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Pouco se sabe sobre bandidos que explodem caixas eletrônicos

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Roberta Trindade – repórter

O Nordeste do país tem sido alvo de quadrilhas bem estruturadas que explodem ou arrombam caixas de bancos. Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará e Maranhão são alguns dos Estados que já receberam a visita indesejada dos bandos fortemente armados e que  tiram o sono da alta cúpula da polícia nesses estados. Em média,  para explodir um caixa é necessário apenas de oito a dez minutos, porém os arrombamentos com maçarico levam mais tempo, cerca de uma hora. A polícia já tem algumas pistas: os bandidos que estão no RN agem na Paraíba. Os que estão lá vem para cá. Os de Pernambuco também estão por perto. E porque não escapar para o Ceará ou explodir caixas no Maranhão?  As quadrilhas estão interligadas. E quem sofre são aqueles que estão na linha de frente – os policiais militares, que exercem a profissão, em muitos Estados, sem a mínima condição de trabalho. Armamento inferior ao dos bandidos e número de efetivo reduzido.

A modalidade utilizada pelos criminosos não é tão nova assim, mas vem ganhando força já que o  dinheiro é fácil, rápido e a ação não implica em muitos riscos. Agir durante a madrugada é o principal modus operandi das quadrilhas. A preferência pela “calada da noite” tem explicação. Não há confronto com a polícia.  Ainda há o fator surpresa que conta ponto para os “fora da lei”. E, por incrível que possa parecer, os bandidos estão se modernizando. Em todos os Estados do Nordeste a polícia sabe que os bandidos utilizam dinamites para explodir os caixas, mas no Maranhão, por exemplo, as quadrilhas utilizaram dinamite plástica – um tipo de bisnaga, artefato que foi roubado de uma empresa de Prospecção de Petróleo e Gás. A bisnaga é flexível e se molda fácil ao buraco feito no caixa.  

A Polícia do Rio Grande do Norte prendeu na quinta-feira (3) Franciélio de Assis Silva, 24 e Shênia da Silva Costa, 25 – uma das namoradas de um homem conhecido como “Senhor”, que já foi preso várias vezes. Franciélio é acusado de  ter tentado, na madrugada da quinta-feira, invadir, com outros bandidos o destacamento da Polícia Militar em São Miguel do Gostoso, a 130 quilômetros da capital. Dois carros usados na ação foram recuperados. Dentro dos automóveis foram encontrados pé-de-cabra e alicate de corte – equipamentos que não são suficientes para explodir ou arrombar um caixa de auto-atendimento. “Ainda não sabemos se eles estão  envolvidos com as quadrilhas que explodem os caixas, no entanto, sabemos que “Senhor” tem ligação com bandos que agem na Paraíba e em Pernambuco. Shênia foi resgatar o marido que fugiu no matagal em São Miguel do Gostoso”, disse um agente que preferiu não ser identificado.

Nos próximos dias, os policiais do RN seguem para a Paraíba para  investigar se os homens presos no Estado vizinho – dez em Campina Grande (01 de fevereiro), estão envolvidos com as explosões ou arrombamentos de caixas de auto-atendimento no RN.

No dia 29 de janeiro, dois homens foram detidos em João Pessoa (PB). A dupla é suspeita de ter arrombado um caixa do Banco do Brasil na capital, no dia 28 do mesmo mês. Agentes potiguares foram até lá, na semana passada, para colher o depoimento dos dois acusados, Ivson Rafael Ribeiro dos Santos, 21 e Ronaldo de Oliveira Rodrigues, 34. Aos policiais do RN, os dois negaram participação nos crimes ocorridos no Rio Grande do Norte. Durante a oitiva, os suspeitos, embora presos, estavam acompanhados de seis advogados. 

 Até ontem foram registrados pela polícia potiguar, em três meses, nove ações. Sete caixas foram explodidos e dois arrombados com o auxílio de maçaricos. Na Paraíba foram oito ações apenas em um mês (janeiro de 2011).

Além de Ivson e Ronaldo duas outras pessoas foram detidas para averiguação. Um rapaz e uma mulher. E por falar em mulher, os agentes do RN sabem que em, pelo menos, uma das ações efetivadas no Estado houve a  participação do sexo feminino. É o chamado  “apoio logístico”. 

A prisão das duas pessoas no RN e de suspeitos na Paraíba pode ser a ponta do iceberg para a polícia encontrar o caminho certo e chegar até os principais “cabeças” de  bandos bem articulados com ramificações em todo o Nordeste do país. A repressão imediata aos criminosos que agem no Rio Grande do Norte ainda não chegou. A passos lentos, a polícia tenta se mover. O Sistema Automatizado de Identificação de Impressões Digitais (AFIS – sigla em inglês) poderia ajudar os policiais a identificar criminosos, mas o sistema parece não estar funcionando com a rapidez que deveria. O AFIS está ligado diretamente ao Estudo Nacional de Identificação, no entanto, se uma impressão digital for encontrada, após uma ação criminosa é necessário que funcionários do Instituto Técnico-Científico de Polícia (Itep) sigam até a Polícia Federal para tentar conseguir identificar de quem é aquela digital, caso contrário, não é difícil chegar a conclusão que o caso vai parar “no esquecimento”. Em Vera Cruz, por exemplo,  não será possível descobrir quais explosivos foram utilizados nos caixas. A explosão causou tantos danos que paredes do prédio desabaram e os escombros não permitiram identificar impressões digitais nas partes dos equipamentos que sobraram. Não havia condições técnicas para  coletar dados. O caixa com o dinheiro foi levado em um veículo Pegeout roubado da mulher de um major da Polícia Militar, assim que o carro foi encontrado a perícia foi realizada e, encontrou vestígios que podem levar à   possível identificação de, pelo menos, um participante da ação.

Nos caixas do Bradesco em Vera Cruz os bandidos utilizaram uma broca “tipo copo” para fazer um furo no caixa e colocar o artefato. “Não temos dúvidas que foram utilizados explosivos. Só não sabemos a quantidade e de onde vieram. Não conseguimos encontrar fragmentos”, afirmou um funcionário do Itep.

Mossoró

Localizada a 285 quilômetros de Natal, possui quase 260 mil habitantes. Madrugada (1h50) do dia 29 de janeiro de 2011. Bandidos arrombaram com maçarico o caixa de auto-atendimento do Banco do Brasil. O dinheiro foi roubado. Em Mossóro, apesar das inúmeras tentativas, a PM não confirmou quantos soldados trabalham por turno.

Monte das Gameleiras

Município localizado a 130 quilômetros da capital com pouco mais de dois mil habitantes. Madrugada do dia 27 de janeiro de 2011, cerca de dez homens encapuzados explodem os caixas de auto-atendimento do Bradesco. Apesar de explodir os caixas, o dinheiro não foi levado.  No município trabalham apenas seis  PMs que se revesam.

Brejinho

Município que fica a 50 quilômetros de Natal com 11 mil habitantes. Madrugada do dia 20 de janeiro de 2011, pelo menos dez homens em vários carros explodem os caixas do Bradesco. Todo o dinheiro foi roubado. Onze PMs  se revezam nos turnos de trabalho.

Vera Cruz

Município localizado a 43 quilômetros da capital com pouco mais de 10 mil habitantes. Madrugada do dia 14 de janeiro de 2011, cerca de dez bandidos que estavam em carros e uma moto explodiram os caixas de um ponto de atendimento do Bradesco. O dinheiro foi levado. Na cidade trabalham dois PMs por turno.

Bom Jesus

Cidade que fica a 46 de  quilômetros com aproximadamente nove mil habitantes. Madrugada do dia 21 de dezembro de 2010, pelo menos dez homens em carros e uma moto explodiram o caixa de auto-atendimento do Bradesco. Os bandidos não conseguiram levar o dinheiro.  São seis PMs que se revesam.

Extremoz

Município localizado a 16 quilômetros de Natal com aproximadamente 25 mil habitantes. Madrugada do dia 12 de novembro de 2010, entre oito e dez homens em veículos explodiram um caixa do Bradesco. O dinheiro foi levado. São 15 policiais militares por turno de serviço.

Extremoz

Na mesma madrugada e, provavelmente, a mesma quadrilha explodem caixa 24 horas. O dinheiro foi levado. São 15 policiais militares por turno de serviço. As caractarística do assalto segue o mesmo: cidades pequenas, com poucos PMs trabalhando.

Lagoa Salgada

A 52 quilômetros da capital com pouco mais de oito mil habitantes. Madrugada do dia  09 de novembro de 2010. Bandidos explodem caixa de atendimento do  Bradesco e roubam o dinheiro. Três policiais militares trabalham por turno na localidade. Ninguém foi preso ainda.

São Gonçalo do Amarante

Município a oito quilômetros  de Natal, com 87.700 moradores. Bandidos arrombaram com maçaricos um dos caixas do Banco do Brasil. Madrugada do dia 12 de novembro de 2010. O dinheiro foi levado. O município possui hoje dez policiais por turno de serviço no batalhão da cidade.

Para polícia, vários bandos atuam no Rio Grande do Norte

A titular da Divisão Especializada em Investigação ao Crime Organizado (Deicor), Sheila Freitas informou que os agentes da unidade policial estão investigando quatro das nove ações realizadas por quadrilhas que agem no RN. A Deicor investiga os crimes praticados nas cidades de Vera Cruz, Brejinho, Monte das Gameleiras e também em Mossoró.

Para a titular da Divisão Especializada em Investigações ao Crime Organizado, Sheila Freitas, dinamite pode sair das pedreiras do SeridóPara a delegada, não é apenas uma quadrilha que age no Estado. “Pelo menos três bandos estão trabalhando por aquino Rio Grande do Norte”.

Para Sheila, os criminosos agem da seguinte forma: um bandido experiente em explosões de caixas convida colegas para praticarem o delito em determinada cidade, após explodirem o caixa cada um toma  o rumo que quiser. Tempos depois, aqueles que foram convidados para a primeira ação e que já entendem todo o procedimento formam outros grupos para explodir ou arrombar caixas em cidades distintas. “É mais ou menos assim: um ensina para o outro que ensina para o outro e, assim vão se propagando os casos. As quadrilhas são interligadas por este motivo. É como uma empresa. Necessariamente, o grupo que agiu em Brejinho não é o mesmo que agiu em Bom Jesus, mas um dos membros da quadrilha de Brejinho pode ter agido em Bom Jesus”, detalhou.

Sobre dinamites, a delegada trabalha com a hipótese de que podem estar sendo roubadas em minas que ficam localizadas na região Seridó. “Naquela região há, pelo menos, 15 pedreiras e outras tantas no caminho para o Estado da Paraíba. As pedreiras trabalham com toneladas de dinamites. Se tirar uma dinamite de cada pedreira já é o suficiente para fazer um estrago. O que é um banana (de dinamite) para uma tonelada?”.

Questionada sobre Ronaldo (preso na Paraíba no dia 29 de janeiro), a titular da Deicor diz que a possibilidade do preso ter participado de algumas ações no Rio Grande do Norte é bastante considerável. “Ronaldo é um velho conhecido. Ele é natural do Rio de Janeiro, mas morou aqui durante muito tempo e tem várias passagens pela polícia. Ivson, por exemplo, é natural da cidade de Campina Grande”. 

Polícia da Paraíba tenta descobrir origem da dinamite

O secretário de Segurança do Estado da Paraíba Cláudio Lima afirmou que a polícia daquele Estado está trabalhando em conjunto com as policias: Rodoviária Federal, com a PM, com a Civil e com a Federal, por este motivo, já foram várias prisões que ocorreram na Paraíba.

Sobre os explosivos, o secretário disse que não há dúvidas de que os bandidos utilizam dinamites. “Durante as prisões fizemos apreensões deste tipo de artefato. As dinamites tem códigos de barra. O que é possível chegar até a origem (delas)”.

Cláudio lembra que apesar do Nordeste estar sofrendo com ações de quadrilhas que agem neste tipo de segmento, o Nordeste não produz pólvoras. “Não me recordo de minas de pólvoras nesta região do país”.

O secretário questiona: “Em que consiste a fiscalização do Exército, responsável pelo controle de estoque das dinamites? Onde são fabricadas? Para onde vão?Quanto se utiliza em uma pedreira? Ninguém fez estas perguntas para o Exército”.  

Procurado pela TRIBUNA DO NORTE, o Exército informou que na próxima terça-feira irá conceder entrevista sobre o assunto.

No Maranhão, o superintendente estadual de Investigações Criminais (Seic), Affonso Júnior afirmou que o Estado não tem histórico sobre casos de arrombamentos ou explosões à caixas, mas que em janeiro deste ano foram registrados dois casos. Um deles ocorreu na cidade de São Domingos (no sertão do Maranhão) e em Zé Doca (região Pré-Amazônica). Em ambas ações, os bandidos explodiram os caixas do Banco do Brasil e levaram o dinheiro. A polícia ainda não prendeu os suspeitos, mas de acordo com o superintendente, as investigações estão bem adiantadas e as prisões devem ocorrer nos próximos dias. “Aqui utilizaram um tipo de dinamite que é feita de plástico. As bisnagas  flexíveis foram furtadas de uma empresa de prospecção de Petróleo e gás”.

Em Pernambuco, o secretário Executivo de Defesa Social Alessandro Carvalho explicou que as investigações revelaram que os bandidos agem entre meia-noite e quatro horas da madrugada e que, além do Banco do Brasil, Bradesco em Pernambuco os criminosos optam por agências do Itaú. “A dinamite que utilizam aqui é um tipo de emulsão. Um explosivo”.

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