Porque sabe que será pressionado e que seu modelo de crescimento também será pressionado. Não acredito que irá.

O sr. foi condenado a um ano de silêncio por quem hoje é o Papa. Como avalia a gestão de Bento XVI no comando da Igreja?
 Difícil. A Igreja se tornou um refúgio de forças reacionárias e não dá respostas às crises modernas. Bento XVI não é só conservador. É um reacionário. A Igreja parece viver mais um pesadelo que um sonho. Diante da crise ecológica que vive o mundo, a Igreja deveria ser um local de mensagem de esperança e não é. Bento XVI está mais preocupado com a sua Igreja que com a humanidade. Ele cometeu uma série de erros em seu governo.

Quais?
Criticou muçulmanos, judeus, aceitou a volta do latim. Ele tem um modelo retrógrado de igreja. Isso a torna irrelevante e um bastião do conservadorismo. O centro de seu governo é a Igreja, não o mundo. Não é de se surpreender que a Igreja esteja perdendo adeptos.

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