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Psicopatia (1): assédio moral e suas consequências psicossomáticas*

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Rita de Cássia Mendes de Medeiros [ psicodermatologista ]

Nós que nos reunimos por um “pensamento psicossomático” temos que nos abrirmos às “novas” convergências soma e psique. Digo “novas”, entre aspas, por que o assunto é tão antigo quanto a humanidade ou a “desumaninade”.

Na vida, temos relações positivas, estimulantes, que nos incitam a dar o melhor de nós mesmos. Outras, que nos desgastam e que podem nos destroçar, nos desestabilizar.

Hoje, o nosso assunto é o maltrato psicológico, cuja crueldade pode conduzir a um verdadeiro assassinato psíquico. Soube que o último Goya (o Oscar do cinema espanhol) foi concedido ao filme “Te doy mis ojos”. É um filme denúncia em que a diretora Iciár Bollaín coloca de forma admirável a sétima arte para relatar um caso desta nova epidemia organizativa do século 21.

Violência perversa na vida cotidiana e suas consequências psicossomáticas

A violência perversa nas relações pode ser exercida de maneira indireta, quase imperceptível (ocorre com maior frequência), e direta, aberta e arrebatadora que costuma começar por uma simples falta de respeito, como uma mentira, como uma manipulação e terminar em abuso de poder e/ou abuso sexual. Quem sofre pode, em princípio, manifestar uma INDULGÊNCIA INAUDITA frente às mentiras e às manipulações com o pretexto de respeitar a liberdade do outro, sem lograr perceber as situações graves que se aproximam.

A violência perversa no casal se reduz a uma relação de domínio e na empresa é produto da ânsia de poder e da perversidade (não confundir com perversão). Em outros contextos está mais estereotipada que na esfera privada, mas os mecanismos empregados são sempre os mesmos: a sedução, a manipulação, o vampirismo e o desejo de poder por parte do agressor, e do outro lado a vítima como objeto, com seus escrúpulos, sua transparência, levando-a à vulnerabilidade, e sua submissão ou excessiva condescendência.

Entre esses personagens, agressor e vítima, se desencadeia um jogo relacional em que as consequências para a vítima são: a confusão, a dúvida, o estresse, o medo, a culpabilidade, o isolamento, já que o agressor provoca o seu desequilíbrio, a sua desestabilização, mediante a comunicação perversa que leva ao abuso do poder ou abuso narcisista (no sentido de que o outro perde a sua autoestima) e/ou abuso sexual.

A trama desenvolve-se quando um indivíduo “narciso vazio” (a vítima como espelho) elege a sua vítima para se nutrir dos seus valores e impor o seu domínio ao retê-la, paralisá-la, em uma relação de dependência e/ou de propriedade para demonstrar a sua onipotência. A vítima imersa na dúvida e na culpabilidade não pode reagir e quando se defende a luuta se estabelece, porque a agressão do perverso passa de indireta a direta. Esta situação pode desembocar na morte psíquica da vítima.

*Trabalho apresentado na Associação Médica Brasileira no Rio Grande do Norte (AMB/RN) em 2004.

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