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Presença poética de Mossoró e Tibau

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Nelson Patriota [ escritor ]

Que cidade não inspira admirações as mais variadas, e que pouco a pouco não se traduzam em cantos e poesias? Nem mesmo a melancólica Beócia, de triste memória na Antiguidade, se privou de seus poetas e cantores. Com mais razão, a combativa Mossoró, sempre acompanhada do aposto “Princesa do Oeste”, inspiraria louvores de vária ordem não só a mossoroenses de direito, mas também os adotivos – quer os que a adotaram, quer os que foram por ela adotadas. Ou a ambos os casos.

O livro “Mossoró e Tibau em Versos: antologia poética” (Sarau das Letras, 2014), organizado pelo poeta David de Medeiros Leite e José Edilson de A. G. Segundo, é mais uma de outras tantas antologias que a cidade de Mossoró suscita de tempos em tempos, a exemplo de “100 Poetas de Mossoró”, organizada por Caio Cézar Muniz, e com a qual compartilha um sentido fluido e elástico do termo “antologia”. Com efeito, ambos remetem mais à recolha do que a seleção, pecado aliás muito corrente nas modernas “antologias”, que, por não terem um propósito crítico, elegem como parâmetro diretivo o acervo disponível em torno do seu objeto de eleição indiscriminadamente. Isso finda por conferir a esses livros um caráter generalista e desigual, quando se cotejam seus textos mais acuradamente, colocando lado a lado poemas de gêneros e qualidades diversos; por outro lado, dá a esse conjunto díspare um verniz documental, uma vez que acolhe praticamente tudo o que considerar pertinaz ao tema.

Devido a isso, a antologia apresenta um largo espectro de gêneros que comporta versos brancos, cordéis, elegias, sonetos e outros estilos poéticos, enquanto a diversidade de autores abre um vasto leque de motivos, alguns bastante originais no tratamento do tema comum. Os exemplos são vários: o poema longo “Conversa de cangaceiros a cavalo no dia em que atacaram Mossoró”, de Homero Homem, o poema “Exercício de memória”, de Deífilo Gurgel, o cordel “De calça curta e chinela”, de Antonio Francisco, “Adoção”, de Clauder Arcanjo, “Canoeiros de Mossoró”, de David Leite, entre tantos outros.

À diferença da recolha poética levada a cabo por César Muniz, essa de David Leite e José Segundo inova ao incorporar a poesia telúrica e talássica inspirada nos encantos da praia de Tibau, extensão dos domínios afetivos dos mossoroenses; sua Pasárgada, no sentido bandeiriano. Predomina, porém, numérica e qualitativamente, a fonte de inspiração encravada nos chãos mossoroenses, como a dizer que o primeiro amor transborda de inspiração, em comparação ao amor tardio de Tibau.

A exceção é o poema “Mossoró e Tibau”, de Neila Costa, que reúne esses dois afetos mossoroenses numa ciranda de versos que se alternam em propalar ora as belezas e virtudes

 de um, ora do outro, numa celebração balanceada a fim de não melindrar nenhum deles. O fato, porém, de abrir e fechar o poema com evocações a Mossoró, deixa transparecer uma preferência tácita por esta cidade.

A paixão por Mossoró transborda sem pejo no poema “Ó Mossoró! Ó Sol”, de Cosme Lemos, que vale por uma quase-elegia à Princesa do Oeste, e que logo em seus primeiros versos estabelece a ligação essencial da cidade com o astro-rei Compare-se com o poema “Mossoró, sob o sol e o vento”, de João Wilson Mendes Melo, cujo verso inicial diz: “Na cidade em que nasci e cresci / Quem governa e quem manda é o sol”), enquanto escande a solitária vogal iterativa do nome da cidade: “Ó Mossoró! Ó Sol! As consoantes mortas / Perdem-se no clarão da vogal que as consome / E acorda todo o Oeste, abrindo as tuas portas, / Para dar ao sertão o calor do teu nome […]”.

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