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Peixe é pouco aproveitado na alimentação do brasileiro

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Andrielle Mendes
Repórter

O potiguar José Saraiva Sobrinho, 78 anos, consome pescado três vezes por semana (mais de 12kg por ano). Mesmo em um país do tamanho do Brasil,  rodeado de água, seu José é exceção. Segundo o Ministério da Pesca e Aquicultura, o brasileiro consome, em média, 7kg de pescado por ano. O japonês consome 60kg. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda ingestão anual de, no mínimo, 12kg por pessoa. Média acima da brasileira, mas ainda muito abaixo da japonesa.
José Saraiva Sobrinho come peixe, pelo menos três vezes por semana, apesar de achar o preço alto
Os benefícios para a saúde são conhecidos pela maioria, mas o consumo no Brasil ainda é muito baixo, admite Fátima Nunes, nutricionista do Instituto de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN). “Peixe é caro”, justifica seu José, que está sempre de olho nas promoções. O preço varia de acordo com uma série de fatores, como espécie e origem, e pode chegar à R$29,00 o quilo. Algumas espécies, porém, são comercializadas abaixo de R$10,00. Num hipermercado visitado pela equipe de reportagem, o quilo da cavalinha saía por menos de R$4,00.

Clóvis Emídio, auditor fiscal, não reclama do preço, mas da oferta, que seria, segundo ele, reduzida. Para Antônio-Alberto Cortez, ex-secretário estadual de Pesca e especialista na área,  aumentar a oferta de pescado reduziria os preços e elevaria o consumo. Para isto, porém, o Estado precisaria aumentar a produção e investir na criação de pontos de venda direta.

Atualmente, a maior parte do pescado que chega aos supermercados e peixarias do RN passa pelas mãos dos atravessadores. A participação dos ‘marchantes’, como são conhecidos, aumenta em 100% o preço da mercadoria. “A gente vende a R$6 o quilo. Os atravessadores (re)vendem a R$12”, relata Moisés Virgílio da Costa, 43, pescador desde os 9 anos. Em Ponta Negra, onde há uma comunidade de pescadores, o peixe mal sai do mar e já dobra de preço.
#SAIBAMAIS#
O dinheiro, porém, não fica para o pescador. Moisés, que carrega o nome do profeta que libertou o povo de Israel do Egito, segundo o Antigo Testamento, não consegue livrar-se da dependência dos marchantes. “Chego cansado da pesca. Não tenho ânimo para ir nos quiosques nem peixarias vender”. Nem ânimo nem espaço, esclarece Antônio Ronaldo de Lima, 60, pescador há 45 anos. “Os quiosques e os supermercados não compram nada da gente. Ou a gente vende para o marchante ou não vende nada”, afirma. Pescador há 33 anos, Antônio lembra que a pesca também está ruim. “Tem dia que a gente pesca até 60 quilos. Tem dia que não pesca nada”, completa Moisés. Tudo isso influencia o preço final.

O pescado que vai parar na mesa do brasileiro não vem só do mar, porém. “O país também cultiva peixe em açudes e barragens”, ressalta Antônio-Alberto. Só o Ceará produziu 20 mil toneladas de tilápia em 2009 – 20% da produção nacional. Tudo em açudes. Este ano, deverá produzir 40 mil toneladas – um incremento de 100% em dois anos. O RN fica bem atrás, com 2 mil toneladas, segundo o ex-secretário estadual de Pesca. Aumentar o cultivo de peixes em açudes e barragens no estado também seria uma saída.

O potencial do RN é tão grande quanto o do Ceará, que pode cultivar até 235 mil toneladas de tilápia por ano, levando em consideração os 63 açudes disponíveis, segundo afirmou o coordenador da cadeia produtiva de aquicultura e pesca da diretoria de Agronegócio da Adece (Agência de Desenvolvimento do Ceará), Pedro Henrique Lopes, ao Diário do Nordeste, em entrevista recente. No estado vizinho, a atividade já gera 721 empregos diretos. Com o incremento da produção, o número de empregos gerados sobe e o preço final do produto cai. “É uma lei de mercado. Quanto maior a oferta, menor o preço”.

Venda de carne é dez vezes maior

O consumo de pescado no Brasil representa apenas 5% do total. A diferença é vista na prática por Eugênio Medeiros, dono de um supermercado em Natal e vice-presidente da Associação dos Supermercados do Rio Grande do Norte (Assurn). A cada dez toneladas de carne vermelha comercializadas pelo hipermercado todos os meses, uma tonelada de pescado é vendida. A diferença chega a ser de 90%. “O que vendo de peixe não representa nem 1% do que vendo de carne vermelha”, calcula Eugênio.

Ele reclama do preço, da oferta e dos altos tributos. “Em média, 1kg de carne ‘de primeira’ sai por R$13; 1 kg de frango, por R$4. Já o quilo do peixe de qualidade não sai por menos de R$15. Compro peixe toda semana e digo: peixe é muito caro”. Reduzir os tributos (ICMS, Pis e Cofins), segundo ele, seria uma outra forma de baratear o pescado e estimular o consumo. “Atualmente, cerca de 30% do preço do pescado no RN é tributo. Se compro o quilo por R$10, R$3 é de imposto”, afirma.

Eugênio, que compra pescado em grande quantidade (para revender), também cita a instalação de mais pontos de venda direta, locais onde pescador negocie diretamente com o empresário. “Encontrar peixe fresco é uma dificuldade”. O supermercado dele, por exemplo, só vende congelado. Tudo isso, segundo Eugênio, se reflete no baixo consumo. “O consumo do Nordeste é muito baixo. Não chega a ser nem 10% do que o Norte consome. Por mais que sejamos conscientes e saibamos que peixe é bom pra saúde, enfrentaremos barreiras para comprar”. No mundo, ao menos, o consumo de pescado, que atinge 35% do total, já ultrapassa o das outras carnes. “Temos um longo caminho a percorrer”, conclui Antônio-Alberto, ex-secretário de Pesca do RN.

Bate-papo

Fátima Nunes » Nutricionista do IFRN

Que benefícios o consumo regular de peixe traz para a saúde?

Os peixes contém um teor de gorduras saturadas (que fazem mal) menor do que as carnes vermelhas e um maior teor de gorduras insaturadas (que fazem bem). Além disso, tem uma menor proporção de colesterol e contém um dos melhores antioxidantes para a saúde que é o Ômega 3.

Qual o papel do Ômega 3?

Ele protege as células dos danos oxidativos,  evitando envelhecimento e o aparecimento de muitas doenças.  Ele está prescrito em quase todas as dietas alimentares.

O pescado deve ser consumido com que frequência? 1, 2 ou até mais de 3 vezes por semana?

Três vezes já é muito bom. Quanto mais melhor.

Em países asiáticos, como o Japão, por exemplo, o consumo de pescado é bem maior que no Brasil. Lá, as pessoas costumam viver bem mais que aqui. Há alguma relação entre consumo de pescado e longevidade? Se sim, qual?

Com certeza. Além do peixe, os japoneses consomem muita soja, arroz integral, vegetais, algas. 

O que na sua opinião pode ser feito para aumentar o consumo de pescado no País?

Melhorar o preço. Pescado ainda é muito caro. Há, porém, algumas alternativas. A sardinha, por exemplo, é uma boa fonte de Ômega 3 e cálcio e é vendida por um preço baixo na feira. Ela poderia ser mais consumida. O preço dos peixes, em geral, ainda espanta.

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