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“Para mudar esse caos, é preciso compromisso social”

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“Os recursos destinados a educação não são suficientes, mas poderiam resultar num ensino de melhor qualidade. Isso não acontece por pura incompetência”. A opinião é da educadora Claudia Santa Rosa, diretora do Instituto de Desenvolvimento da Educação – IDE, organização não-governamental comprometida com iniciativas que promovem o
Instituto de Desenvolvimento da Educação (IDE) desenvolve projeto de leitura com secretarias municipal e estadual de Educação
fortalecimento da escola pública, de modo a torná-la capaz de oferecer uma educação básica de qualidade social para todas as crianças e adolescentes. “Para mudar o caos que foi transformada a educação, é preciso ter um compromisso social e político muito grande”, enfatizou.

Para a educadora, a crise na educação potiguar decorre de fatores como: ausência de uma política de educação, ineficácia da gestão e baixo orçamento. “Não conseguimos ter um país com uma orientação educacional. Nosso modelo é esquizofrênico, toda hora a política muda”, relata, lembrando que no quesito quantidade, os indicadores apontam para a conquista da universalidade do acesso ao ensino, “mas não nos preparamos para esta demanda. A qualidade da educação exige escolas equipadas, mais professores e remuneração digna”, enfatiza.

Orçamento

Um primeiro passo para mudar o quadro negro do ensino, opina, passa pela realização de um estudo sério no orçamento do Estado, com a definição de prioridades . “Se isso não for feito, vamos continuar nos lamentando. É preciso profissionalizar a gestão  da educação, iniciando com a definição de uma política de pessoal – há servidores a disposição em gabinetes, nas prefeituras, espalhados pelos mais diversos órgãos. Se existe uma caixa preta na educação é na parte de pessoal”, relatou, associando-se aos defensores do aumento no investimento equivalente a 7% do PIB (10% para os sonhadores) na educação, percentual usado nos países desenvolvidos. Hoje, o valor máximo chegou a 4.5% do PIB.

O País apresenta indicadores baixíssimos no item educação,e o Rio Grande do Norte encontra-se na rasteira,ao lado de estados como Piauí e Alagoas. Só para dar um exemplo das contradições regionais existentes, lembra que o analfabetismo no RN atinge 20% da população, enquanto no Sul chega a 5%. O Nordeste contabiliza mais de 50% dos analfabetos do Brasil. “E aí perguntamos: quais os investimentos que foram efetuados, as condições de desenvolvimento que uma região tem e outra não para possibilitar o acesso e permanência  na escola”. O salário do professor apresenta outra variação absurda: enquanto no Sul a média é de R$ 3 mil, no RN fica em torno de R$ 940,00, com a grande maioria recebendo menos que este valor.

Para piorar o cenário, o Estado não sabe quantos professores existem, onde estão e quanto isso implica de recursos. “Como a gente pode reestruturar a educação, sem estas informações básicas?”. A divisão de responsabilidades, prevista em lei, ainda é confusa. Na opinião da educadora, a Educação infantil, de responsabilidade do município, está mais organizada. O Estado ainda trabalha com muitas escolas do ensino fundamental, mas o Ensino Médio é precário. “O Estado assume o Ensino Superior, quando sua  responsabilidade é o Ensino Médio”, criticou, defendendo que o valor investido no ensino superior não deveria contabilizar os 25% de recursos que devem ser alocados para a educação, como prevê a Constituição.

São muitas questões que envolvem e terminam por repercutir na qualidade do ensino. Claudia lembra que num dos eventos que participou, em São Paulo, ouviu uma coordenadora da Secretaria de Educação do RN informar que o Estado deixou de receber R$ 70 milhões em decorrência da incapacidade dos técnicos em enquadrar projetos. Os estados e territórios da região Norte vem apresentando resultados surpreendentes. “Aqui, há muito discursos, mas não chega na prática”, disse.

Os baixos salários e a baixa expectativa de sucesso acadêmico vem provocando uma evasão, sobretudo dos professores mais talentosos. Tudo isso reflete num resultado de 5ª categoria. “Nos discursos da presidente Dilma Roussef observamos a preocupação,o compromisso com a educação. Somos frágeis nas políticas públicas eficazes e eficientes,mas temos esperanças de melhorias”, disse.

A leitura deve ser vista como um ato político

A experiência e os resultados apresentados pelo Projeto Escola de
Leitores, executado pelo IDEcom apoio do Instituto C&A e parceria
com a Secretaria Estadual de Educação e secretarias municipais de
educação de Natal e Parnamirim será apresentada no 13º Salão da Feira
Nacional do Livro Infanto-Juvenil, que acontecerá  entre os dias  6 e 17
de junho no centro de Convenções Sul América, no Rio de Janeiro.
“Trata-se de um evento que já é tradicional no País”, destaca Cláudia
Santa Rosa, lembrando que além dela, vão participar treze educadores que
participam do projeto em Natal e a secretaria adjunta de educação do
Estado, Tânia Leiros.

O
projeto utiliza a leitura literária como ferramenta de cidadania ,
buscando o fortalecimento do projeto político-pedagógico da escola.
Através da leitura  busca contribuir para o fortalecimento das pessoas, o
empoderamento inclusive das crianças. A escola estadual Hegesippo Reis
foi definida como o espaço de execução da experiência, como exemplo  a
ser disseminado para outras escolas. A ação abrange 145 escolas
organizadas em 15 polos, 12 em Natal e 3 em Parnamirim, atendendo em
torno de 60 mil alunos.

Entre os resultados alcançados,
destaca-se a organização de bibliotecas e salas de leitura em 70
escolas, a formação de educadores e a promulgação da Lei 9.169, no
início de 2009, instrumento para que se tenha uma política pública de
incentivo a leitura. Um dos desafios que permanece é a  rotatividade do
professor que atua neste espaço. “O Estado diz pra gente que biblioteca é
lugar onde não se trabalha muito – mas muitos trabalham mais que os
professores que estão em sala de aula”, disse.

Para o futuro, o
IDE pretende  fazer um estudo sobre o comportamento de leitores 
professores e crianças – mudanças de comportamento a partir da leitura.
Antes disso, no próximo dia 20 realizam um Fórum de Leitura, na
Assembléia Legislativa, discutindo o futuro do projeto. “Não consigo
enxergar que a Secretaria tenha a coragem de não dar continuidade e não
consolidar uma política de leitura no RN..O Manifesto por uma Escola de
Leitores está aí, ainda que feche o ciclo do projeto, não vamos deixar
de exercer o controle social. No Fórum de Leitura vamos realizar uma
mesa redonda com os secretários de educação do RN e de Natal, além de
representantes da Fundação José Augusto e Undime. Tdos serão convocados a
se posicionarem sobre esta tecnologia social”, disse Cláudia.

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