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“Queremos concluir adutora do Alto Oeste em seis meses”

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Marcelo Lima
Repórter   

Quarto ano seguido de seca e uma perspectiva de mais um consecutivo de estiagem sem trégua no semiárido potiguar.  Enquanto obras estruturantes não ficam prontas, o governo vai adotar medidas já quase tão antigas quanto o fenômeno climático para amenizar a escassez de água para o consumo humano: distribuição de cisternas, perfuração de poços e  carros-pipa. Soma-se a isso uma crise financeira e ajustes do governo Federal, de onde Estado poderia conquistar mais recursos. Em entrevista à TRIBUNA DO NORTE  o secretário de Meio Ambiente e Recursos Hídricos, Mairton França, falou também sobre a delicada gestão da água que vem da Paraíba pelo rio Açu/Piranhas,
Secretário detalha perspectivas para o quinto ano consecutivo de seca e confessa que ajuda federal ainda não é o suficiente
O período que normalmente é a  estação chuvosa no interior já está se encerrando e as previsões de chuvas abaixo do normal tem se confirmado. Muito provavelmente vamos passar por um longo período de falta de chuvas – no mínimo até a próxima estação chuvosa. O que vai ser feito de forma emergencial nesse resto de 2015, quarto ano de seca consecutivo no Rio Grande do Norte?

E se tudo se confirmar a gente vai entrar no quinto ano. Não é para assustar ninguém não, porque de fato hoje nós temos muitos instrumentos de gestão de recursos hídricos que não tínhamos na última seca de cinco anos seguidos, que foi de 1973 a 1974. Dessa vez nós temos até uma situação bastante atípica: nós estamos com quatro anos de seca e falta água em poucos locais. Não há nada pra se assombrar nem gerar um pânico. De qualquer maneira, a situação não é nada fácil, é bastante crítica. Tende-se agravar um pouco ainda  caso a chuva não venha. Estamos numa conjunção negativa de fatores: nós temos uma crise fiscal, uma crise financeira e uma crise hídrica. O que nós estamos fazendo basicamente é o que é de sempre. Em fevereiro, começamos nossas idas à Brasília principalmente no Ministério da Integração. Na semana passada, quando o Ministro esteve em Natal, conseguimos aportar  R$ 3,4 milhões para que ela se estenda também as zonas urbanas, não é exatamente aquilo que nós precisamos.

Esse dinheiro vai ser investido por quanto tempo?

Não é nem investimento, é um gasto mesmo, porque quase não tem retorno. O retorno que nós temos é só um alento para essa população. Não sei quando começa essa fase nas zonas urbanas, mas a operação carro-pipa no Rio Grande do Norte não parou. Nós temos 116 municípios que são atendidos com a operação carros-pipa apenas em zonas rurais. O ministro deverá anunciar o dia que começará atender as zonas urbanas.

É a Semarh que faz a sugestão dos município que serão atendidos nas zonas urbanas?

Isso já foi feito. Nós temos hoje 23 municípios que estão em situação crítica de abastecimento hídrico no Estado. Desses, 11 em colapso. Claro que outros vão entrar na medida que a situação se agrave e também na medida da possibilidade.

O Ministério da Integração destina quanto em dinheiro para zonas rurais no RN?

Não sei dizer, o Estado só acompanha sabendo quais municípios são beneficiados. É uma operação totalmente federal.

Tem em alguma parte de municípios que o governo do Estado entra nessa operação?

Em alguns municípios, um ou outro, a Caern apoia por meio de carro-pipa de vez em quando.

O senhor sabe dizer quanto é gasto?

Não, mas não é barato. E cada dia que sem chuva que passamos vai ficando mais caro, porque vai ficando mais longo o ponto de captação de água. Alguns reservatório começam a secar e precisamos ir mais longe para pegar a água.

Qual é a situação da perfuração de poços no Estado?

Nós temos sete máquinas perfuratrizes. Dessas, duas estão paradas e também falta pessoal. A gente já está trabalhando nisso e muito em breve vamos estar colocando essas máquinas em funcionamento. As cinco máquinas já perfuraram mais de 124 poços de fevereiro para cá. Infelizmente, a gente teve uma perda de quase 44%, no sentido que a gente fura o poço e não encontra água.

Mas são feitos estudos prévios?

São feito estudos geológicos. Nós temos geólogos que fazem a locação de poços. Mesmo com esses estudos, a gente tem o rebaixamento do lençol freático em função de quatro anos de seca. Acaba acontecendo que estamos piorando um pouco os nossos resultados. Mas tem muitos gerando água e agora estamos priorizando a zona urbana das cidades.

Mas existe alguma técnica ou equipamento que pudesse aperfeiçoar essa prospecção de poços aqui no RN?

Os equipamentos eles ajudam. Os sonares são muito caros, mas não dão precisão. Muitas vezes, o próprio local ajuda mais que o equipamento. Os geólogos da Semarh com a experiência que eles têm conseguem identificar os melhores locais. Posso garantir que, em termos de método, ele é bastante adequado.

Quando a atual gestão assumiu, um levantamento de uma geóloga da Semarh mostrou que havia cerca de 1.700 poços perfurados e não instalados pelas prefeituras ou as associações rurais que os pediam. Ou seja, não estavam funcionando. Como está essa situação agora?

O acordo é que o parceiro que solicitou deveria fazer a instalação com uma bomba ou com cata-vento. O que aconteceu foi que muitos poços foram perfurados e não instalados, porque tinham a expectativa de, num segundo momento, entrar com um pleito solicitando a instalação. Na medida que a gente foi avançando no estudo desses poços nessa gestão, a gente descobriu que boa parte deles não existe mais, ou que eles foram instalados, ou que ainda estão lá para serem instalados. A gente ainda não concluiu os estudos, mas achamos que vamos chegar entre 400 a 500 poços para serem instalados. Estamos com a perspectiva de instalar 46 poços até setembro. As prioridades são os 23 municípios em Estado crítico.

Quanto é o valor médio para a instalação?

R$ 24 mil com bomba ou catavento. É quase o mesmo preço.

Existe alguma forma para que esses parceiros cumpram a instalação dos poços?

Só se a gente fechasse contrato com eles, mas é complicado. Em pouco meses a gente fez 124 poços. Com a Prefeitura de Assu, a gente fechou um termo de cooperação e estamos tentando colocar isso como um modelo.

Quais as providências tomadas para voltar a usar as duas máquinas paradas e contratar gente para operá-las?

A gente está providenciando a contratação dessas pessoas e tão logo a gente vão colocar em ação.  A gente está vendo de onde vai vir os recursos. Então, o Gabinete de Gestão Integrada de Recursos Hídricos vai discutir isso também. Vou colocar como ponto na próxima reunião.

Tem outras medidas emergenciais até o final de 2015?

A Caern tem comprado cisternas e comprado e distribuído em municípios em colapso ou em risco de colapso. São entregues às prefeituras e a prefeitura identifica   os locais mais adequados para serem implantadas e os carros-pipa colocam água nesses.

Quanto é investido nessa iniciativa?

Quanto é investido não sei, mas já foram entregues 42 cisternas muito grandes. Agora não lembro qual a capacidade delas.

Quais obras de infraestrutura que podem dar resposta mais rápida?

A adutora de Parelhas até Carnaúba dos Dantas, que o ministro da Integração Nacional acenou com o apoio de R$ 1,07 milhão. Nós temos o sistema adutor do Alto Oeste, que é bem maior,  mais de 200 km, 200 mil pessoas atendidas em 26 cidades. Esse pretendemos concluir em seis meses a partir do momento que o repasse financeiro chegar. São R$ 9 milhões no total.

Tem uma previsão de quando esse recurso chega?

Está dependendo de um dado técnico para ser repassado ou ministério da Integração. A partir disso, eles estão sinalizando enviar R$ 3,5 milhão para iniciar a obra. Além disso, o ministro assinou um termo de compromisso com o governo do Estado assegurando repasses de até R$ 200 milhões em várias obras e projetos até o final de 2015.

Como está a situação da seca no Seridó?

Está sendo feita a ampliação da captação de água de Armando Ribeiro Gonçalves para atender a adutora de Serra de Santana. Aí a gente pode criar um ponto de captação em Florânia para carros-pipa atenderem Acari, Currais Novos e toda a região. A adutora de engate rápido que vem de Armando Ribeiro Gonçalves e vai até Acari e vai servir Currais Novos também está sendo feita pelo Dnocs [Departamento Nacional de Obras Contra Seca]. O recurso do Dnocs também depende desses R$ 200 milhões.

A Paraíba tem deixado a vazão do Rio Piranhas/Açu  no nível recomendado pela Agência Nacional de Águas?

Sim, continua com 3 mil metros cúbicos por segundo. Houve uma matéria da TRIBUNA DO NORTE que teria subido para 3.4 mil metros por segundo. Mas nunca subiu. Outra questão é que não há disputa entre o Rio Grande do Norte e Paraíba. Ao contrário, estamos trabalhando numa perspectiva de solidariedade  e diálogo. Compreendemos também que é muito mais gente envolvida na Paraíba que no Rio Grande do Norte. Acontece o que sempre acontece em qualquer sistema de gestão, os técnicos têm opiniões contrárias, uns querem que abram mais ou abram menos. Há uma posição de deputados na Paraíba que Coremas deveria estar completamente fechado. Mas não há disputa entre os dois Estados. Se vai haver no futuro ninguém sabe.

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