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Praça Cívica completa 70 anos

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COMEMORAÇÃO - Praça Cívica passou por várias reformas, mas sempre foi considerada uma área de lazer especialDiversidade! Essa é a palavra que melhor se aplica à Praça Pedro Velho, mais conhecida como Praça Cívica. Por lá passam, todos os dias, dezenas de pessoas, das mais diversas ‘tribos’ e idade. Alguns passam apressados para não perder a hora do trabalho ou da escola. A correria é tanta que nem percebem a beleza do lugar. E a pressa é tanta que mesmo para quem trabalha lá há 23 anos, fica difícil dizer o que mudou.

“O que mudou aqui? Antes aqui era a praça dos ciclistas, mas tiraram a pista e praticamente não vem mais nenhum, tinha uns tanques que o pessoal vinha pescar… Acho que só, o restante não mudou muita coisa, tá parecido com o que era antes, né?” indagou o gerente de lanchonete, que há 23 trabalha na Praça Cívica.

Aliás, essa é uma outra particularidade do local, que concentra uma boa quantidade de traillers de lanches. São pelo menos cinco nas redondezas da Praça. “Aqui vem gente de todo jeito. Estudantes, empresários, vendedores, todo mundo algum dia se rende aos lanches da Praça Cívica”, disse Eduardo da Silva, funcionário de um dos traillers

Mas também tem aqueles que passeiam tranqüilamente, sem pressa e nem hora marcadas. Ah! Esses sim conseguem ver e admirar a beleza do lugar, que mesmo estando no coração da cidade, no meio do corre-corre nervoso, reserva um charme todo especial.

Como é o caso do Sr. Raimundo Calistrato, 91 anos. As tardes dele têm programa certo. Por volta das cinco horas, lá está ele sentado no banco, lendo um jornal, olhando o movimento, caminhando ou, apenas lembrando-se dos tempos de juventude. “Este lugar me traz muitas lembranças. Aqui eu me correspondia com minha noiva, que morava em Mossoró. Hoje, sempre que venho me emociono e sinto uma falta danada da mulher que viveu comigo toda a vida e que em Dezembro me deixou só”, contou ele emocionado ao se lembrar da esposa falecida.

Há também aqueles que ainda não têm muito do que lembrar porque agora é que estão começando a construir o futuro.

 “Não me lembro de como ela era antes porque só agora passei a vir aqui com freqüência”, disse a estudante Joyce Pinheiro, 18 anos, que, todos os dias está lá no ‘banquinho’ esperando o namorado, o também estudante Heidson da Silva, 19 anos.

“Aqui é o nosso ponto de encontro, sempre que a gente sai do colégio vem pra cá. Aqui conversamos, namoramos. Como moramos em bairros diferentes esse é o melhor lugar para se encontrar, sem contar que aqui é muito bonito”, disse Heidson.

Entre as várias pessoas que transitam pela praça, uma em especial, chamou atenção. Livre para correr, pular, subir, descer, sentar na grama, o pequeno Rafael, de um ano e meio, se destaca entre os adolescentes e adultos, estudantes e trabalhadores que passam pelo local.

 “Pelo menos, três vezes na semana, trago o Rafinha para brincar na Praça Cívica, um lugar amplo, que oferece contato com o meio ambiente e nos dá uma sensação boa de liberdade”, disse a dona-de-casa e mãe do Rafael, Ana Paula Feliciano de Sá.

E é em meio a toda essa diversidade, que a Praça Cívica comemora esta semana 70 anos de fundação. Durante todo este tempo, não foram poucos que passaram por ali. Governadores, prefeitos, gente importante e ilustres desconhecidos ajudam a contar a história desta ‘setentona’, inaugurada em 1937, pelo então prefeito Gentil Ferreira, na época em que Natal, praticamente, se resumia a Ribeira, Cidade Alta e Alecrim.

Área é um reduto de lanchonetes

Pouco se sabe sobre a história da Praça Cívica, mas as primeiras referências que se tem registro são do ano de 1924. Na planta original, a Praça teria quatro quarteirões, mas em 1929, o ‘Plano Geral de Systematização da Cidade de Natal’, reduziu o traçado para dois quarteirões.

Mas a inauguração da Praça aconteceu oito anos depois, no dia 24 de outubro de 1937, no governo do então prefeito Gentil Ferreira. Coretos, quadra de esportes, tanques com tartarugas e peixes, belos jardins e muito espaço livre paras as brincadeiras de criança e os namoros.

“Eu cheguei a alcançar a praça, que ainda se chamava Pedro Velho. Um lugar tranqüilo, onde as famílias podiam passear sem preocupação. Sempre muito movimentada, na verdade, a praça era a única opção de divertimento para os moradores de Natal”, disse Dr. Enélio.

Muito se questiona sobre a localização, mas de acordo com pesquisadores e os Correios, a Praça está situada no bairro de Petrópolis, na época, reduto da residência oficial dos governadores.

“Os governadores moravam ali onde hoje é a Escola Estadual Felipe Guerra. Desde aquela época Petrópolis era um bairro nobre. Ali nas proximidades da Escola Anísio Teixeira, a família Albuquerque Maranhão, uma das mais tradicionais, tinha um pátio para a criação de cavalos”, contou o historiador Luiz Eduardo Brandão Suassuna (Kokinho).

Nesse período, décadas de 30  e 40, Natal ainda era uma pequena cidade, formada apenas pelos bairros da Ribeira, Petrópolis, Cidade Alta e Alecrim.

De lá para cá, muita coisa mudou, inclusive a Praça. Algumas coisas foram retiradas (coreto, tanques) e outras foram sendo colocadas (fonte, iluminação). A verdade é que praticamente nada mais é como antigamente. A Praça mudou muito, inclusive o nome. Ganhou mais um nome e agora chama-se Praça Pedro Velho – Praça Cívica.

“Você já viu o tanto de lanchonete que tem ao redor da Praça? São muitas, antes não tinha isso não. É legal que tenha onde as pessoas lancharem, mas daqui uns dias vai ter carrinho até no meio da praça, daqui a pouco vai se chamar Praça da Lanchonetes”, brincou a dona-de-casa, Ana Lúcia Silva.

“Não conheço registros da data que aconteceu a alteração de nome e nem quando os Desfiles de 7 de setembro tiveram início, mas recordo-me que já na década de 70 a Praça era palco oficial para as comemorações da Independência do Brasil”, explicou Kokinho.

Aos poucos com a evolução da cidade, a Praça foi deixando de ser o ponto de encontro. As praias, o cinema e, mais recente, os shoppings e computadores tomaram esse lugar. “É uma pena que hoje em dia as pessoas não vejam a praça como antigamente. Era muito bom passear de mãos dadas, jogar conversa fora, sem pressa e nem medo”, disse saudoso, Jurandir Nawarro.

Preservação é responsabilidade de todos

A Prefeitura de Natal tem uma secretaria que entre outras atribuições, tem a função de fazer a manutenção das praças do município é a Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (Semsur).

Atualmente, a Semsur tem uma verba anual de R$ 400 mil destinada à recuperação das praças, mas para o secretário Raniere Barbosa, o valor não é o suficiente e para o próximo ano ele já planeja um aumento. “Estou querendo aumentar esse valor para R$ 700 mil, já está tudo pronto, falta apenas a provação da Câmara dos Vereadores”.

Não existe um valor determinado para cada praça, os recursos vão sendo utilizados de acordo com um planejamento da Semsur e as necessidades das praças. E apesar de ter sido reformada há pouco tempo, a Praça Cívica já está precisando de alguns reparos.

“Dia desse eu estava andando pela Praça Cívica a noite e vi  que uma parte dela está às escuras e já mandei providenciar a iluminação”, disse o secretário. Além das luzes tem os bancos que estão quase todos pichados. Pelo menos, nos dois dias que a reportagem da TRIBUNA DO NORTE foi à praça, a fonte estava desligada, apesar do secretário garantir que ela é ligada todas as noites.

A segurança, ou melhor, a falta de segurança também é um fator que preocupa os comerciantes e visitantes. “Aqui é muito bom, bonito, mas ainda tem alguns malandros que ficam por aqui. E de vez em quando tem assaltos. Dificilmente vejo policiais e quando aparecem são poucos”, disse a dona-de-casa Ana Lúcia da Silva.

Um grupo de amigos, que sempre se encontra na praça, reclamou da qualidade da grama. “Em alguns pontos não tem mais grama é só areia. Além disso, ela nem sempre está limpa”, reclamou  o estudantes de 19 anos, Fábio Silva, que fez da Praça o ponto de encontro com mais duas amigas, as também estudante Jozane Brabosa (12) e Lilian Félix (12).

De acordo com informações da Semsur, a Praça Cívica conta com dois funcionários fixos que fazem a manutenção diária do local. E ainda tem um mutirão de 40 pessoas que ajudam na conservação.

Mas o secretário lembra que a população também deve ser responsável pela conservação desse patrimônio. “De uns tempos para cá a população tem consciência do seu papel e está tendo a responsabilidade de cuidar e preservar as nossas”.

Com relação aos 70 anos da praça, Raniere Barbosa disse estar pensando em fazer algum evento para comemorar o aniversário de sete décadas de uma das maiores praças do Estado. “Esta é uma data muito importante que não vamos deixar passar. Com certeza a Semsur vai fazer algum evento na praça”.

Freqüentadores criticam a falta de segurança

A Praça Pedro Velho foi o resultado de uma transformação de uma antiga área de fronteira à residência oficial dos governadores do Estado. “A primeira referência em planta da Praça que se tem registro é de 1924. No traçado original estavam previstos quatro quarteirões, mas considerando-a grande demais e diante do seu estado de abandono, o prefeito Gentil Ferreira promoveu a redução para dois quarteirões”, explicou a pesquisadora e estudante de arquitetura Eliana Lima de Carvalho.

O espaço foi o suficiente para um jardim público moderno, com duas partes laterais distintas e separadas por avenidas de tráfego de veículos: uma destinada a jogos e a outra a diversões para crianças. A outra metade foi dividida em lotes particulares com a condição de neles construírem em curto prazo prédios modernos.

A Praça Pedro Velho era o ponto mais freqüentado da cidade. Toda mosaicada, cuidadosamente ajardinada, lugar perfeito para as festas públicas. Quem  alcançou estes bons tempos lembra com saudades das festinhas, namoro, brincadeiras que por lá aconteciam.

“Ali era sem dúvida o ponto de encontro dos jovens daquela época e eu me incluo neste meio. Local dos namoros, dos passeios, das brincadeiras da juventude. Lá existiam uns tanques com tartarugas. Tinha um coreto onde as bandas do Exército, Marinha e da Aeronáutica faziam as retretas, nas ocasiões especiais”, contou o diretor do Instituto Histórico e Geográfico do RN, Enélio Pretovich.

Durante estes 70 anos, a Praça Cívica passou por diversas reformas, retiraram o coreto, os tanques com peixes e tartarugas, mudaram o piso, os bancos, os jardins a iluminação. “Não tem mais nada semelhante ao que era antes, não existe mais a quadra de vôlei, aonde quase todas as noites eu jogava com os amigos e nos finais de semana vinha passear com a família, com as namoradas. Naquela época a praça era até mais bonita do que é hoje, mais freqüentada e mais humanizada”, recorda o advogado e campeão de vôlei, Jurandir Navarro.

E o Sr. Jurandir tem razão. A Praça Cívica não é mais tão movimentada. Cercada por grandes supermercados, clínicas, hospitais, empresas, escolas, o vai e vem de gente só é intenso durante a semana. Nos finais de semana, é quase um deserto. Por ser uma área predominantemente comercial, os poucos moradores que ainda moram por lá não arriscam um passeio. “Hoje tem o problema da violência, por isso que o povo saiu de lá. Não se vê ninguém no final de semana”, justificou Sr. Jurandir.

Nem mesmo com todas as reformas a Praça Cívica conseguiu atrair grandes públicos. Na última grande mudança, que aconteceu em 2004, foram trocados todo o piso por pedra portuguesa branca e preta, instalação de rampas e nivelação dos canteiros para as pessoas portadoras de necessidades especiais, uma nova jardinagem e uma iluminação cênica que atende às exigências de um praça moderna. Mas a verdade é que a população não se sente segura no local.

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