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“Quando saio do ABC, bato o pé para não levar nem areia”

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Vicente Estevam e Felipe Gurgel
Repórteres de Esportes

O vice-presidente de marketing e comunicação do ABC, Paiva Torres, aceitou o convite feito pela TRIBUNA DO NORTE para dar uma entrevista e falar sobre o atual momento do clube. Ele não se furtou de responder nenhuma pergunta e falou dos bastidores alvinegros. Explicou as finanças abecedistas, os momentos delicados  da série B de 2013, o afastamento de Rubens Guilherme Dantas da presidência do clube e a chegada de  Rogério Marinho a direção. Deu sua opinião sobre a ação que o conselheiro Gláucio Uchôa entrou contra o ABC, as críticas que ele, Paiva, recebe dos torcedores e de como os problemas extra-campo acabaram atrapalhando o desempenho do time nesse início de temporada.
Dirigente alvinegro afirma que, por ele, Rubens Guilherme Dantas não teria concorrido a reeleição para presidente
Como o senhor analisa o atual momento do ABC?

Futebol sempre é delicado. Comecei a vivenciar o ABC na década de 70, como torcedor. Logo depois, fui para dentro do clube na gestão de Edson Teixeira e já naquela época, as dificuldades não eram diferentes das de hoje. Tivemos um bom período bem, mas, no início desse século passamos por uma entressafra, perdendo espaço para o nosso co-irmão, o América.

Hoje em dia, o clube exige mais do dirigente?

Muito mais. Na nossa época, era mais fácil administrar o clube. Era um tempo mais romântico, menos profissionalismo, principalmente depois da Lei Pelé, as coisas ficaram mais difíceis, mais caras. Um clube como o ABC, para se manter na série B, é muito oneroso. Tem que ter muita competência dos seus dirigentes para manter a equipe na segunda divisão.

Como fazer para equacionar a folha salarial alta e o pouco patrocínio?

É preciso fazer ginástica. A gestão de Rubens Guilherme, trabalhou muito essa questão da receita. Melhoramos muito nosso renda. Com ele, conseguimos, junto a sem, um patrocínio de R$ 150 mil, estamos na elite da Timemania, que é boa, acima de R$ 100 mil por mês. Tivemos um bom momento no nosso programa de sócio. E foram essas receitas que possibilitaram que o ABC se mantivesse na série B. Até porque, bilheteria não mantém folha salarial.

A meta da atual gestão é de levar o ABC para a série A no ano do centenário, 2015. Esse planejamento está mantido?

O programa de sócio era para ter continuado crescendo. Ele deveria ter crescido o suficiente, para que hoje, pudesse ter 20 mil sócios. Com esse número, teríamos condições de voltar a série A e permanecer, porque a receita é suficiente para manter o clube. A diferença de cota de televisão é gritante. Tem clube que recebe seis vezes mais do que o ABC. Mas, se aumentarmos essa quantidade de sócio, dá para pensar em série A.

Mesmo com bons patrocínios, o ABC teve problemas dentro de campo, lutando contra o rebaixamento. Isso atrapalhou o planejamento para a série A?
Dificilmente alguém não comete erros e essa gestão cometeu alguns. Tivemos muitos acertos também. Em 2011, 2012 e 2013, tivemos muitos percalços. Erros em contratações, jogadores onerosas. Mesmo com a receita alta, nossas despesas também aumentaram, principalmente com as contratações equivocadas e isso prejudicou o planejamento feito pela direção.

Tem algum momento símbolo que o planejamento começou a dar errado?

Em 2012, tivemos alguns erros de orçamento. Com isso, a folha ficou muito cara. Se a receita do clube aumentou cinco vezes, as despesas podem ter aumentado seis vezes, sempre no propósito de manter o clube na série B e isso é um investimento não tem preço. Na temporada passada, aconteceram alguns equívocos. No início de 2013, tivemos um processo de mudança no departamento de futebol e que contratamos um profissional que foi infeliz nas suas contratações, acabando dificultando as finanças do clube. Se não fosse a coragem de Rubens Guilherme, de mudar o plantel, trocar o treinador, mesmo sabendo do auto custo que seria, hoje o ABC estava na série C. Até pessoas da direção não concordavam com aquele investimento.

Esse profissional seria o Gustavo Mendes?

Foi esse profissional sim. Não gosto de citar nomes, porque as pessoas podem ficar chateadas, mas, foi ele sim.

Existe oposição no ABC? E esse clima fora de campo pode atrapalhar o rendimento dentro de campo?

Tenho saudades da época em que éramos entrevistados e nosso único adversário era o América. Hoje, o principal adversário não são eles, é o próprio ABC. Infelizmente, foi criado um grupo de oposição, que não gostam de alguns dirigentes e fazem uma oposição que passam dos limites. Conhecemos os líderes dessa oposição, que foi formada por pessoas jovens, inteligentes, que poderiam estar trabalhando para a instituição. Nunca vi isso. Estou há quase 40 anos no ABC e é com muita tristeza que vejo isso. O bom abecedista chega junto do clube. Ao invés de criticar, vou trabalhar. Qualquer verdade vira mentira e qualquer mentira vira verdade, dependendo de como se coloca. Essa oposição deveria chegar junto. Trabalhar contra a instituição só porque não gosta de algum dirigente, é prejudicial ao clube.

O conselheiro Gláucio Uchôa entrou com uma ação contra o ABC. Como você vê essa atitude?

Isso é uma anomalia. Garanto que não existe nenhuma ação de torcedor do América contra o clube. Se acho que meu clube está errado, tem o momento certo para discutir. Não vou criar problemas para o meu próprio clube. Problemas são para serem resolvidos dentro de casa. Isso é fruto desse rancor da oposição.

O ABC é um clube transparente em relação as suas contas?

Esse é o ponto que a oposição transforma, modifica o que está escrito e replicado da forma que eles querem, as verdades deixam de ser verdades. O ABC faz hoje, o que vem sendo feito desde a sua fundação. Apresentamos as contas ao conselho fiscal, que dá seu parecer e as contas são aprovadas ou não. É assim no ABC, América e em qualquer clube.  Agora, eles querem que o ABC informe tudo, todos os dias, na hora que eles desejam.

Existem contas que não possam ser divulgadas?

Todas as contas devem ser divulgadas e estão divulgadas, no orçamento, nos balancetes.

Por você, Rubens Guilherme não teria disputado a reeleição?

Rubens fez o que poucos presidentes fizeram pelo ABC, por ser apaixonado pelo clube. Antes da eleição, sugeri que ele não se reelegesse e ele ficava sem dar resposta. Nas vésperas da eleição ele me disse que não queria mais e começamos a trabalhar por um substituto e não tivemos êxito. Pedimos que ele continuasse e ele aceitou. Mas, fui contra. Passar mais de três anos como presidente é muito pesado. O ônus é complicado e a mudança é benéfica. Por mim, ele não teria sido reeleito.

Judas Tadeu é um fantasma para essa administração?

Judas não precisa de conselho. No dia que ele quiser voltar a presidência, vai conseguir, só depende dele. Só acho que ele não tem mais essa vontade. Ele sabe o peso que é ser presidente, ainda mais depois de passar 12 anos como presidente. 

Existe a possibilidade de Rubens renunciar?

Rubens é um torcedor apaixonado pelo ABC. Faz qualquer sacrifício pelo bem do clube. Tem muitas vozes que o aconselham a deixar, mas, acho que internamente, ele não vai deixar. Ele está entre a cruz e a espada.

Como foi a escolha pelo nome de Rogério Marinho para ser dirigente do ABC?

Ele está contribuindo muito para a organização financeira do clube e também institucionais. Se ele tivesse chegado no início da gestão de Rubens, ele teria tido mais tranquilidade no comando do ABC.

Rogério Marinho pode estar usando o ABC como trampolim político?

No ABC já passaram alguns político e o clube dá visibilidade. Mas, tudo depende de como se é visto. Pode ser bom para ele ou não. A única coisa que o ABC pode dar a Rogério é visibilidade. A torcida do ABC não vai votar nele só porque é dirigente do clube.

Muitos torcedores criticam sua presença dentro do ABC. Como você lida com isso?

Lido de uma forma natural. Gosto de chegar junto para ajudar, seja quem for. Estou no ABC porque gosto de ajudar, contribuir. As críticas são normais, porque nem todo mundo consegue agradar todo mundo. O que se diz é que dirigentes de futebol não são honestos. Se está lá quer se aproveitar do clube. Mas, tenho minha consciência tranquila. Quando era presidente, um funcionário que cuidava do clube, me ofereceu um saco de caju, de um cajueiro que tinha na área da Vila Olímpica. Recusei, porque podiam pensar que eu estava querendo me aproveitar do clube. Quando saio do ABC, bato o pé para não levar nem areia. Em todo lugar tem gente honesta e desonesta.  Não tenho necessidade de estar no ABC, estou ali por amor.

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