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Queima Bucha resiste e se reinventa

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Yuno Silva
Repórter Especial para o Letras&Ideias

No início eram o tipógrafo e a xilogravura, agora são o computador e a impressão offset que materializam os livros da editora mossoroense Queima Bucha. Tudo começou em 1985, com atuação concentrada na região Oeste do Rio Grande do Norte: “Era uma época difícil em todos os sentidos, agora, com a internet, podemos receber material de todo o país. A tecnologia facilitou e barateou todo o processo”, disse o escritor e empresário do ramo gráfico Gustavo Luz, 54, responsável pelo catálogo da editora, que hoje contabiliza perto de 500 títulos. Hoje, quase 30 anos depois do primeiro lançamento, a Queima Bucha também se faz presente entre autores do Ceará, Pernambuco, Paraíba, Bahia, Brasília e São Paulo. “Saiu nesses dias um cordel de Belém do Pará”, lembrou Gustavo, que montou seu ‘acampamento’ no Festival Literário de Natal, na Ribeira.
Gustavo Luz diz que foco do Queima Bucha é debater o Nordeste
O foco da Queima Bucha é debater o Nordeste, lançar holofotes sobre aspectos culturais, sociais e políticos a partir da poesia, de ensaios e romances. “Quando começamos a publicar folhetos de cordel, nossa linha editorial ampliou bastante e o nome da editora ficou atrelada ao universo da literatura popular e ao Nordeste”, frisou.

Gustavo Luz acredita que o mercado literário do Rio Grande do Norte passa por um momento de profissionalização, que pode ser alavancado com maior presença do poder público. “Um bom exemplo de como as coisas podem funcionar vem do Ceará. Por lá criaram a Câmara do Livro, buscaram orientação do Ministério da Educação para entrar com mais chances na concorrência dos editais e passaram a publicar, também, via Programa Nacional de Biblioteca na Escola. Para se ter uma ideia da diferença que separa a realidade editorial dos dois estados, basta ver os números: no Ceará, alguns livros saem com tiragem de 5 mil, 10 mil exemplares por edição, boa parte distribuídas nas escolas pelo Governo; enquanto que no RN a média das tiragens é 10 ou 20 vezes menor. “Por aqui os lançamentos saem com 300, 500 cópias. Quando conseguimos sair com 1 mil é um sucesso!”

Gustavo Luz acredita que para as editoras potiguares terem condições de crescer o apoio público “é um dos caminhos, que, inclusive, possibilita envolver as escolas. É uma linha de trabalho e temos que saber entrar em todos os mercados”, destacou o editor, que diante da possibilidade de profissionalização do mercado local diz que se sente como se estivesse “começando agora”.

Entre os quase 500 títulos do catálogo da Queima Bucha, cerca de 300 são de folhetos de cordel. A editora mossoroense também publica com frequencia teses de Doutorado e livros de contos . Um bom exemplo de como o mercado se movimenta é o caso do cordelista mossoroense Antônio Francisco. Ocupante, desde 2006, da cadeira número 15 na Academia Brasileira de Literatura de Cordel, cujo patrono é o saudoso poeta cearense Patativa do Assaré, Francisco começou publicando seus folhetos na Queima Bucha até migrar para uma editora maior que propiciou ao poeta viver de sua escrita. “Não temos como segurar talentos como ele com o mercado que temos”.

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