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Previsão é de chuvas escassas

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Fernanda Zauli e Gabriela Freire – repórteres

O prognóstico oficial de chuvas no semiárido do Nordeste para os meses de fevereiro, março e abril é de maior probabilidade de chuvas na categoria abaixo da média histórica. A previsão climática foi obtida em reunião realizada em Fortaleza, nos dias 23 e 24 de janeiro de 2013, sob coordenação da Fundação Cearense de Meteorologia do Estado do Ceará (Funceme), com participação dos núcleos estaduais de meteorologia do Nordeste, Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC), Instituto Nacional de Meteorologia (INMET).
Semarh alerta que se uma nova seca se configurar, a situação dos reservatórios que hoje já estão com volumes em torno de 30 por cento se agravará
O principal parâmetro que influenciou na conclusão de incidência de poucas chuvas nos próximos meses foi a condição apresentada pelo oceano Atlântico Norte, aonde predominaram águas mais quentes em relação ao setor sul deste oceano. As demais regiões que estabelecem relação com as chuvas na região – Oceano Pacífico e Atlântico Sul- apresentaram condições neutras.

“No entanto é preciso salientar que o comportamento dos parâmetros oceânicos-atmosféricos apresentados durante o mês de dezembro de 2012 não é definitivo para uma previsão conclusiva referente ao comportamento das chuvas no período de fevereiro a maio de 2013, até porque na análise das condições de anomalia da superfície de mar referente a última semana entre os dias 16 a 23 de janeiro de 2013 mostra uma diminuição do aquecimento do oceano atlântico norte e aquecimento no atlântico sul, principalmente na costa da África, mostrando uma evolução favorável para a ocorrência de chuvas na região”, diz o documento.

Com a confirmação, o secretário do Meio ambiente e Recursos Hídricos, Gilberto Jales, disse que a perspectiva de um período fora do normal já vinha sendo trabalhada desde as previsões de novembro e dezembro. Jales reforça que a situação é muito preocupante. “Diferente da seca de 2012, quando os reservatórios do Estado estavam com volumes médio entre 50% e 60%, se tivermos nova seca em 2013, a situação dos reservatórios que hoje já estão com volumes em torno de 30% – muitos dele até abaixo, se agravará”, destaca.

As medidas apresentadas pelo governo estadual, em parceria com outros órgãos, para manter o quadro de seca sob controle vai do alerta à população pedindo o uso mais consciente da água até a retomada de obras estruturantes que estavam paralisadas  e racionamento parcial do recurso em algumas regiões. “É importante sempre alertar a população que a água é o bem mais escasso do mundo. Em muitos países isso rende até guerra”, cita.

REUNIÃO

No fim de fevereiro, haverá, na Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte (EMPARN), uma nova reunião climática para apontar um prognostico atualizado, chegando até o fim de maio. As avaliações acontecerão mensalmente em 2013. “Estaremos constantemente monitorando a evolução das condições atmosféricas e oceânicas para enxergarmos possíveis mudanças nesse quadro. Isso aumenta a confiabilidade na nossa previsão”, ponderou o presidente da Funceme, Eduardo Martins.

Estoque escasso para atender 16 mil cadastrados

Na manhã de ontem, no galpão da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) em Natal o estoque de milho era de 1.938 toneladas para comercialização no programa Vendas em Balcão, que objetiva viabilizar o acesso dos criadores e das agroindústrias de pequeno porte, por meio da venda direta dos estoques de diferentes produtos agrícolas, tais como, milho, arroz, trigo e castanha, entre outros. De acordo com o superintendente regional da Conab, João Maria Lucio da Silva,  o estoque não é suficiente para atender os 16 mil cadastrados. “Estamos racionando e a venda está limitada a 3 toneladas por agricultor ou criador cadastrado”, disse.

A preocupação da Conab é que o programa Venda em Balcão, que tem subsídio do governo federal, termina dia 28 de fevereiro. “Os governos dos estados do Nordeste terão que se mobilizar para tentar sensibilizar o governo federal a prorrogar o prazo”, explicou José Maria Lúcio. De acordo com José Maria, a Conab recebe cerca de 300 novos cadastros por dia.

Para discutir ações emergenciais de combate aos efeitos da seca, os agricultores e criadores de gado do Rio Grande do Norte pretendem se reunir com a governadora Rosalba Ciarlini. De acordo com o presidente da Associação Norte-rio-grandense de Criadores (Anorc), a perspectiva de mais três meses de chuvas abaixo do normal apresentada pelos meteorologistas é preocupante. “A nossa preocupação é porque mesmo se as chuvas começassem hoje só teríamos volumoso dentro de 30 a 45 dias. Imagine se o inverno começar daqui a 90 dias”, disse José Teixeira de Souza Junior.

Teixeira afirmou que em reunião realizada na última terça-feira com representantes da Federação da Agricultura e Pecuária do RN (Faern), e do Sindleite, ficou decidido tentar marcar uma agenda com a governadora. “Nós queremos saber do governo quais são as estratégias tem para oferecer daqui para frente, tendo em vista que já houve grande redução do rebanho no Estado”, disse.

A estimativa do Instituto de Defesa e Inspeção Agropecuária do RN (Idiarn) é de uma diminuição de 25% no rebanho potiguar por conta da seca. A porcentagem significa uma perda de 225 mil cabeças de gado. O rebanho potiguar foi estimado em 900 mil cabeças no ano passado pelo IBGE.

A Anorc também irá procurar os deputados estaduais para cobrar engajamento na problemática da seca. “Temos uma reunião marcada com o presidente da Assembleia Legislativa, Ricardo Motta, para a próxima terça-feira e vamos pedir que os deputados se engajem para tentar encontrar soluções para os efeitos da seca no RN”, afirmou Teixeira. Segundo ele, a ideia é pedir que os deputados visitem as regiões atingidas pela estiagem e, diante do diagnósticos, cobrem dos governos federal e estadual ações para minimizar os efeitos da seca. “Assim como foi feito na Paraíba, onde os deputados fizeram uma caravana pelo estado e depois elaboraram a ‘Carta da Paraíba’ com sugestões de ações estruturantes para o semiárido”.

Como medida emergencial a Anorc se reuniu essa semana com a diretoria da Usina São Francisco, em Ceará-Mirim, para negociar a compra de cana-de-açúcar, usada como volumoso. “Estamos negociando a compra da cana com a Usina São Francisco. Eles ficaram de fazer um levantamento de quanto será possível disponibilizar para a Anorc”, explicou. José Teixeira ressaltou que, independente de previsões, é importante que cada criador se previna para um quadro negativo.

Uso da água

O volume de água presente nos reservatórios estaduais atualmente foi retido, em grande parte, ainda em 2011, já que 2012 foi um ano de poucas chuvas. Em função disso, os principais encaminhamentos são o pactuamento sobre o uso da água em algumas bacias, como na Bacia Piranhas-Assu nos perímetros de Irrigação – com a Agência Nacional de Águas (ANA), Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs) e Instituto de Gestão das Águas do RN (Igarn).

O perímetro de  Cruzeta é um exemplo. “Pactuamos que não havia mais condições de liberar água para irrigação. Precisamos preservar a água para uso humano. Mas ao mesmo tempo alertando para a Caern fazer uma revista em toda a rede para ver se existe ou não algum tipo de desperdício de água. E buscar alternativas de abastecimento”, destaca Gilberto Jales.

Para obras estruturantes, a Secretaria de Estado do Trabalho, da Habitação e da Assistência Social (Sethas) recebeu R$ 17,8 milhões, oriundos de convênio firmado do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS). A verba será usada para a construção de 7.470 reservatórios, em área rural. A parcela é referente ao convênio, no valor global de R$ 33,8 milhões, com  R$ 338,9 mil de contrapartida contratual do Governo do Estado.

Bate-papo

Gilberto Jales, titular da Semarh

Quais as alternativas de abastecimento?

Na região do Alto Oeste onde estamos acelerado para concluir a execução da Adutora do Alto Oeste, temos municípios que os sistemas individualizados já entraram em colapso, então estamos fazendo pequenas intervenções como ramais para captarem de outros açudes que tenham água, perfurando poços em alguns locais, como Carnaúba dos Dantas, recuperando poços existentes para atenuar o problema.

Essas medidas são emergenciais. Quais seriam as de médio e longo prazo?

Em alguns casos sim, mas na maioria são obras estruturantes e de longo prazo. São obras que estavam atrasadas, paralisadas. Estamos retomando e acelerando o processo de construção para que possa alcançar o beneficiário o mais rápido possível. Mesmo sabendo que uma adutora não vai produzir água.

Existe a possibilidade de racionamento?

Existe sim. A grande decisão é como operacionalizar isso. O fato de fechar o registro para o perímetro de irrigação já é um racionamento. Estamos optando pelo que é mais lógico, que é priorizar o consumo humano e animal. Essa situação já aconteceu em Cruzeta, Passagem das Traíras e Açude Sabugi. Estamos alertando a população que quanto mais o tempo avança, mais se faz necessário o bom uso da água.

Esse alerta serve para a Região Metropolitana de Natal?

Com certeza. Natal não corre o risco de faltar água. Não seria um racionamento clássico, mas o consumo pode avançar e a oferta pode não seguir a mesma proporção. O sistema de Natal oferece cerca de 200 litros por habitante/dia, mas isso pode cair e a população sentir a diferença. Para você ter ideia, a Operação Pipa distribui água numa proporção de 20 litros por habitante/dia.

Quais são as ações do Programa do Semiárido Potiguar que ainda precisam ser concluídas?

Uma série de metas, mas nem todas físicas. A intervenção física se dá como ferramenta para uma melhoria do ponto de vista humano e social. Mas de metas concretas temos estudos importantes para o estado, como o do aquífero Barreiras, que fornece água para Natal.  Temos ainda a atualização do Plano Estadual de Recursos Hídricos.

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