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Passageiros sofrem em aeroportos

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Por Megan K. Scott – Associated Press

NOVA YORK, ESTADOS UNIDOS (AE) – Durante seus primeiros quatro dias vivendo no aeroporto, Dominica Zschiesche limpou seu corpo com lenços de mão e usou uma pia de um banheiro público para depilar as pernas e lavar os cabelos.

Em seu quinto dia em Camp Kennedy, porém, ela parecia quase em casa, andando descalça perto do saguão do aeroporto, com uma toalha azul cobrindo seus cabelos, após finalmente conseguir tomar um banho.“Foi maravilhoso. O melhor banho que já tomei”, contou a estudante alemã de 29 anos, que vive em Frankfurt.

O aeroporto de Heathrow, em Londres, foi um dos primeiros a liberar o tráfego de aviões, mas a situação ainda não foi normalizadaCentenas de passageiros ficaram presos no Aeroporto Internacional John Fitzgerald Kennedy (JFK), em Nova York, enquanto esperavam a nuvem de cinza vulcânica passar pela Europa, para os voos serem retomados. Elas fazem o melhor possível para viver sem ar puro e em um ambiente muitas vezes malcheiroso.

Uma família belga sentou no chão do terminal, em volta de uma mesa construída por eles com uma caixa de papelão. E, em um canto, dois turistas britânicos ironizavam sua situação, com uma mensagem em uma folha de papel: “Intrusos do (aeroporto) JFK, Facção Yorkshire.”

Os passageiros montaram pequenos acampamentos, escovando seus dentes e penteando seus cabelos em banheiros públicos, combatendo o tédio construindo um grande avião com papelão e dormindo em turnos, sob luzes fluorescentes em meio a vários televisores e atrapalhados pelo sistema de som.

“O tempo passa devagar”, resumiu Laurence De Loosa, que tentava chegar à Bélgica, após uma viagem para comemorar seus 21 anos, ao lado de um amigo. “As luzes estavam ligadas toda a noite não é fácil dormir, a TV fica ligada.”

Os passageiros se esforçavam para melhorar o ambiente, buscando se sentir mais em casa, porém o aeroporto parecia ainda um ambiente hostil para muitos.

Geoff Gilbert, um engenheiro de 57 anos esperando um voo em Manchester, na Inglaterra, teve sua carteira roubada em um McDonald’s do aeroporto. Agora, reconheceu na segunda-feira, estava sem dinheiro algum. “Não é muito confortável”, disse ele no aeroporto. “Você fica fechado o tempo todo. É quente aqui, pegajoso.”

E o fim, para Gilbert, parecia distante. “Eu ainda tenho uma longa espera. Não devo voar até domingo”, previu. A nuvem de cinzas prejudicou os voos transatlânticos desde a quinta-feira da semana passada, causando os piores problemas no tráfego aéreo desde a Segunda Guerra (1939-1945).

A Port Authority de Nova York e Nova Jersey, que controla os principais aeroportos na área metropolitana da região, determinou uma cota de mil cobertores e camas improvisadas de lona, para o aeroporto JFK, para o de Newark e o de Nova Jersey. Também entregou itens de primeira necessidade, como garrafas d’água e lenços higiênicos para bebês. A Cruz Vermelha e vários consulados entregaram camas improvisadas e comida.

Na tarde desta segunda-feira, cinco dias após o início da crise, a agência abriu trailers com mais de dez chuveiros no JFK.

As mais de 500 pessoas acampadas nos aeroportos administrados pela Port Authority “estão sendo bem tratadas”, disse Chris Ward, o diretor executivo dessa agência.

Alguns passageiros ficaram no JFK porque estava difícil conseguir um quarto de hotel, porque estouraram o orçamento em suas férias em Nova York, ou simplesmente por acreditar que estar perto do aeroporto era o mais sensato a se fazer para ir embora o mais rápido possível.

Reclamações crescem em todas as partes do mundo

Em todo o mundo, milhares de passageiros tiveram experiências parecidas, descansando em cobertores nos chãos dos aeroportos e dependendo em alguns casos de um voucher do McDonald’s para suas refeições.

“Nós temos apenas uma refeição por dia. No momento, muita gente não está comendo”, disse Andrew Turner, um universitário que seguia para Londres, após fazer turismo em Sidney. Turner contou sua história no Aeroporto Internacional Incheon, na Coreia do Sul.

A experiência dos passageiros era mais prazerosa no Aeroporto de Frankfurt, na Alemanha. O porta-voz Uwe Witzel disse que centenas de passageiros presos estavam recebendo três refeições diárias, banhos, toalhas e mais alguns itens.

“Nós montamos um lounge com internet, contratamos pessoas para entreter as crianças e também arranjamos um local na parte de fora do terminal onde as pessoas podem tomar um ar puro e um pouco de sol”, afirmou o porta-voz.

No Terminal 4 do JFK, passageiros davam seu toque pessoal nos “lares” improvisados.

Andrew Jenkins e Tom Laughton rabiscaram “Intrusos do JFK, Facção Yorkshire” em suas tendas. Jenkins, de 23 anos, é de Yorkshire, na Inglaterra. Ele estava se virando com os cobertores da Cruz Vermelha e os US$ 10 diários em voucher de alimentação dados pela companhia irlandesa Aer Lingus.

“Nós estávamos esperando dormir no chão”, contou Jenkins. “Contanto que nos deem os tíquetes para a comida, isso não vai nos matar, certo?”

Para Johan Bombeke, sua esposa Annemie Quintiga e suas três crianças, estar preso no aeroporto não era motivo para ficar sem móveis. A família arranjou as barracas recebidas em um quadrado, improvisando uma mesa de café no centro, construída com a caixa onde estavam os travesseiros entregues a eles.

Alan Godfrey, de Londres, espantou o tédio usando as caixas das barracas para construir um avião de papelão de 1,2 metro de comprimento. “Companhia do Grande Al. Tíquetes disponíveis por US$ 1”, escreveu ele na “aeronave”. Ele desenhou janelas e uniu as asas com canudos de plástico.

Godfrey estava no aeroporto desde a sexta-feira, marcando os dias com pequenos riscos na parede, um para cada noite.

O anúncio de “Bem-vindo ao Terminal 8” não parava de ser repetido durante toda a noite, disse Christien Lynen, uma belga de 49 anos. Ela comia frutas, batatas fritas, croissants e refrigerantes, fornecidos pelo consulado da Bélgica e seus cidadãos presos. À noite, enquanto tentava dormir, era incomodada pelo cheiro do lixo recolhido perto dali. “Quando você está em um grupo, fica mais forte. Por sorte estamos todos juntos. Todos são muito legais. Nós nos ajudamos”, contou Christien.

O prefeito de Nova York, Michael Bloomberg, disse que funcionários haviam sido enviados ao aeroporto para auxiliar os passageiros presos. “Nós os amamos e queremos que eles passem o tempo de forma agradável, mas é meio difícil quando você não pode deixar sua bagagem ou tem que dormir em uma barraca”, reconheceu o prefeito. “Não há substituto para quem quer chegar em casa – eles não estarão felizes não importa o que se faça para eles.”

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