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Pobre região rica

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Alcyr Veras  Economista e professor universitário

Quando se fala sobre a economia dos Estados do Nordeste, não se pode esquecer a histórica dependência que esses Estados sempre se submeteram ao Centro-Sul do país. Essa submissão ocorreu, sobretudo, mediante a influência simultânea de dois fatores: a camisa-de-força imposta pelo modelo brasileiro do Governo Central da época, comprometido com os interesses político-econômicos da região sul e, paralelamente, pela passividade e omissão dos políticos e governantes nordestinos que baixaram a cabeça.

Havia, no passado, um forte preconceito (e ainda hoje há, porém um pouco mais brando) em discriminar o Nordeste como uma região pobre e incompetente que vivia de pires estendido à mercê da piedade do poder público. Uma demonstração disso é que, no final dos anos noventa, o então deputado federal paulista, José Serra, em que pese sua reconhecida competência e marcante atuação política, disse, numa declaração infeliz, segundo os jornais da época, que os Estados nordestinos pouco contribuíam para a economia do país e se faziam de vítima para receber recursos do Governo Federal.

Celso Furtado, um dos grandes economistas brasileiros e o mais brilhante entre os nordestinos, fundador da Sudene, em 1959, que depois teve o profundo dissabor de ver aquela Agência de Desenvolvimento Regional ser complemente esvaziada e seus objetivos inteiramente desvirtuados pelos governos militares, destaca em seus livros “Dialética do Desenvolvimento” e “Formação Econômica do Brasil”, que o Nordeste financiou a infra-estrutura e a industrialização de São Paulo, exportando braços e matérias primas. E mais do que isso, foi a cana-de-açúcar nordestina que cobriu o déficit do Balanço de Pagamentos nos períodos em que a atividade cafeeira paulista entrou em crise. Os governos dos Estados do Nordeste pouco fizeram para romper esse vínculo de dependência, ou melhor dizendo, o círculo vicioso da pobreza segundo o sociólogo holandês Gunnar Myrdal.

O modelo primário-exportador foi sempre uma quimera ilusão na cabeça dos povos incautos do terceiro mundo. Banana na América Central; Peles de animais na África; Petróleo na Venezuela; Borracha na Amazônia; Café na Colômbia, etc. Procure observar se esses países, ao longo de anos e anos de exportação desses produtos, conseguiram sair do círculo do subdesenvolvimento. Veja também como estão hoje os países que importaram e ainda importam esses produtos, no eixo Europa e Estados Unidos. Antes de adotar o processo de substituição de importações, o Brasil trocava navios de café e de minérios por iô-iôs, rádios de pilha, cosméticos e meias de nylon. Que prosperidade e independência econômica teve o Rio Grande do Norte quando exportava apenas sal, scheelita, algodão e lagosta?

Mas, o Nordeste, hoje, tem outra cara. O ritmo de crescimento econômico e de expansão urbana vem proporcionando grande impulso às cidades como Salvador, Recife e Fortaleza, cujos distritos industriais caminham para consolidação dos polos de desenvolvimento regional. Esses polos têm grande capacidade de atração de empreendimentos de procedência externa, como podem também se transformar em áreas de convergência em relação à outras capitais da região nordestina.

O Rio Grande do Norte é o segundo maior produtor brasileiro de petróleo. Se fosse reformulada a legislação, de modo a dar completa autonomia à exploração do subsolo potiguar, certamente nosso Estado teria o maior PIB do Brasil, em lugar dos irrisórios Royalties que hoje recebe.

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