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Psiquiatria social

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Rita de Cássia M. de Medeiros Homet Mir  [ psicodermatologista ]

“A escuridão estende-se mas não elimina o sucedâneo da estrela em nossa mão”

Carlos Drummond de Andrade

No artigo anterior, embora de forma sucinta, tentei relatar que os casos de TERRORISMO MENTAL extrapolam a individualidade do ser para um contexto social. Este estudo da psiquiatria social torna-se fascinante pois há um elo indubitavelmente inseparável entre Medicina e História.

Vemos que em função da situação histórica, econômica e consequentemente social de um país, a idiossincrasia da sua população é mutante, isto é, a sua disposição temperamental reage de forma distinta conforme as  circunstâncias. O que quero dizer é que estas idiossincrasias não são fixas ou próprias de determinado povo, como se estivessem marcadas em seu genoma, mas sim produtos ou consequências daquele momento histórico específico.

Dias atrás vi em um telejornal, um compatriota que de volta de Nova York, afirmava, exultante, que agora os brasileiros estavam sendo “muito respeitados” alí, já possuidores de um razoável poder aquisitivo eram como “água de maio” na hoje fragilizada economia americana. Aquela forma despectiva dos americanos tratar aos povos de origem latina havia sido substituída por “ um simpático e falso servilismo” que as circunstâncias econômicas os obrigam momentaneamente.

Retornando ao nosso país e dentro dessa linha de pensamento, constatamos a incorporação progressiva de uma enorme parcela da população à denominada “Classe C”, que adquiriu suficiente poder aquisitivo para melhorar a sua qualidade de vida através da obtenção de bens materiais antes impossíveis de possuir graças à democratização, programas sociais, educacionais, etc. Isto é e deve ser motivo de enorme satisfação  para todos que vemos nosso país caminhar para uma maior igualdade e relativo bem-estar generalizado.

Neste panorama é necessário atentar , porém, para o seguinte: existem dois fatores, por um lado consideremos que o poder de análise e a reflexão como ferramentas intelectuais são um produto cultural fruto de uma educação básica, lente e gradativa, um processo que vai moldando o ser humano ao longo do tempo, uma escada que é necessário subir com todas as suas dificuldades. Atualmente, acreditamos que ainda existe grande carência de esse poder. Por outro lado, vivemos numa sociedade nova imersa num capitalismo selvagem cujo único objetivo é a obtenção do lucro, da maneira que for, seja utilizando publicidade enganosa, seja vendendo fantasias irrealizáveis e tudo num clima de total insensibilidade para com o próximo. Do encontro desses dois fatores, como uma espécie de síntese, verificamos, nestes últimos tempos, uma queda assustadora  no nível da “cultura brasileira” em geral, veja-se o ensino nas Universidades, os meios de comunicação, a música popular, os inter-relacionamentos, o nível da linguagem, etc. O “lixo cultural” entope os programas de TV e as prateleiras das nossas poucas livrarias enquanto, isso sim, proliferam as academias, os fast foods, as lan houses e os shoppings, nossa catedrais de consumo e exibição.

Retornando ao meu artigo anterior (30.10.11) quando iniciei o tema Psiquiatria Social e Massacre Psicológico, o que senti ao ouvir o meu compatriota falar, de forma “tão alegre”, que agora somos muito “bem tratados”no “Império”, foi uma pena imensa pois constatamos, cada vez mais, a manipulação, uma farsa a mais do poder, seja ele econômico, cultural, etc e volto sempre a afirmar que seja de forma subliminar ou às claras, qualquer manipulação é uma forma distinta de ASSEDIO MORAL.

Relembro agora um caso acontecido com o meu querido,inesquecível e saudoso Pai e de uma entrevista de Ermírio de Morais. Papai, tomando  um café da manhã em Buenos Aires, pediu queijo e o pedante garçom disse: “No entiendo”, meu pai então indicou a mesa ao lado e disse: Aquilo, queijo. E o “simpático” portenho respondeu: “Ah, quiere usted decir queso!”. Ermírio de Morais reclamou também dessa falsa superioridade em várias negociações. Hoje, “nuestros hermanos “falam portugues, no hablan” e ADOOOORAM os brasiloches que lá compram e gastam seu dinheiro. Continuaremos este assunto.

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