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Projeto tenta modificar a realidade dos jovens da Vila

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Felipe Gurgel – Repórter de Esportes

O relógio ainda não marcava nem seis horas da manhã, e várias crianças, entre 8 e 16 anos estavam  na frente da casa de Eliezer Júnior de Souza, na vila de Ponta Negra. Isso era um sábado.   Todos com a mesma vontade: de que as aulas de de futebol, do qual Eliezer é o professor, tivessem início. Desde o mês de maio ele desenvolve um projeto com as crianças do bairro. O mesmo, que, desde criança ele mora, e não tinha nenhuma praça de lazer para se divertir. Tinha que aproveitar a praia para poder “matar” o tempo ocioso. Para dar oportunidades para os jovens e evitar que eles entrem para o mundo da criminalidade, Eliezer decidiu, por esforço próprio, fundar o projeto “Criança Feliz”.

“Me sinto realizado em dar uma chance para as crianças daqui. Não tive ninguém que fizesse isso por mim. Mesmo com todas as dificuldades que enfrento para manter o projeto funcionando, continuo firme. Não vou desistir por causa dos problemas não”, avisa Júnior.

Os problemas que Eliezer se refere, é o descaso e a falta de incentivo por parte do poder público e também dos empresários da região. Até o campo que serve como local para as aulas, o do Botafogo de Ponta Negra, corre risco de ser tomado pelo proprietário. “Até agora, nós não pagamos aluguel para usar o local. Mas, o proprietário já pediu que pagássemos uma taxa de R$ 30 por mês, a partir do próximo ano, para continuar dando aula. Não cobro nada dos alunos para dar aula e não vou cobrar, mesmo com o pedido do proprietário. Só não sei da onde vou tirar esse dinheiro”, conta Júnior, que atualmente está desempregado.

Atualmente o Projeto conta com 102 e duas crianças divididas em duas turmas. A primeira, dos 8 aos 13 anos. A outra, dos 14 aos 16 anos. Todas treinam exclusivamente aos sábados, para não atrapalhar os estudos. “Antes treinávamos três vezes por semana, mas os pais vieram conversar comigo, explicando que os treinos tiravam a atenção dos filhos na hora de estudar. Como as notas são fundamentais para os jovens continuarem no projeto, decidi retirar as aulas dos dias de semana e deixar só aos sábado”, revela Eliezer.

Com o final do ano letivo para a rede pública de ensino, o fundador do projeto espera voltar a dar aulas durante a semana, para ocupar o tempo das crianças, sem atrapalhar os estudos.

“Normalmente converso com os pais do alunos para saber como eles estão na escola. Se as notas não estiverem boas, eles são suspensos do projeto até recuperarem as notas. Faço isso para que, se eles não conseguirem realizar o sonho de se tornarem jogadores de futebol profissional, pelo menos tenham alguma chance no futuro. O que não posso é concordar com o abandono dos estudos”, afirma Souza.

Sobre as dificuldades que o projeto está atravessando, Eliezer afirma que, com pouco, ele pode dar continuidade ao seu sonho. De acordo com o coordenador, o que os alunos precisam é de apenas bolas de futebol e chuteiras. Nada mais do que isso. Eliezer revela que que já procurou a Secretária da Juventude do Esporte e Lazer (Sejel), mas, até agora, não teve uma resposta.

“As vezes fico pensando que seja algum tipo de discriminação com o pessoal daqui da Vila. Na época de eleição, vários políticos passam por aqui prometendo ajuda. Depois, parece que nada aconteceu. Já conversei com o secretário Tertuliano Pinheiro para saber como ele poderia ajudar o projeto. Ele ficou de dar uma resposta e até agora nada. É complicado. Tento tirar as crianças das ruas, mas, parece que as pessoas não gostam desse trabalho que estou desenvolvendo”, finaliza Eliezer.

Pais apoiam o projeto para segurança dos filhos

Não são só as crianças que gostam de participar do projeto Criança feliz. Alguns pais fazem questão de acompanhar o filho na empreitada de tentar realizar o sonho de ser um jogador de futebol. É o caso de Paulo Henrique da Silva, carioca de 39 anos, que mora na Vila de Ponta Negra há 15 anos. Todo sábado ele acompanha seu filho, Pedro Henrique, de sete anos, ao campo do Botafogo do bairro, onde acontecem os treinos do projeto.  “Acho muito importante que os pais acompanhem o crescimento de seus filhos. Ainda mais aqui em Ponta Negra, que as crianças convivem com todo tipo de gente”, alerta Silva.

O filho de Paulo, Pedro Henrique, acorda bem antes do início das aulas, ansioso para ter o contato com o campo, os amigos, e principalmente a bola, objeto de desejo de todas as crianças que estão matriculadas no projeto. “É impressionante. Desde pequeno mesmo que Pedro não larga a bola. Como não tinha nenhuma escolinha aqui em Ponta Negra, sempre tinha que levá-lo a praia para ele brincar. Mas, não é a mesma coisa. Aqui tem todo o encanto de calçar as chuteiras, jogar em um time, essas coisas que as crianças gosta. Esse projeto caiu do céu”, revela Paulo.

De acordo com o pai de Pedro, o projeto ajudou a melhorar as notas do filho na escola. Isso, porque os alunos são obrigados a tirarem notas boas na escola para continuarem treinando. “ Não sei se isso tem alguma coisa em relação a escola, porque o Pedro ainda é muito novo para prestar atenção nessas coisas, mas, depois que ele entrou no projeto, as notas deles melhoraram muito. Passou até de alguns colegas na sala de aula, tudo com medo de perder a vaga na escolinha, acho eu. Isso aqui não pode se acabar. Se o poder público não faz nada, pelo menos temos alguém que faça. Mesmo que seja com muitas dificuldades”, afirma Silva.

Vencer no futebol para melhorar a vida da família

O nome é de um dos maiores  jogadores de futebol de todos os tempos: Romário. Mas, o sucesso e a fama estão longe de acontecer. Sobre a origem do nome, ele revela que foi o pai que escolheu. “Meu pai era fã de Romário, e por isso decidiu colocar meu nome assim. Eu até gosto” diverte-se. Romário Martins Alves do Nascimento, de 14 anos,  é apenas mais um garoto que tem o sonho de mudar de vida através do futebol. Ele faz parte do projeto Criança Feliz desde o início.  Assim como tantos outros meninos, Romário espera vencer no futebol para dar uma situação financeira melhor para a família. “Não tenho tanta pretensão em ser o melhor do mundo, como o Romário, mas, tenho vontade de jogar no ABC, meu time de coração, ou, quem sabe poder ir para a Europa, para ganhar algum dinheiro”, sonha.

Com um corpo franzino, típico de um garoto na adolescência, Romário revela que já tentou por duas oportunidades entrar no ABC, ou no América, mas, não conseguiu. Mesmo assim, ele não desanima e segue tentando. “ Participei de peneira no ABC, mas não deu certo. Depois tentei uma no América, e o pessoal de lá gostou de mim. Ficaram de me ligar, mas, até agora não ligaram. Não vou desanimar. Vou tentar até conseguir realizar meu sonho”, afirma Romário. E, não é só nome, que, segundo o garoto, ele se parece com o ídolo. De acordo com o menino, sua posição é de atacante, por gostar de fazer gols.

Como o projeto desenvolvido na Vila de Ponta Negra anda passando por dificuldades, já que não recebe ajuda nem do setor privado, muito menos da iniciativa pública, Romário reza para que a escolinha não se acabe. Para o jovem, as aulas servem para tirar os meninos da Vila do caminho das drogas e criminalidade, que impera no bairro. “ Como não temo nenhum praça de lazer, só temos essa escolinha para nos divertir. Espero que o projeto continue para que eu e meus amigos possamos continuar jogando bola. Além do que, é bem melhor ficar aqui, do que no meio da rua, fazendo coisas erradas”, finaliza Romário.

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