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Por que ela assusta?

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Alcyr Veras
Economista e professor universitário

Mesmo nas adversidades, às vezes em situações graves, o brasileiro, em geral, sempre encontra uma saída bem humorada, principalmente o carioca. Conta o anedotário popular que um empregado comerciário, de nome Juvenal (não aquele da propaganda da Sadia: “nem a páu, Juvenal”), todos os dias à tardinha, impreterivelmente, tomava um prato de sopa na pequena lanchonete de uma humilde senhora idosa, pelo qual pagava quatro reais. Um certo dia, porém, a simpática velhinha lhe disse: ¾  a partir de amanhã a sopa vai aumentar para cinco reais. Juvenal, então, pediu explicações, e foi informado que o motivo havia sido o aumento do preço da gasolina. Perplexo, ele retrucou: ¾ oh! Minha senhora, há mais de dois anos eu, diariamente, frequento essa lanchonete e não sabia que a gasolina era um dos ingredientes utilizados na preparação da sua sopa!

Prosas de humor à parte, a verdade é que há em torno da Inflação diversas teorias econômicas, recheadas de extensa literatura, para explicar a formação do processo inflacionário. Como as várias correntes do pensamento econômico, ao longo da historia, foram assumindo fundamentos teóricos diferentes, surgiram então acentuadas divergências de opinião entre os economistas. As maiores divergências, e as maiores polêmicas sobre políticas de combate e de controle da Inflação, estão entre os Monetaristas e os Estruturalistas. Ou seja, a questão é: a Inflação é provocada pela expansão da oferta de moeda, ou ela ocorre como resposta ao crescimento acelerado da demanda?  Mas, ao lado dessas posições antagônicas, existem também muitos tabus e “achismos” sobre a Inflação, como se ela fosse um fenômeno sobrenatural. Obviamente, que a Inflação é prejudicial, mas não se trata de uma patologia econômica incurável. É verdade que ela tem causado situações de pânico para detentores de cargos eletivos do Poder Público e criado graves situações de riscos para empresários. Como também há registros de casos em que tenha contribuído, inclusive, para a queda de governos.

O grande perigo é quando a Inflação adquire autonomia suficiente para se auto-alimentar por meio de reações em cadeia (o que significa dizer que a elevação do preço de um produto “puxa” a elevação dos preços de outros produtos). Dessa maneira, configura-se o perverso círculo vicioso da chamada espiral inflacionária.

Nos países subdesenvolvidos, e até mesmo em alguns emergentes, o Setor Público tem sido um “grande aliado” da Inflação, comportando-se, na maioria das vezes, como um amigo inseparável. Observa-se, nesses países, que os excessivos gastos do governo em relação à capacidade de arrecadação de receitas tributárias leva ao endividamento do Tesouro Nacional, ao crédito exageradamente subsidiado, ou a adoção de uma política econômica incompetente em que as taxas de juros estejam abaixo do nível de equilíbrio. Não havendo, diante disso, outra alternativa prudencial, a única solução desastrosa é expandir os meio de pagamentos para cobrir os gastos públicos. Daí, decorrem duas consequências negativas. De um lado, como não há aumento do produto real, os preços sobem e a Inflação “agradece”. De outro, a emissão de títulos públicos para fazer caixa faz aumentar a dívida interna do Estado.

Outro fator que concorre para aumentar o voraz apetite inflacionário é de ordem comportamental, em que se pratica a cultura de obter vantagem em tudo sem mérito. São os casos dos mercados financeiros especulativos e das empresas que aumentam os preços dos produtos por indução, ou seja, sem ter havido aumento real dos custos de produção.

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