O sistema do passe-livre implantado pela Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana (Semob) tem surtido efeito contrário em alguns pontos da cidade. Segundo relatos de usuários de transporte público, o prazo de uma hora entre as passagens nas catracas do primeiro e segundo veículos – no mesmo percurso – é insuficiente para se deslocar entre bairros da zona Norte aos da zona Sul da capital. A demora impede usufruir da gratuidade e aumenta as despesas no final do mês.
No bairro Potengi, o atraso na saída dos ônibus do Terminal do Conjunto Soledade também é motivo de reclamação. Desde que foi implantado o passe-livre, o serviço feito pelo circular entre os bairros dos conjuntos Soledade I e II até o terminal passou a ser tarifado. No percurso, o circular gasta de 15 a 20 minutos. “A gente espera até 40 minutos para o ônibus sair. Acabo pagando pelo circular e pelo ônibus”, disse a vendedora Manuela Pinheiro, que trabalha no Centro.
Às vezes, a perda de tempo e do benefício acontece ainda com os motores desligados. Enquanto a equipe da TRIBUNA DO NORTE esteve no local, passageiros aguardaram dentro do ônibus da Linha 85 (Soledade-Centro) 8 minutos até a saída do veículo, cerca de 15% do tempo estimado para ter direito a segunda-passagem livre. “Passei o cartão e está contando. Se não der tempo pegar o outro, vou pagar de novo”, reclamou Maria das Graças Trajano. Por e-mail enviado a Tribuna do Norte, Rafael Matias, contabiliza os prejuízos causados com a mudança no sistema. O percurso entre a faculdade em Ponta Negra até o terminal, pela linha 26, leva em média 1h25. “São R$ 2 por dia, para o circular porque não há como trocar de ônibus em 1 hora”. Para economizar, algumas vezes, ele caminha até 2 quilômetros do terminal até a casa dele.
O cozinheiro Cláudio Costa, 22, paga a mais em média três passagens por semana, mais de R$ 20 no final do mês, apesar do cartão eletrônico. O percurso de casa, no conjunto Vila Paraíso, zona Norte da cidade, até o Praia Shopping, em Ponta Negra, é feito em média em 1h30. A linha 77 (Parque dos Coqueiros) gasta em média 50 minutos até às imediações do Midway Mall, de onde pega a segunda condução. “Quando demora a passar o segundo, tenho que tirar do bolso”, conta. O modelo que substituiu as antigas estações de transferência só traz a vantagem de escolha de paradas de ônibus, acrescenta.
Segundo o secretário-adjunto de Transporte Sílvio Medeiros, os transtornos são causados por desinformação dos usuários, que ainda estão habituados ao modelo anterior e fazem a permuta de veículos nos pontos finais de cada linha. Em média 1,3 milhão de pessoas se beneficiam do passe-livre, cerca de 15% a mais que os usuários das paradas de transferências. A totalidade das reclamações, acrescenta o secretário, é feita por quem não sabe usar o sistema. “O objetivo é complementar o trajeto. É preciso buscar pontos de cruzamentos, além dos habituais”. Uma campanha educativa será lançada em breve para orientar os usuários.
Para o diretor de comunicação do Seturn Augusto Maranhão, o desempenho do instrumento de gratuidade é positivo e as queixas “pontuais e esporádicas” deverão ser analisadas individualmente. “É uma questão de logística do usuário se adequar às linhas para permuta”. Os trajetos são cumpridos de acordo com o cronograma de cada linha. O incremento de 20 veículos, em agosto, nas linhas que atendem às zonas Norte e Oeste da capital, deverá reduzir os tempos de espera em paradas.