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Pelos trilhos do passado

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Tádzio França
Repórter

O asfalto das últimas décadas não apagou todos os trilhos do  passado ferroviário potiguar. Entre as Rocas e a Ribeira estão as marcas desse momento cheio de história e movimento. Embarcar naquela época está um pouco mais fácil desde que o IFRN pôs em funcionamento, nesta semana, a  nova Unidade Rocas, localizada no  prédio centenário onde funcionou as oficinas de recuperação de locomotivas e vagões da Refesa – Rede Ferroviária Federal S.A. Além das aulas, o local também abriga o Museu do Trem Manoel Tomé de Souza, um espaço aberto à visitação e que registra uma importante fase histórica do Estado.
Museu do Trem, localizado na unidade do IFRN recém-inaugurada nas Rocas,  é nova opção cultural e conta histórias sobre a Natal e o RN do começo do século passado
A velha oficina de trens é uma construção de formato semicircular, por isso chamada de rotunda. Foi construída no começo do século XX, e funcionou até 1974, passando depois por um longo período de abandono. Ela fazia parte do chamado Complexo da Esplanada Silva Jardim, que compreendia o escritório central (o imponente prédio onde hoje funciona o DNOCS), almoxarifado, carpintaria, a caixa d’água de ferro, e o tanque de combustível. Todo esse conjunto atuava para manter a indústria ferroviária da época – com o perdão do trocadilho – nos trilhos.

A área localizada entre a Ribeira e as Rocas esteve abandonada durante décadas, até que uma iniciativa do Instituto dos Amigos do Patrimônio Histórico e Artístico Cultural e da Cidadania cruzou os velhos trilhos. Ricardo Tersuliano, presidente da IAPHACC, estava pesquisando em 2003 sobre a história da ponte de ferro de Igapó, e acabou por descobrir a locomotiva Catita, a mesma que fez a travessia da inauguração da ponte em 1916. “Ela estava em Recife, e tomamos a missão de devolvê-la para o RN. Comecei a entrevistar velhos ferroviários e no processo vi que tínhamos um acervo que merecia ser recolhido, guardado e exibido. E assim surgiu a ideia do Museu do Trem”, conta.

O IAPHACC já estava de olho no prédio da oficina, até que a União cedeu o prédio para o IFRN.  Os pesquisadores não deixaram a ideia descarrilhar , e procuraram a direção do IFRN. A seriedade e qualidade da pesquisa convenceram a instituição a fazer a parceria com o instituto, tornando o Museu do Trem uma realidade.

Acervo
O museu foi naturalmente integrado à escola, compondo o visual do campus como decoração e exposição permanente, com peças espalhadas pelo ambiente. Boa parte do acervo já está disponível no local. A preciosidade maior é a locomotiva Catita, posta sobre trilhos no centro da rotunda. Essa pequena peça inglesa de 1882 teve seu dia de glória no dia da inauguração da ponte de Igapó, em 1916, carregando todos os importantes da época, entre Januário Cicco, Henrique Castriciano, José Augusto, Juvenal Lamartine, e até um adolescente Câmara Cascudo. 

No local também está exposta a locomotiva Ilha Bela, recolhida da Usina São Francisco – Cia. Açucareira Vale do Ceará-Mirim. Segundo Ricardo Tersuliano, a ideia é expor ao todo quatro locomotivas, sendo três a vapor e uma a diesel. Outras raridades em exibição são um trole de vara (um carrinho de madeira usado pelos funcionários da via permanente); tornos fixos e móveis (máquinas inglesas para fabricar peças de trem); ferramentas; rodas de trem; telefone a magneto; telegrafos; teodolitos; chaminés de trem; manômetros de pressão; apitos de locomotivas; sinos; fardas de ferroviários; lanternas e sinalizadores; bolsas de couro; livros de atas e gerais, entre outras.

O material exposto é resultado de uma pesquisa de 13 anos realizada pelo IAPHACC. Nem tudo está à exposição no prédio do IFRN, já que algumas peças carecem de restauração ou estão aguardando algumas finalizações nas obras do prédio para serem trazidas. Mas a história é um elemento presente em todo o edifício – ele mesmo um ambiente  histórico.
Material do museu fica em exposição também nos corredores do primeiro andar
Homenagens
Todos os espaços físicos receberam nomes de antigos ferroviários da Refesa. Manoel Tomé de Souza recebeu o nome do museu como uma homenagem por sua contribuição ao recolhimento de dados históricos. Manoel foi um mecânico que salvou a Catita nº 3 de virar sucata no final da década de 50, quando a Rede Ferroviária decidiu substituir todas as locomotivas a vapor por máquinas a diesel.

Por todas as paredes do prédio há quadros com imagens e dados dos lugares e personagens que construíram a história das ferrovias potiguares. Nomes e históricos de engenheiros, fiscais e projetistas do século passado estão espalhados pelo ambiente.

Inaugurados há menos de uma semana, o campus e o museu ainda estão passando por finalizações. Entre os dez ambientes em arco que circundam  a rotunda, ainda estão em construção a biblioteca e um auditório para 150 pessoas. Estão previstos ainda vagão para exibição de filmes, lojinha de souvenirs, e espaço para contar a história das estradas de ferro potiguares.

A conclusão da obra e inauguração estão previstos para o mês de agosto de 2016. Nessa primeira etapa serão entregues, parte do Museu do Trem de Natal, 11 salas de aula, refeitório para 120 alunos e setor médico. Até o fim do ano serão concluídos o auditório e os laboratórios de áudio, vídeo e design gráfico. O campus está recebendo nesse primeiro momento os alunos inscritos para os cursos técnicos integrados me multimídia e lazer, e o curso de graduação em tecnologia em gestão desportiva e lazer. É uma restituição mais do que merecida para uma área por onde já se passou tanta história. Pode aguardar na estação.

Serviço:
Museu do Trem Manoel Tomé de Souza. No campus do IFRN Unidade Rocas. Visitações durante os horários de funcionamento, manhã e tarde. Tel.: 4005-0967. 

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