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#Partiu: Redinha e a margem esquerda do Potengi

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Na margem esquerda do Potengi, entre as dunas e os coqueirais, a Redinha sempre atraiu olhares e desejos de natalenses e visitantes. Apartada da cidade pelo rio, não está tão longe que exija uma viagem demorada e cansativa, nem tão perto que anule o prazer de um veraneio.

Os registros mais antigos (As Cartas de Sesmarias da Capitania do Rio Grande, século XVII), dão conta de que a ocupação de terrenos na Redinha começou em 1603, quando o primeiro capitão-mor João Rodrigues Colaço concedeu terreno ao padre Gaspar Gonçalves Rocha. Em 1611, havia por lá um “porto de pesca”, considerado o maior e mais produtivo da capitania. A denominação tanto pode vir dessa atividade, quanto de uma referência a uma herdade na localidade de Leria, em Portugal (segundo Cascudo) ou da alusão (contam as tradições orais da vila) que se fazia, aos visitantes, para que levassem “uma redinha” se fossem ficar para dormir do outro lado do rio.
Do outro lado do rio, há pouco minutos do Centro, a antiga vila de pescadores oferece tradição, gastronomia e história
A Redinha sempre foi vila de pescadores e local de sítios. No século XIX, abrigou o primeiro cemitério público de Natal, destinado exclusivamente aos estrangeiros (ingleses e holandeses, principalmente), agentes comerciais da fé calvinista e anglicana que, morrendo aqui, não podiam ser enterrados nos átrios das igrejas católicas. Mesmo após a Ponte de Igapó, em 1916, o acesso terrestre permaneceu sofrível. Atravessar o rio, em barcos e jangadas, era o meio de transporte viável e rápido.

No início da década de 1920, famílias inteiras faziam a travessia e a vila virou a primeira praia de veraneio oficial de Natal com casas de desembargadores, políticos e outras autoridades abastadas. Em 1927, foi palco para um acontecimento histórico: Paul Vachet, aviador francês, pousou o primeiro avião nas areias da Redinha e acertou, em Natal, a compra do terreno em Parnamirim onde seria construído o primeiro aeroporto da cidade.

“Do cais, você olha a boca-da-barra. Do lado de cá, o pontal escuro, com um farol sinaleiro. Braço de pedra, mar a dentro, ajudando navios e barcos maiores nas aperturas do canal. Do lado de lá, o dorso branco de praias e morros, manchas vermelho-azuis do casario irregular. Uma torre humilde de igreja. Os cocares impacientes do coqueiral. O território livre da Redinha”, escreveu em crônica o poeta e pintor Newton Navarro. Era a década de 1970 e a Redinha começava a mudar.

Facilidades maiores de acesso, com a abertura da estrada a partir do “Gancho de Igapó” (hoje a avenida desembargador João Medeiros Filho) levou à especulação imobiliária e ao crescimento urbano desordenado. Surgiu a “Redinha Nova” e o pitoresco deu lugar ao comercial. Há alguns anos, o poder público investiu na reurbanização da praia. Os atrativos que garantem o encanto tropical e fizeram a fama da Redinha ainda estão lá, mas é melhor programar a visita para um dia de folga durante a semana. Em meio a um restinho de tranquilidade da antiga vila, a Redinha é mais gostosa.

O Clube
Entre o Mercado, a Capelinha e a Igreja de Pedra, está o Clube da Redinha. No auge dos veraneios da década de 1960, era o ponto de encontro dos veranistas, palco para bailes durante a “Festa do Caju”, em dezembro, e área de reunião dos blocos e troças durante o Carnaval. Como tudo o mais na Redinha, passou anos abandonado, até a recuperação na década passada pela Prefeitura. Hoje paga-se R$ 3,00 para aproveitar o espaço nos finais de semana e se refrescar das temperaturas que podem beirar os 40ºC durante o verão no litoral do Rio Grande do Norte.

Tubarões e Pinguins
O Aquário de Natal fica na “Redinha Nova”, estrada de acesso às praias de Santa Rita e Jenipabu. Abre das 8h às 17h, todos os dias, atraindoi turistas, estudantes e também natalenses. A entrada custa R$ 20,00 (inteira) e R$ 10,00 (crianças de dois a oito anos e idosos acima de 60 anos). São aproximadamente 250 animais de 70 espécies diferentes em exposição. Chamam a atenção os tubarões-lixa, pirarucus, pinguins , cavalos-marinhos e o hipopótamo Yago, morador do aquário desde julho deste ano. Animais terrestres também estão em exposição, como os macacos-prego e as cobras caninanas.

Ginga com tapioca
Durante anos o ponto de referência para turistas, pescadores e veranistas da Redinha, o Mercado foi construído em 1937, de madeira e cobertura de palha. Conheceu períodos de abandono e reformas. É ali que se come a “ginga com tapioca” autêntica, prato tradicional criada por Dalila Januário, dona de um box de petiscos e bebidas (já falecida). O espetinho de peixes com a iguaria sertaneja sai, hoje, por R$ 5,00. Outros boxes oferecem refeições, artesanato e pescados frescos.
Ginga com Tapioca é um dos atrativos da Redinha
A Capelinha
Primeiro templo católico na praia, não se sabe ao certo quanto foi erguido sobre a duna fronteiriça ao antigo atracadouro das lanchas e botes que faziam a travessia do Potengi. É o templo dos pescadores pobres – em oposição “a igreja dos ricos” – e que, por falta de uma zeladora e também de espaço para o rebanho atual de fies católicos, passa a maior parte do ano fechado. Só abre durante o mês de janeiro, por ocasião dos festejos em torno de Nossa Senhora dos Navegantes, padroeira do bairro.
Capelinha
A Igreja
Construída quase toda com pedras de arrecifes, oficialmente, é a matriz da Redinha e motivo de uma discórdia que já foi histórica, mas hoje começa a desaparecer. Foi erguida por veranistas “ricos”, em 1954, que mandavam buscar caminhões com as pedras na vizinha Jenipabu. A Marinha soube e proibiu a extração do material. A obra foi completada com tijolos comuns. Quando foi para consagrar o templo, os pescadores roubaram a imagem da santa da capelinha que só reapareceu dois anos depois, escondida em uma casa no Canto do Mangue.
Igreja da Redinha
Campo Santo
A vegetação rasteira das dunas encobre o terreno, cercado por uma empresa, mas a paisagem ainda é edílica, com o rumor do vento nos coqueirais, o remanso da gamboa Maninbu e na outra margem os barcos no Canto do Mangue e o casario antigo da Ribeira. A área onde era o “Cemitério dos Ingleses” guarda toda a beleza, mas muito pouco dos indícios de túmulos e lápides dos estrangeiros protestantes e anglicanos que, até a inauguração do cemitério do Alecrim em 1857, eram sepultados ali. Espalhou-se a lenda de que o local também guardava “tesouros e botijas”. Os saqueadores fizeram o resto.
Campo Santo

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