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Rascunhos para um mundo melhor

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Maria Betânia Monteiro – repórter

A midiatização do sofrimento, a globalização da indiferença, a tecnicidade das relações já estão integradas ao cotidiano das pessoas, que sequer percebem seus próprios contextos. Aqui e acolá, algum representante desta espécie humana, emerge para declarar o seu amor ao mundo, e repudiar o que, em palavras simples, não presta. Mas quem quer ouvir e ler o que ele ou ela tem a dizer? Para os interessados, a jornalista, escritora, poeta e membro da Academia Feminina de Letras do Rio Grande do Norte, Yasmine Lemos dedica o livro “Rascunhos”.

A poeta e jornalista Yasmine Lemos declara seus sentimentos de mundo em novo livro Rascunhos, cujo lançamento é hoje, no Espaço Cultural Buraco da Catita“Eu sinto muito”, disse ela, usando poucas palavras para antecipar o conteúdo do livro, que será lançado hoje, no Espaço Cultural Buraco da Catita, às 19h.

 Sentir muito não é se lamentar daquilo que não tem mais jeito. Para a autora, é antes de tudo ser tocada profundamente pela realidade circundante. Não necessariamente pelas coisas ruins, também as coisas boas. Não só pelas injustiças, busca desmedida por dinheiro, abandono; também pelo nascimento de um filho e demais dádivas da natureza. Como a autora revela, compartilhar com o leitor as suas palavras é a única forma de estar mais próxima de seu objetivo: “quero fazer com que as pessoas não tenham medo de sentir”.

Dispensado apresentação e prefácio, Yasmine Lemos fala quem é nas orelhas do livro.  Lá ela diz que não escreve para uma plateia forçada a lhe entender. Escreve em primeira mão, para ela. “Não sei se isso é escrever, se dessa forma sou contraditória, pois preciso registrar o que sinto, assim a leitura já não me pertence”, disse. Para Yasmine, o exercício das letras não tem amizade com a vaidade e sim com o descanso da alma. “A poesia para mim é um bálsamo. Neste momento de escrita eu sou poupada. Eu me desligo. Desabafo e sonho”.

Desabafa a perda do pai, o jornalista Rubens Lemos, que foi um dos editores desta TRIBUNA. No poema ela diz: “Chuva molha as dores/ Chove meu sorriso/ Limpo o rosto/ E enxugo o tempo/ Ele zomba/ E não passa/ E a nuvem cinzenta/ Recolhe o choro/ E derrama você por mim”. Ao passar as páginas do livro, o leitor vai se deparar com palavras como “saudade”, algo que a autora faz questão de explicar: “sinto uma saudade grande do meu pai. O sentimento acabou se tornando meu companheiro, precisei até personificá-lo para lidar melhor com ele”. 

Pois esta mulher egoísta, que chega provocando melancolia, querendo lágrimas sem dor, maltratando por simples prazer, a “Saudade”, é apresentada para o leitor, no poema Visita.

Além de falar do pai e da saudade, Yasmine coloca em “Guarda-roupa”, o seu sofrimento: “Ninguém escolhe a dor, nem a cor da roupa do dia que antecedeu o choro ou o riso. Como abrir um guarda-roupa antigo. As roupas me olhando me vestem de panos, o corpo obedece. Observando o espelho, minha alma nua e leve, alguns remendos transformados numa colcha de vários sonhos retalhados, alinhavados e a felicidade sempre insistindo em decorar meu espírito”.

Como escrito há pouco, a felicidade insiste em decorar o espírito de Yasmine. E tão grande é o esforço da felicidade, que para ela, a autora reservou um mundo à parte, intitulado “Lá”. “Quando sonho/ Não aceito versões infelizes/ Não quero cenas tristes/ Lá o mundo é meu/ Mudo o tempo/ Transformo não em sim/ Choro em riso e você para sempre comigo”, escreve. Neste mundo também cabe os versos dedicados ao filho Rubens Neto, intitulado “Dona”: “(…)Tentei fazer um poema que merecesse aplauso/ não consegui/ o que sinto é tão simples e puro/ não sou poeta, sou a dona da poesia/ que saiu de mim/ e hoje em minhas mãos/ completa, olha para mim/ sorri e chora/ me abraça e dorme/ descobri/ tentei fazer um poema/ e consegui”.

Levada pelo sentimento Yasmine vai percorrendo as páginas de seu livro, livremente. Sem versos premeditados, sem rimas forçadas, sem melodia antecipada. Mas sem saber (ou talvez sabendo), as palavras desenham o seu corpo de pensamentos.

Para compor “Rascunhos”, Yasmine transcreveu 101 textos, dos 250 poemas, frases e pequenos ensaios guardados em seus cadernos, verdadeiros companheiros do dia a dia.

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