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Perigo boca adentro

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Isaac Ribeiro – repórter

Viver é correr riscos. Viver bem  e melhor é saber se livrar deles. Até mesmo na hora de buscarmos uma alimentação mais saudável estamos correndo perigo. Ao colocarmos uma porção de salada no prato podemos, na verdade, estar nos servindo de uma boa dose de substâncias nocivas. O Brasil é hoje o maior consumidor de agrotóxicos do mundo. Segundo o Sindicato Nacional da  Indústria de Produtos para Defesa Agrícola, apenas ano passado foram comercializadas mais de 700 toneladas de produtos tóxicos no país, movimentando US$ 6,62 bilhões.

Vigilância Sanitária discute ações do Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos, criado em 2001E para onde vai todo esse montante tóxico? Para o nosso organismo! Sem contar que essas substâncias têm um forte impacto nos ecossistemas e no solo.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) está alerta ao problema e desde 2001 monitora os níveis de agrotóxicos nos alimentos, principalmente em frutas, verduras, legumes, hortaliças e grãos. Para tanto, regulamenta ações através do Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos (PARA), presente em todos os estados.

Na última quarta-feira, a Subcoordenadoria de Vigilância Sanitária reuniu representantes de várias entidades, órgãos e do empresariado do ramo para debater as ações do PARA e apresentar seus métodos e resultados obtidos desde sua criação. E entre tantas indagações e pontos de vistas apresentados, um fato é unânime: é preciso haver uma maior integração para se obter ainda mais resultados satisfatórios nessa área. Nossa saúde agradece!

Fórum debate agrotóxicos em frutas e verduras

Rio Grande do Norte é um dos estados com mais controle sobre a origem dos alimentos analisados com relação a substâncias tóxicas

Durante o 1º Fórum de Discussões Sobre o Programa Estadual de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos, realizado na última quarta-feira, no auditório da Procuradoria Geral de Justiça do RN, o gerente geral de Toxicologia da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Carlos Alexandre Oliveira Gomes, declarou que o Rio Grande do Norte é um dos estados brasileiros com mais controle sobre a rastreabilidade na produção das amostras de alimentos analisados quanto a incidência de produtos tóxicos em seu manejo.

Segundo Carlos Alexandre, o estado conhece, hoje, a origem de 80% das frutas, verduras, legumes e hortaliças comercializados em seu comércio local. “O trabalho está bem avançado nessa área, mas mesmo assim não pode deixar a peteca cair. É preciso avançar sempre mais.”

Em plano nacional, a Anvisa rastreia a origem das amostras analisadas na seguinte proporção: 3% dos produtos têm origem não identificada; 5% vêm de fabricantes e embaladores; 27% são de produtores e associações; e 65% têm origem na Ceasa e em distribuidores.

Durante o evento, o representante da Associação de Supermercados do RN, Eugênio Parcelle, também apresentou alguns dados relativos à incidência de agrotóxicos em amostras analisadas no Estado. De acordo com ele, 75% delas apresentaram níveis satisfatórios e 25% com algum nível de contaminação.

Ele revelou também o fato de estado importar praticamente tudo o que consome em termos de produtos agrícolas.

Eugênio lamentou a ausência de representantes da Ceasa durante o fórum, pois é por lá que circula grande parte dos produtos agrícolas à venda no atacado e no varejo. “Os atacadistas compram diretamente dos produtores. Já os supermercados não têm essa relação”, comenta. “Nós precisamos buscar caminhos para avaliar os produtos antes de chegar até o consumidor. Não faz sentido ter resultado apenas depois de trinta dias, quando o consumidor já tiver ingerido os produtos contaminados.”

Para Parcelle, é preciso haver uma integração maior entre produtores, Ceasa e supermercados para que a questão seja discutida e sejam encontradas formas de garantir a segurança dos alimentos. A representante da Secretaria Estadual de Saúde, Celeste Maria Rocha Melo considera ser preciso avançar além dos fóruns de discussões e fazer com que as Vigilâncias Sanitárias do interior do Estado se envolvam mais. “Pois é lá que as Visas sabem quem é o produtor, pois estão mais próximos deles.”

Programa monitora qualidade dos alimentos vindos do campo

Com o objetivo maior de monitorar a qualidade dos alimentos quanto à utilização de agrotóxicos, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) implementou, desde 2001, o Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos – PARA, numa articulação com as vigilâncias sanitárias estaduais e laboratórios.

Em 2002, o PARA passa atuar nos estados de Minas Gerais, Paraná, Pernambuco e São Paulo, que possui o seu próprio programa. Atualmente, todos os estados brasileiros seguem o que diz o documento.

Também são metas do PARA identificar e quantificar os níveis de agrotóxicos nos alimentos, fortalecer a rede de laboratórios da saúde pública, rastrear a fonte de problemas e subsidiar ações de vigilância sanitária para minimizar os efeitos agudos e crônicos dos agrotóxicos, avaliar o uso e mapear a distribuição dos agrotóxicos, disponibilizar informações à sociedade.

Até 2007, o só eram analisadas nove tipos de cultura. De 2009 até hoje, mais onze foram incluídas, totalizando 20 tipos, entre os produtos mais presentes à mesa do brasileiro, incluindo aí arroz e feijão.

O gerente geral da Toxicologia da Anvisa, Carlos Alexandre Oliveira Gomes, recomenda aos produtores cuidados básicos como obedecer as instruções de aplicação nos rótulos dos agrotóxicos, respeitar o tempo de segurança entre a aplicação do veneno de pragas até o consumo humano e ainda a retirada urgente do mercado dos produtos contaminados.

“O Brasil já se desenvolveu muito na segurança alimentar na produção industrial. Mas precisa evoluir na área da produção in natura”, avalia Carlos Alexandre.

Contaminação no RN

Desde o último estudo realizado pela Anvisa, 3.130 produtos alimentícios foram pesquisados, dos quais 29% obtiveram resultados insatisfatórios, isso em todo o Brasil. No estado do Rio Grande do Norte o índice de reprovação foi de 24%. Entenda-se como insatisfatórios aqueles que apresentam quantidade de agrotóxicos superior ao permitido ou a presença de substâncias proibidas por lei.

A responsável pelo Setor de Alimentos da Suvisa/RN, Maria Célia Barbosa, quando observadas irregularidades nos alimentos, não são aplicadas medidas de caráter fiscal. “Nós fazemos uma orientação ao produtor e cabe ao Instituto de Defesa e Inspeção Agropecuária do Rio Grande do Norte fiscalizar”, explica Célia.  

bate papo – Letícia Castelo Branco » nutricionista

Quais são os principais riscos do consumo de alimentos com resíduos de agrotóxicos?

Os riscos vão desde uma intoxicação ao desenvolvimento de câncer a longo prazo. Os resíduos de agrotóxicos são um tipo de contaminação química que podem ter uma resposta de alta ou baixa severidade. Existe uma grande dificuldade em controlar os efeitos provocados pelo uso de agrotóxicos em alimentos porque o consumidor não tem como visualizar seus indícios.

Qual a forma correta de manipular alimentos comprados em feiras ou em supermercados?

As pessoas devem ter cuidado para não amassarem, não deixarem cair e não perfurarem os alimentos no momento da escolha. Após a compra deve-se remover as sujidades apenas com água, retirar raízes com terra e demais partes não comestíveis. Armazenar em geladeira ou em fruteira protegida. Quando for utilizar o alimento deve-se imergi-lo em solução contendo água potável e hipoclorito de sódio, diluindo este conforme as indicações da embalagem. Aguardar 15 minutos e enxaguar com água potável.

Frutas, hortaliças, verduras e legumes orgânicos estão completamente livres de agrotóxicos?

Sim, de acordo com os princípios e objetivos da agricultura orgânica, os produtos cultivados segundo esta técnica devem ser livres de agrotóxicos.

Quais as vantagens e desvantagens de consumir produtos orgânicos?

A primeira vantagem é ser livres de agrotóxicos, as outras seriam melhor sabor, melhor qualidade nutricional, valorização da agricultura familiar entre outras. Quanto às desvantagens, temos o preço, o qual é um fator limitante para a maior parte da população; a sazonalidade dos produtos, o que levaria à ausência de alguns alimentos quando fora de época, e a pequena produção.

O preço dos orgânicos é um obstáculo para sua popularização?

Certamente. O preço limita a compra, não só da classe baixa, como também as classes médias evitam a compra desses produtos para não comprometer o orçamento.

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