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Pesquisas estavam “fora do foco”

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Isaac Lira e
Ricardo Araújo
repórteres

O neurocientista Miguel Nicolelis deu a sua versão sobre a saída de oito pesquisadores da UFRN do Instituto Internacional de Neurociências de Natal, em entrevista coletiva realizada ontem à tarde. Nicolelis confirmou que a parceria foi interrompida porque as pesquisas realizadas pelo grupo da UFRN não estavam de acordo com as áreas pesquisadas pelo Instituto e por discordâncias sobre as regras de uso dos equipamentos de pesquisa. Segundo o cientista, o fim da parceria não traz nenhum prejuízo para o Instituto de Neurociências.
Nicolelis reafirmou que saída dos cientistas não atrapalha IINN
As pesquisas capitaneadas por Sidarta Ribeiro e demais professores concursados da UFRN estavam “fora do foco” pretendido pelo Instituto de Neurociências, na visão de Miguel Nicolelis. O foco do Instituto é o desenvolvimento de terapias para pacientes com problemas neurológicos. “Parte do nosso problema é que as linhas de pesquisa desenvolvidas por esse grupo não vinham de acordo com as desenvolvidas pelo Instituto de Neurociências”, disse Nicolelis. E complementou: “Fazemos pesquisas que vão levar a resultados clínicos, beneficiando milhões de pessoas. Então, isso não se coadunava com as linhas do outro grupo”.

Durante a coletiva, Miguel Nicolelis também explicou o funcionamento da parceria com a UFRN. A presença dos professores da Universidade fazia parte de um convênio entre as duas instituições, originalmente válido até setembro desse ano. “Essa é apenas uma das muitas parcerias entre a UFRN e a Aasdap”, disse, em referência à Associação Alberto Santos Dummont de Apoio à Pesquisa, uma organização social de interesse público (Oscip), presidida por Nicolelis e mantenedora do Instituto de Neurociências e dos projetos sociais em Natal e Macaíba.

O convênio,  inviabilizado pelo fim da parceria entre os dois grupos científicos, consistia na realização de pesquisas por parte dos professores da UFRN dentro do prédio do Instituto de Neurociências porque a Universidade não tinha um local próprio para abrigar os seus professores concursados, de acordo com Nicolelis. Esse “local” está sendo construído em Macaíba: o Campus do Cérebro. No campus, coexistirão o Instituto do Cérebro, formado por professores UFRN, e prédios do Instituto de Neurociências, geridos pela Aasdap.

O acesso ao prédio do Instituto e aos equipamentos, enquanto a parceria funcionou, possuía regras, com as quais os agora dissidentes não concordavam. “Toda entidade privada tem normas. Nós somos uma empresa privada e temos questões como segurança e propriedade intelectual. Somos um instituto privado com parcerias públicas”, enfatizou. Um terço do orçamento do IINN é de verbas públicas. Em seguida, o professor acrescentou: “As pessoas têm toda a liberdade para ir trabalhar em outro ambiente. Se acham que as regras são estritas ou muito “caretas”, é um direito delas sair”.

As tais “regras” dizem respeito à necessidade de cadastramento prévio para acesso aos equipamentos do Instituto. Noventa e cinco pessoas tinham acesso irrestrito. As demais precisavam marcar com antecedência para usarem os equipamentos. Com o fim da parceria, equipamentos pertencentes à UFRN foram devolvidos pelo Instituto de Neurociências. Eram centrífugas, estufa, câmeras e outros itens no valor de R$ 232.483,58. Esses itens, segundo Nicolelis, não estavam em uso.

Miguel Nicolelis reiterou que a saída dos cientistas da UFRN não traz prejuízo ao trabalho científico do Instituto, já que as pesquisas desenvolvidas pelo grupo “dissidente” não estavam no foco pretendido pelo IINN. “Nós temos nossa própria equipe científica, com colaboradores do Brasil e do mundo. Desejamos toda a sorte para os pesquisadores que estão saindo, até porque são cientistas talentosos com capacidade de fazer muito pela ciência do Brasil”, encerrou. O neurocientista não soube informar quantos pesquisadores restavam no IINN e nem o número exato de parcerias em vigor com a UFRN.

“Agora teremos mais liberdade”

Alheio às declarações de Miguel Nicolelis, o neurocientista Sidarta Ribeiro concedeu entrevista à TRIBUNA DO NORTE. Ele detalhou os motivos pelos quais a parceria entre ambos chegou ao fim. Sidarta reiterou que os problemas que geraram a separação dos grupos de pesquisa em nada tem a ver com “ego ferido” ou disputas pessoais.  De acordo com Sidarta Ribeiro, todos os demais professores e cientistas que se dispuseram a romper com Miguel Nicolelis, o fizeram por espontânea vontade. O principal argumento defendido pelo grupo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, foi de que o Instituto Internacional de Neurociências de Natal (IINN), se tornou um local no qual eles encontravam dificuldades para desenvolver as pesquisas.

Até que ponto Miguel Nicolelis contribuiu para o desenvolvimento deste projeto de neurociência no Rio Grande do Norte? 

 O Miguel teve um papel importantíssimo. Ele alavancou esse projeto de uma maneira de extrema importância.

Quem financiou, de fato, a estrutura disponível hoje?

 A maioria dos financiamentos foram públicos. Quem bancou esse projeto foram os reitores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). O ex-reitor Oton Anselmo, o professor e ex-reitor Ivonildo Rego e, agora, a professora Ângela Paiva. É a Universidade quem realmente banca isso, junto com o Ministério da Educação (MEC), que é o principal investidor.

Como o senhor analisa o projeto?

 Este é um projeto valioso que precisa ser defendido. O projeto foi vitorioso em todos os objetivos. Ele se propôs a repatriar neurocientistas brasileiros no exterior, a trazer cientistas e estudantes estrangeiros para cá para trabalhar em neurociência e trazer gente da região Sudeste do país. Tudo isto foi feito.

Além disto, o que foi criado?

Criamos os cursos de mestrado, doutorado. Inserimos a neurociência na graduação da Universidade, publicamos artigos científicos em diversas revistas, ganhamos espaço no debate nacional sobre ciência e neurologia. Tudo isso foi feito. E tudo isso foi feito e consolidado dentro da Universidade. Agora, existe um problema na parceria público-privada.

Que problemas são estes?

 É um problema que não é pessoal. É um problema dessa parceria, dessa relação entre o público e o privado. Esse problema tem que ser resolvido e vai ser pelas instituições envolvidas.

Qual o sentimento dos cientistas e professores da UFRN com o rompimento com o neurocientista Miguel Nicolelis?
 
A gente está esperançoso de que a partir de agora a gente vai poder trabalhar. Além de dar sequência às missões e aos objetivos deste projeto de uma maneira mais adequada.

A reitora comentou, em entrevista à TRIBUNA DO NORTE, que esperava que houvesse um entendimento para que vocês dividissem o mesmo espaço físico, no Campus do Cérebro, em Macaíba. Você acredita que isso poderá ocorrer?

Eu acho que se o recurso público tiver gestão pública e o recurso privado tiver gestão privada, eles podem interagir harmonicamente. Mas é preciso que haja essa separação bem clara, que fique tudo bem esclarecido. Nós não teremos nenhum problema se os pesquisadores da AADASP necessitarem utilizar os equipamentos públicos no nosso espaço. E nós não teremos nenhum problema em utilizar os equipamentos privados no espaço privado. Tudo, claro, se eles permitirem.

Houve alguma disputa de egos que gerou a ruptura entre os pesquisadores da UFRN com Nicolelis ou foi uma cisão estritamente profissional?

Estritamente profissional. Não se trata de ego ferido, nada disso. Trata-se de que as pessoas vieram para cá para trabalhar e tiveram dificuldade. E o motivo é que a dificuldade não existiria na Universidade.

As pesquisas desenvolvidas pelos professores, alunos e cientistas da UFRN irão continuar?

 O trabalho continua. Eu tenho meus alunos, cada professor envolvido tem seus alunos. Os alunos, os pós-doutorandos, os professores, todos irão continuar trabalhando como sempre o fizeram.

Como?

Com liberdade, com respeito.

Novas parcerias com o Instituto Internacional de Neurociências de Natal serão possíveis?

Se for possível fazer uma parceria privada em outras bases, nós estaremos interessados. Mas quem vai negociar isso é a reitora.

Qual o lado positivo de toda essa problemática?

 Estou muito esperançoso e acho que agora teremos mais liberdade para trabalhar. E isto depende muito da UFRN…
A Universidade está se posicionando adequadamente.

O senhor deseja fazer alguma declaração espontânea?

 Na verdade eu estou doido pra esse assunto acabar. Nós já passamos pela crise. Nós estamos satisfeitos em trabalhar no ambiente público.

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