Andrielle Mendes – Repórter
Enquanto a atividade náutica, incluindo setores como indústria, serviços e turismo, gera US$ 37 bilhões por ano nos Estados Unidos, no Brasil gera apenas US$ 800 milhões – 97,8% a menos. O Rio Grande do Norte é um dos estados com maior potencial, mas que pouco investe na atividade, afirma Axel Grael, presidente do Instituto Rumo Náutico e Projeto Grael, que ministra palestra hoje em Natal sobre o tema.
“O investimento aqui é zero”, complementa Fernando Bezerril, ex-secretário municipal de Turismo e atual presidente do Conselho Curador do Natal Convention Bureau. A proporção de barcos ajuda a explicar os números. Enquanto países como a Suécia possuem 1 barco para 7 habitantes. O Brasil possui 1 para 1.700 habitantes. “Podem até dizer que, na Suécia, o poder aquisitivo é muito maior. No entanto, no Brasil, o número de pessoas que pode comprar um barco é quase 20 vezes maior que na Suécia”, explica. A disparidade, segundo Axel, mostra o quanto a atividade pode crescer no País.
Segundo ele, há várias formas de incentivar o setor. Axel cita duas: a desburocratização dos processos e a captação de eventos náuticos, não só competitivos. A Bahia, segundo ele, serve de exemplo para o Rio Grande do Norte. O estado tem se destacado tanto na captação de eventos quanto no volume investido na atividade. Enquanto o Rio Grande do Norte não tem nenhuma marina (só um iate clube), a Bahia tem oito, sendo que só uma delas gera 60 mil empregos diretos. Segundo a Associação dos Construtores de Barcos, cada barco emprega, em média, 7,4 pessoas direta e indiretamente.
A atividade náutica é capaz de gerar empregos na indústria, no comércio, serviços e no turismo. O turismo náutico tem crescido de 8 a 10% ao ano, acima de todas as outras modalidades do turismo, e é um dos segmentos que mais empregam no mundo, segundo afirmou o diretor de Financiamento e Promoção do Investimento do Ministério do Turismo, Hermano Carvalho, durante o 1º Fórum de Desenvolvimento do Turismo Náutico, promovido pelo MTur, no Rio de Janeiro.
Além de ter vocação para o turismo náutico, o RN pode se tornar base para várias indústrias do setor, afirma Axel. Para isso, entretanto, precisa investir em infraestrutura e capacitação de mão de obra. Segundo Grael, de nada adianta ter uma boa marina e não ter quem preste serviços ou ter quem preste serviços e não ter mercado. Se o estado, porém, resolver a equação conseguirá atrair cada vez mais turistas no setor, que permanecem cerca de oito noites em hotéis e gastam, em média, de R$160 a R$ 200 por dia, sem levar em consideração os gastos com reparos e ‘amarrações’. Os gastos com manutenção chegam a até 8% do valor de uma embarcação – se uma embarcação vale R$100 mil, o valor gasto com reparos chega a R$8 mil. Dinheiro que fica no estado, se ele dispuser de oficinas especializadas e de alguém que preste o serviço.
Marina espera regulamentação de ZPA
Um dos projetos que poderiam estimular a atividade náutica em Natal é uma marina, que ainda não saiu do papel. Pelo menos três grupos estão interessados em construir e administrar o empreendimento, que, segundo projeto, deverá ocupar o espaço entre a Fortaleza dos Reis Magos e a Ponte Newton Navarro. Um grupo espanhol, um português e um inglês. O espanhol BCN Ingenieros foi o primeiro a demonstrar interesse pelo projeto, que também prevê a construção de um shopping, restaurantes e lojas. Apesar da concorrência, a marina não tem data para sair. Sua construção depende da regulamentação da Zona de Proteção Ambiental nº7 (ZPA 7), que dirá se é permitido ou não construir naquela área.
O projeto foi aprovado por várias entidades, como pelo Conselho de Planejamento Municipal (Conplam), em 2007, mas não foi aprovado pela Câmara de Vereadores. O projeto da ZPA 7 será analisado novamente. A marina exigirá um investimento de R$100 milhões e levará cerca de dois anos para ficar pronta.