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Quando romance e livros de viagem se encontram

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Carlos de Souza [ [email protected]  ]

Faz dias que estou com esses livros na fila de leitura e só agora venho a público fazer alguns comentários sobre eles. O primeiro é Enquanto Deus Não Está Olhando, de Debora Ferraz, Editora Record, 366 páginas, R$ 29,45. Este livro é vencedor do Prêmio Sesc 2014 e é o registro de uma jovem grande escritora que chega ao mercado editorial brasileiro. O livro traz a trajetória de uma artista plástica que se vê diante de um dilema quando perde o pai e tem que votar às suas raízes para compreender o momento em que vive.

Debora Ferraz de Serra Talhada, PE e morou um tempo em João Pessoa, onde cursou jornalismo. Atualmente mora em Porto Alegre (RS), onde cursa doutorado em Escrita Criativa pela PUCRS. Dessa vivência ele criou um universo denso em que seus personagens mergulham nas profundezas da condição humana. Com pleno domínio da técnica narrativa, ela faz com que o leitor só pare depois de virar a última página.

Eu a conheci em Caicó, num evento promovido pelo Sesc para promover seu livro e fiquei impressionado com o profissionalismo dela. Após o bate papo com professores, ela me contou que já está escrevendo um novo romance e já tem contrato assinado com uma grande editora. Desejo pleno sucesso.

O segundo livro é Pelas Entreviagens, de Heyesiof Epwe’ru, Editora Sebo Vermelho, 152 páginas. É um livro de viagem, mas também um livro de viagem pelo conhecimento. O autor começa narrando seu encanto inicial pelo idioma português e seus desejo de aprender vários idiomas. Depois de passar por vários países, ele decide vir para o Brasil. É essa trajetória que ele oferece ao leitor.

O texto narrado na primeira pessoa prende pela leveza e o frescor dos assuntos abordados. Tudo aqui é muito simples e direto. Pequenas histórias de assuntos cotidianos que vão formando uma colcha de retalhos. Um pesadelo em Salvador encaminha o leitor para uma temporada na Bahia ao lado do narrador dessas crônicas curtinhas.

Conheço Heyesiof Epwe’ru porque ele mora em Pium, mas não sei ainda pronunciar seu nome. Ele nasceu em New Orleans e logo cedo caiu no mundo, viajando para vários países. De vez em quando eu o vejo no Porão das Artes e a gente se cumprimenta e conversa um pouco. Ele é muito jovem e talvez isso explique um pouco a simplicidade de suas histórias. Não tem profundo, são só histórias de viagem que um jovem deseja lhe contar. Aquelas histórias que a gente escuta em pousadas quando viajamos para lugares descolados e sem muita sofisticação. Mas é muito legal.

O terceiro livro é Outras Terras – Crônicas e Ensaios, de Steven Byrd, Editora Sebo Vermelho, 107 páginas. É outro livro de viagem pelo Brasil e o autor também é estrangeiro. Trata-se de um professor americano, de línguas e cultura latino-americana na University of New England. Ele é do Novo México e atualmente mora em Portland, Maine.  Então arrume a bagagem e entre nessa viagem com Steven. Ele estudou na Universidade Federal de Minas Gerais e por isso sua primeira crônica é sobre este lugar no Brasil. O autor é umbom contador de estórias e vai levando você numa boa conversa, como se você estivesse viajando com ela de ônibus na poltrona ao lado. Além de lugares das Minas Gerais dos quais ele fala da alimentação e costumes, tem também passagens por Portugal, Cuba, Peru, Equador, Paris, México e EUA.

São leituras que refrescam nossa mente cansada do noticiário amargo dos últimos dias. O romance de Debora Ferraz dá aquele tapinha no cérebro, nos lembrando de nossa fragilidade humana. Que pessoas que amamos podem ficar doentes e desaparecer de nossas vidas sem que possamos fazer nada. Os livros de viagens dos autores estrangeiros acima citados nos mostram a beleza da vida e de como é bom viver os momentos sem pensar no amanhã.

Na viagem de volta, olhando a beleza do sertão do Seridó, com suas serras esplêndidas, vi a metáfora da coragem de um povo que enfrenta uma seca centenária sem arredar pé de seus lugares, fiquei pensando nessas páginas que me deram tanto conforto. Na noite, antes da conversa com os professores no espaço do Sesc em Caicó, fazia uma lua cheia absurdamente linda no céu do sertão. 

Meu olhar ateu viu que Deus não estava olhando quando pisquei para ele uma vez só.

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