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Polêmica no salão

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Maria Betânia Monteiro – repórter

A performance arte ou happenning vem causando polêmica desde suas primeiras aparições em meados do século passado. Um exemplo  recente foi a gigantesca mobilização coordenada pelo artista americano Spencer Tunick, que reuniu centenas de homens e mulheres nus em locais públicos para tirar fotos. A questão da ética na arte volta à tona esta semana, com a abertura do XIII Salão de Artes Visuais da Cidade — que abriu sexta-feira e fica em cartaz até 30 de abril, na Galeria Newton Navarro da Fundação Capitania das Artes.

O cientista social e artista Pedro  Costa, cuja performance no salão vem dividindo opiniõesA polêmica não foi pela qualidade das obras, o formato mais democrático ou rateio do prêmio em dinheiro — mudanças significativas na edição deste ano.  Nenhum desses rendeu tanta discussão quanto a enigmática performance do cientista social e artista visual Pedro Costa, durante a abertura do tradicional XIII Salão de Artes da Cidade do Natal que aconteceu no Nalva Melo Café Salão na sexta-feira passada (12). Na ocasião, Pedro Costa, um dos classificados da mostra na categoria performance artística, ficou nu diante da platéia e, na posição de quatro, retirou um rosário do ânus. O resultado da performance virou um vídeo que está ainda em exposição na galeria Newton Navarro da Funcarte, para apreciação do público. O objeto da performance, o rosário, também está em exposição. O vídeo foi parar na internet e vem gerando discussões nas redes sociais como twitter e nos blogs culturais.

O VIVER conversou com o artista Pedro Costa, que disse não estar surpreso com a repercussão. “Quando você faz um trabalho de arte contemporânea e lança para o público, a gente deixa que as pessoas façam as suas leituras. Prezo por esta liberdade”, declarou Pedro Costa.

A performance de Pedro passou pela curadoria do Salão de Artes Visuais — formada pelo paulista Márcio Harum; regional, o cearense Solon Ribeiro e o local, Leandro Garcia, eleito pelos artistas — sob o seguinte argumento, escrito pelo artista: “representa a salvação. Uma salvação mítica que muitos gays acreditam haver para sublimar o fato de contrair uma doença sem cura. Como crítica, o ânus, lugar da morte gay, necessita da salvação, concedida pelo terço, em nossa sociedade ocidental dominada pela instituição católica e imposta como única forma de compreender o mundo e as relações humanas” .

Pedro Costa disse que a performance vem promover o que ele chama de “descolonização do corpo” através da expurgação do terço, que segundo ele é “um dos símbolos do domínio colonialista”.

Um dos curadores da mostra, Solon Ribeiro, artista plástico e professor de artes, saiu em defesa do artista: “Acho o trabalho dele forte e faz parte da história da arte. Não é único, tem toda historia do body arte, que começou em 60 em Viena. Mas vai dialogar com a religião. Não pode ser visto como afronte à religião é mais uma falação. O crucifixo poderia entrar pela boca, pelo ouvido o fato de ter gerado polêmica porque entrou pelo ânus é mais um preconceito. A madona também fez isso com o crucifixo”, disse ele.

Performance arte

A performance arte surgiu no século XX, e foi introduzida nos meios artísticos na década de 1960, pelo grupo Fluxus e, muito especialmente, através das obras de Joseph Beuys. Numa de suas performances, Beuys passou horas sozinho na Galeria Schmela, em Düsseldorf, com o rosto coberto de mel e folhas de ouro, carregando nos braços uma lebre morta, a quem comentava detalhes sobre as obras expostas. Existem casos extremos que envolvem questões sensoriais e masoquistas. O artista Chris Burden rastejou sobre um piso coberto com cacos de vidro, levou tiros e foi crucificado sobre um automóvel.

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