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Reformas em hospitais se arrastam

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Roberto Lucena – Repórter

As latas de tinta ainda estão espalhadas pelo chão. Peças de ferro escoradas na parede aguardam seu destino final.  Pedaços de madeiras ocupam os espaços onde deveriam existir portas. Enquanto isso, pacientes agonizam à espera de atendimento na recepção. A cena se repete todos os dias no Hospital Santa Catarina, zona Norte de Natal, onde uma reforma se arrasta há quase cinco ano. Mas o problema não acontece somente lá. No hospital Giselda Trigueiro e Alfredo Mesquita, em Macaíba, também há exemplos de obras intermináveis que irritam e prejudicam a população.

A situação mais grave é a registrada no segundo maior hospital de urgência e emergência da capital. O Hospital Geral Dr. José Pedro Bezerra (HJPB), mais conhecido como Hospital Santa Catarina, está, atualmente, na sua quarta etapa da reforma. Ontem à tarde, a TRIBUNA DO NORTE esteve no local e constatou que as obras seguem em ritmo lento. Iniciada em 2007, a intervenção na unidade não tem data para ser concluída. Em outubro do ano passado, o Governo do Estado prometeu que o hospital estaria pronto dois meses depois. O prazo não fui cumprido.

Funcionários da construtora Gascon, responsável pela obra, informaram que falta pouco para concluí-la. “Estamos fazendo a parte elétrica, colocando portas e fazendo a pintura geral”, disse um dos trabalhadores que preferiu não se identificar. A reportagem não teve acesso ao prédio, mas, do lado de fora, é possível perceber que há muito trabalho pela frente. Além da obra em si, é preciso comprar equipamentos. Na área em reforma, funcionará toda a parte do Pronto-Socorro Adulto (PSA), que inclui o acolhimento, a assistência (áreas amarelas, verde e azul) e a reanimação. Nesse local, também funcionarão as salas de descanso médico, enfermagem e farmácia.  Atualmente, o hospital tem 227 leitos em atividade e atende em média 300 pessoa/dia.

Ontem à tarde, nenhum diretor estava na unidade para falar com a equipe de reportagem. Sabe-se, no entanto, que devido à demora na entrega da quarta etapa da reforma, o hospital já foi obrigado a desativar duas enfermarias da Cirurgia. Dos 26 leitos, apenas 13 estão ativados. Nas alas desativadas foram instaladas a pequena cirurgia e o repouso médico. Além disso, existem dificuldades na Radiologia. O setor foi desativado e aguarda a conclusão da reforma para voltar a funcionar.

Os pacientes que procuram a unidade que é referência em infectologia no Rio Grande do Norte também sofrem com a demora na conclusão de uma obra. Há dois anos, uma reforma em um dos setores no Hospital Giselda Trigueiro gerou boa expectativa nos usuários e servidores. A instalação de um elevador representava conforto para todos. “Mas a obra está parada e o jeito é esperar”, disse a diretora geral do Giselda, Milena Martins. A unidade é responsável por cerca de 90% dos atendimentos aos pacientes com HIV/AIDS no Estado.

De acordo com Milena, a última paralisação aconteceu devido à falta de um engenheiro elétrico que fizesse o projeto para instalação do elevador. “Arrumaram esse profissional e disseram que iriam apresentar o projeto em dezembro passado. Ainda estamos esperando”, informou Milena. A obra é no prédio do Serviço de Atendimento Especializado (SAE) e Hospital Dia do Departamento de HIV/AIDS. Por conta da intervenção, parte do serviço foi transferido para o ambulatório principal. “Por conta disso, o atendimento fica prejudicado. Os pacientes se aglomeram num mesmo espaço”,  disse a diretora.

No município de Macaíba, a população quase não tem opção de atendimento médico público. O  Hospital Regional Alfredo Mesquita está interditado desde agosto do ano passado. Para voltar com o atendimento, a secretaria de Estado da Saúde Pública (Sesap) fez algumas reformas e, segundo o titular da Sesap, Domício Arruda, o hospital será reaberto essa semana. “Até quarta-feira será reaberto”, disse. No local, funciona uma Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) que é de responsabilidade da Prefeitura de Macaíba. Ontem à tarde, várias pessoas aguardavam atendimento e reclamavam por causa da interdição do hospital. “Não é possível uma coisa dessas. A população é quem sofre com isso”, disse a dona-de-casa Maria Cristina Almeida.

Uma ampla reforma na unidade já foi anunciada, porém, a secretaria de Estado da Infra-estrutura (SIN) não tem previsão para lançamento do edital de licitação para as obras. A melhoria será financiada com recursos do Governo Federal, da ordem de R$ 600 mil, e do Governo do Estado, R$ 520 mil. Kátia Maria Cardoso Pinto, titular da SIN, não atendeu aos telefonemas da reportagem para falar sobre o assunto.

População reclama do atendimento precário

Enquanto as reformas não ficam prontas, a população que depende do atendimento na rede pública hospitalar do Rio Grande do Norte sofre com os problemas de falta de estrutura. Na tarde de ontem, dezenas de pessoas ocupavam a recepção da UPA de Macaíba. A unidade funciona em parte do prédio do Hospital Regional Alfredo Mesquita, interditado pelo Cremern desde agosto passado. No Santa Catarina, a espera pelo atendimento poderia ser reduzida caso a reforma estivesse concluída. No Giselda Trigueiro, além do problema estrutural, falta medicação.

A revendedora Tatiana de Araújo era uma das pessoas que estavam na UPA de Macaíba. Ela contou que chegou ao local às 9h com o  irmão, Gilberto de Araújo. “O médico que atendeu disse que ele teve um AVC [Acidente Vascular Cerebral] e precisava mandar para o Walfredo Gurgel. Chamaram o Samu [Serviço de Atendimento Móvel de Urgência] mas até agora não apareceram”, disse. O relógio marcava 16h50 quando Tatiana relatou seu problema. “Se o hospital estivesse funcionando, ele já estaria sendo atendido. É um absurdo uma coisa dessa. Pior que a gente não pode fazer nada”, completou.

No Hospital Giselda Trigueiro, os problemas não se resumem à obra paralisada em um dos seus setores. O complexo enfrenta uma séria crise de desabastecimento dos medicamentos ministrados no controle das infecções oportunistas que acometem os soropositivos. Cerca de 80 drogas diferentes são utilizadas pelos médicos para impedir que os pacientes contraiam enfermidades como a gripe, por exemplo. Sem a medicação adequada, uma simples gripe pode se transformar numa pneumonia e levar o paciente à morte. Segundo uma enfermeira que não quis de identificar, não há um controle no abastecimento. “Os remédios que vêm do Governo Federal nunca faltam, porém, os outros medicamentos é diferente. Sempre falta”, disse.

O secretário estadual de Saúde, Domício Arruda, informou que não tem conhecimento sobre quando as obras nas três unidades serão concluídas. “Esse é um problema da SIN. A gente nem fiscaliza”, disse.

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