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Pontes e Cadeados

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CARLOS ALBERTO JOSUÁ COSTA
Engenheiro civil e Consultor ([email protected])

As pontes que sombreiam os rios possuem um “quê” que me atraem pela sua função, por sua arte, por sua história.    Quando nasci, lá nos anos cinquenta, ao retornar para casa, com poucos dias de nascido, ao chegar à ponte sobre o rio Jundiaí, em Macaíba, a mesma tinha desabado e para atravessar o pequeno trajeto em suas águas, fui de barco (canoa), nos braços do estimado Estevam Alves Dantas de Araujo, amigo leal e conselheiro de meu pai Ranilson Costa. Talvez esse fato tenha ficado arraigado em minha consciência e despertado o interesse pelas belezas das pontes.Unir duas margens de um mesmo “persona” é a pura sutileza de uma ponte. Essa ação é tão atraente que simbolicamente é como unir as margens de um mesmo “eu”.

A palavra Ponte provém do Latim Pons que por sua vez descende do Etrusco Pont, que significa “estrada”. Em grego (Póntos), significa uma ação de caminhar. Do filme “Os Amantes da Ponte Nuef” extrai a imagem da ponte que vagou na minha imaginação até que em passeio por Paris, fui levado a tornar real o desejo de conhecê-la. Eu ali sentado nos bancos da bela Nuef, eu, esperando Juliette Binoche, jovem artista passar com suas pinturas, ou mesmo suspirar sua paixão intensa por Denis Lavant, que dorme na Pont Nuef, fazendo da dramaticidade do filme uma magia visual, tanto inquietante como fascinante e comovente.

Mas os amantes do mundo inteiro que se aventura gostosamente pelos ares parisianos, preferem outra ponte para “caminhar” em suas emoções: A Pont des Arts. Nas suas grades são fixados cadeados e mais cadeados, como forma de “aprisionar” a paixão de um enamorado pelo outro. Ato simbólico de “você e eu” ou demonstração involuntária de egoísmo e posse de “você é meu”? De cada cadeado fechado resta uma chave que se perde no tempo. É uma forma de “poder”, pois sem a chave não será possível abrir a porta da liberdade e do amor verdadeiro. A quantidade de chaves, muitas delas jogadas nas águas do Sena, se, juntas, daria para abrir o “infinito” e “soltar” aqueles amores que ficaram presos num desejo que não foi cultivado e cuidado para perpetuação. Quantos não atracam seus cadeados pelas pontes da vida e esquecem que são detentores das chaves que atravancam suas ideias. Quantos não vivem colocando cadeados em seus sentimentos, em suas emoções, em suas atitudes, com medo e receio de perder o “domínio” de tudo aquilo que lhe parece tão valioso. E aí enclausuram os sonhos, a liberdade, o respeito, a partilha e, com o tempo, o molho de chaves vai ficando tão pesado, que também impede a liberdade daquele que já não consegue a confiança na soltura do amor verdadeiro.

Os tantos cadeados imaginários que vamos colocando egoisticamente em tudo que nos “ameaçam” – até sem percebermos – começam a causar problemas e quando o nosso emocional não pode mais suportar o peso, ficamos razinzos, chatos, mal humorados e, a um passo de surgirem as doenças da alma. Na verdade, devemos abrir os cadeados da injustiça, da indiferença, da animosidade, da intolerância, de tudo aquilo que nos aprisionam o espírito. Quando fechamos muito desses cadeados nem percebemos que também nos tornamos prisioneiros por alimentar culpas e carências, que nos impedem de ir atrás da chave que liberta o medo de não ser aceito ou de ser amado.

É doloroso termos o corpo livre e alma presa, por esquecermos-nos de olhar para nós mesmos e, em lugar disso, vivermos para sermos olhados. Olhar esse, crítico, por ser o olhar do outro, que pouco se importa conosco, que nos julga já com o cadeado aberto e pronto para fechá-lo, sem nos entregar a chave para aprendermos e libertarmo-nos.

Não entregue a chave que te liberta a alguém que não tem consideração com você e que nunca vai usar a chave para te fazer feliz. Se, no entanto a chave já não está em suas mãos, mude a tranca, retome a plena consciência e não deixe passar o que a vida e Deus têm para te oferecer.

Construa pontes de amor em tudo que esteja ao seu alcance, sem cadeados, pois se o amor precisa de algo, este algo é a liberdade.

Procure hoje mesmo aquele molho de chaves e, sem preguiça, vá testando chave por chave nos cadeados que aprisionam alguma coisa em você, e sinta a alegria de ir se libertando das tantas amarras que dificultaram seus passos para atravessar as pontes que te unem ao próximo.

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