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Pesquisa ajuda no diagnóstico das causas de psicoses

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Há mais de um século, a entrevista psiquiátrica tem sido a principal ferramenta para diagnóstico de doença mental. Contudo, pesquisas mais recentes, como a desenvolvida pela psiquiatra e mestranda em Neurociências Natália Mota, do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), estão demonstrando que métodos complementares, através de grafos, podem ajudar os médicos psiquiatras a avaliar melhor seus pacientes com psicoses, portadores de esquizofrenia ou de transtorno bipolar do humor.
Sidarta Ribeiro, do Instituto do Cérebro, orienta pesquisa
O estudo possibilita também chegar a um diagnóstico da causa da psicose para aplicar um tratamento adequado. A nova perspectiva é de automatizar essa ferramenta para que ela seja útil no consultório do psiquiatra, possibilitando identificar se o discurso do sujeito está mais parecido com o do grupo de pacientes portadores de esquizofrenia ou de transtorno bipolar do humor.

A pesquisa foi orientada pelo professor Sidarta Ribeiro, do Instituto do Cérebro, e publicada na revista internacional “PLoS ONE” de 9 de abril como artigo científico intitulado “Speech graphs provide a quantitative measure of thought disorder in psychosis”, com autoria conjunta de Nivaldo Vasconcelos, Nathalia Lemos, Ana Carolina Pieretti, Osame Kinouchi, Guillermo Cecchi e Mauro Copelli.

Segundo Natália Mota, o diagnóstico hoje em dia na psiquiatria é extremamente subjetivo. “Você treina uma habilidade para perceber a linguagem do paciente que está ali na sua frente falando com toda sua expressão o seu sofrimento. Precisa não apenas entender o conteúdo de sua fala, mas a forma como fala”, explica a mestranda Natália Mota.

A princípio, é identificada a psicose, síndrome caracterizada por sintomas como delírios, que são pensamentos não compatíveis com a realidade, e as alucinações (percepções de sons, visões ou outros estímulos que não são reais). Natália explica que existem várias causas para essa síndrome, das quais destaca duas patologias, a esquizofrenia e o transtorno bipolar do humor. Ambas afetam de maneiras diferentes a forma como o sujeito fala.

O conteúdo do discurso do portador de esquizofrenia ou de transtorno bipolar do humor pode ser o mesmo, mas eles contarão a mesma história de formas muito diferentes. O discurso do sujeito portador de esquizofrenia é empobrecido, lacônico e muito objetivo, sintoma chamado de alogia, enquanto que o portador de transtorno bipolar do humor em fase maníaca fala mais e de forma mais complexa, o que é chamado logorreia, geralmente fugindo do assunto, sintoma conhecido como “fuga de ideias”. Natália explica ainda que esta identificação pode ser difícil na hora da urgência, sendo tratados apenas os sintomas da psicose sem o conhecimento da causa. “Ainda é muito subjetivo”, esclarece a mestranda.

Os sujeitos estudados foram oito portadores de esquizofrenia, oito de transtorno bipolar do humor em fase maníaca e oito sujeitos sem transtorno mental. Todos eram entrevistados clinicamente, feito diagnóstico padrão, e todas as entrevistas foram gravadas.

Ao final das entrevistas, os pesquisadores pediam para que o sujeito relatasse o último sonho, que depois era todo transcrito. O sonho era considerado tema âncora do paciente. Aquilo que o sujeito falasse fora do tema do sonho era destacado.

Em seguida, foi elaborado o novo método para analisar a linguagem. Assim, o relato do sonho foi separado nos elementos da oração, ou seja, sujeito, verbo, objeto, os quais eram representados por círculos chamados de nós, ligados por setas chamadas arestas, o que gera um grafo que representava o discurso do sujeito, refletindo a organização das suas ideias ao contar o sonho.

Essa representação matemática é usada para expressar diversas organizações, como a rede da internet, por exemplo. Foi possível então calcular várias medidas que revelaram diferenças importantes entre os grafos dos grupos esquizofrenia e mania, o que permitiu a um classificador identificar de forma muito específica e sensível se o sujeito era do grupo esquizofrenia ou mania.

Segundo Natália, a pesquisa é valiosa para ajudar a fazer um diagnóstico preciso e, por ser um método quantitativo, poderá, no futuro, auxiliar o acompanhamento clínico dos pacientes, avaliando a evolução e a resposta ao tratamento.

Na verdade, os psiquiatras não precisam entender toda essa matemática. Eles utilizarão apenas os programas como métodos complementares em seus consultórios porque não substituirão os métodos já existentes, afirma a mestranda. A perspectiva dos pesquisadores é de ampliar o número de entrevistas para validar o método clinicamente.

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